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Brinquedo de menino ou de menina?

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As preferências do filho em relação às brincadeiras nem sempre são compreendidas e respeitadas pelos pais. Quando meninas preferem brincadeiras masculinas e meninos gostam mais de bonecas do que de carrinhos, surgem as dúvidas.

Para pais e mães mais ‘desencanados’, este comportamento é natural. Muitos inclusive conhecem alguém ou lembram de si como uma criança que gostava de brincadeiras atribuídas tipicamente ao sexo oposto. Outros, porém, demonstram preocupação: será que este comportamento interpretado por eles como anormal pode determinar, por exemplo, a orientação sexual no futuro? Para responder a estas dúvidas, comuns tanto a pais de primeira viagem quanto aos mais experientes, o SERRANOSSA procurou a psicóloga infantil Mônica Vagliati, de Bento Gonçalves.

SERRANOSSA: Meninos brincando de boneca e casinha e meninas apaixonadas por futebol e bicicleta. Normal ou preocupante?

Mônica Vagliati: Não há motivo para desespero. Diferenças físicas, genéticas, hormonais, de interesse, de amadurecimento… Poderíamos enumerar milhares de diferenças entre meninos e meninas. Muito se discute qual a carga genética e qual a participação do meio ambiente no comportamento das crianças. Em um primeiro momento não há porque se desesperar quando o menino ou menina opta por brincadeiras normalmente preferidas pelo sexo oposto. Uma conclusão à priori só vem reforçar um raciocínio preconceituoso que imagina erroneamente que irá afetar a sua sexualidade na idade adulta.

SERRANOSSA: Em que idade a criança começa a perceber a sexualidade?

Mônica: Por volta dos três anos, geralmente livres das fