Bombeiros Voluntários de Garibaldi pedem socorro

Não importa sua idade, onde você mora ou o estilo de vida que leva. Ninguém está livre de um dia precisar dos Bombeiros, da Brigada Militar ou do Samu, por exemplo. Se você circula pela região, as chances são ainda maiores, especialmente no trânsito. E é justamente essa necessidade, que não escolhe sexo, raça ou classe social, que reforça uma preocupação latente: os Bombeiros Voluntários de Garibaldi, uma das principais referências em caso de emergência, está enfrentando sérias dificuldades, às vésperas de completar 40 anos de atuação – para se ter uma ideia, foram 1.305 atendimentos somente neste ano.

O déficit é de cerca de R$ 8 mil por mês: são R$ 32 mil de despesas fixas e apenas R$ 24 mil de receitas. Para suprir esse saldo negativo, a corporação vem utilizando verbas que estavam em uma conta cujo saldo, no início do ano, era de R$ 48 mil e hoje está zerada. “A ideia era reservar esse montante para investimentos de maior vulto, na compra ou modernização de equipamentos, inclusive na construção da nova sede, mas acabamos tendo que usar para cobrir despesas operacionais. Ainda não encerramos as atividades porque a prefeitura de Garibaldi é nossa grande parceira e, além de repasse mensal de valores, cede funcionários e material de farmácia e limpeza. Mesmo assim, precisamos muito de ajuda para continuar salvando vidas”, diz o presidente da corporação, Daniel Pradella. 

 


Foto: Greice Scotton Locatelli

Hoje os Bombeiros contam com 32 voluntários, que exercem a atividade de forma paralela às próprias profissões e atuam à noite e aos finais de semana, com 7 funcionários pagos (necessários para que seja possível manter atendimento 24 horas, 7 dias por semana) e 8 colaboradores cedidos pela prefeitura. “Com isso, conseguimos manter um plantão mínimo com 2 condutores e 1 bombeiro”, diz o comandante, Ridan Coser Villa. A estrutura inclui 8 viaturas, sendo 4 de combate a incêndio, 3 unidades de resgate e 1 de busca e salvamento.

Indefinições complicam

A crise financeira vivida pela corporação é a pior da história e é agravada pelas indefinições que envolvem o governo do Estado, especialmente a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), que detém a concessão de parte da RSC-453, entre Garibaldi e o Vale do Taquari, onde os Bombeiros atuam.  Mensalmente, a EGR repassava R$ 15 mil aos Bombeiros Voluntários. “O último convênio levou 10 meses para ser assinado. Isso que ainda não havia essa indefinição quanto à manutenção ou extinção da EGR. Como o governo estuda conceder estradas para a iniciativa privada, isso gera uma apreensão e fica tudo em suspenso aguardando essa decisão”, comenta o presidente. 

Hoje os bombeiros realizam resgates, combate a incêndio e atendimento clínico (junto com o Samu) em Garibaldi, Coronel Pilar e Boa Vista do Sul, além de prestarem apoio em ocorrências de maior vulto a outras corporações da região. “A situação de Boa Vista do Sul também é outro agravante da nossa crise. Desde setembro de 2017, quando o último convênio com a prefeitura foi encerrado, estamos atendendo o município gratuitamente e isso gera um alto custo, especialmente em razão da distância (cerca de 25km) e do volume de ocorrências de incêndio em aviários no interior. Tentamos de várias maneiras manter nossa atuação pensando no bem-estar da população, mas é um custo que já não conseguimos mais cobrir e, se não houver sinalização de um novo contrato logo, teremos que deixar a cidade sem atendimento”, alerta o presidente.

Manutenção precária

As despesas não param de surgir. Os prejuízos mais recentes foram com a troca de uma bomba de incêndio, que custou R$ 5,8 mil, e a substituição do sistema de injeção eletrônica de uma das ambulâncias (R$ 7 mil). Houve ainda a necessidade de trocar a bateria de um desfibrilador e das pás de outro, mas como não houve condições, o jeito foi improvisar: uma das três unidades de resgate precisou ficar sem o equipamento, imprescindível para salvar vidas em casos de parada cardiorrespiratória. Há ainda outro problema envolvendo o compressor que recarrega os cilindros dos Equipamentos de Proteção Respiratória (EPR), outro item indispensável. “Estamos contando com ajuda dos bombeiros voluntários de Carlos Barbosa nessa recarga, porque o custo de um compressor novo é de R$ 15 mil e as peças para conserto precisam ser importadas da Itália”, explica o comandante.

“A comunidade sempre nos ajudou muito, por isso fazemos questão de ser transparentes em relação a tudo que é gasto ou investido. É gratificante, mesmo vivendo uma situação financeira tão complicada, continuarmos contando com essa ajuda e percebendo a preocupação da comunidade e a mobilização de entidades. Sabemos que não estamos sozinhos e isso é um alento”, agradece o comandante Ridan.


Nova sede

As dificuldades financeiras adiaram por tempo indeterminado a construção de uma nova sede, o que permitiria reduzir os gastos mensais em R$ 5 mil – é esse o valor do aluguel do espaço, no centro da cidade. O novo terreno, de 2.900m², localizado no bairro Peterlongo, foi repassado ainda em 2015. Entretanto, alguns entraves técnicos complicam: além do valor do projeto, de R$ 1,5 milhão, a obra demandaria investimento extra na implosão de rochas, terraplanagem e construção de contenção, já que o terreno é íngreme e a encosta tem cerca de oito metros de altura. “Hoje, infelizmente, as condições financeiras mal permitem a manutenção do básico, quem dirá um respaldo financeiro para investimentos de maior vulto. Isso que o projeto inicial era bem mais caro, fomos enxugando tudo que dava, mas mesmo assim construir o pavilhão, cobertura, alojamentos e todos os acabamentos custa caro”, ressalta o presidente. Para a obra, os Bombeiros contam com R$ 250 mil repassados através de emenda parlamentar do deputado federal Covatti Filho e R$ 100 mil obtidos a partir da realização de eventos beneficentes. “É um começo, mas todo esse valor seria necessário só para o muro de contenção e para o nivelamento do terreno”, diz o presidente.


Você pode ajudar

A Liga Jovem de Garibaldi, núcleo vinculado à Liga Feminina de Combate ao Câncer, foi a entidade que iniciou a mobilização mais recente em prol da corporação. Entretanto, várias outras frentes estão sendo desenvolvidas, com parceria do CIC, Apeme, Rotary, Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Garibaldi, Hospital Beneficente São Pedro e Sicredi, além de empresas privadas. São três formas de ajudar: 

 


 

– Através de transferência ou depósito direto na conta aberta para a corporação pelo Sicredi (agência 0167, conta 10482-8). 

– Por  meio da conta de energia elétrica: o titular preenche um formulário autorizando o repasse de um valor mensal (entre R$ 2 e R$ 50) e a RGE faz o pagamento automático à corporação. O formulário pode ser preenchido na corporação, basta apresentar a conta de energia e um documento de identificação. As voluntárias da Liga Jovem também realizam mutirão pela cidade em busca de assinaturas para a contribuição espontânea. O processo é transparente, intermediado pela Associação dos Bombeiros Voluntários do Rio Grande do Sul (Voluntersul) e os repasses podem ser interrompidos sem complicações assim que for do interesse do titular. Essa modalidade de arrecadação já existe na cidade desde 2013 e a ideia agora é ampliá-la.

– Doação de garrafas pet e tampinhas plásticas, que posteriormente são comercializadas para empresas recicladoras e revertidas em renda. A entrega pode ser feita na corporação dos Bombeiros.

Instituições, empresas ou comunidade em geral que tenham o interesse em ajudar ou saber mais informações, podem entrar em contato com os Bombeiros, pelo telefone (54) 3462 1262.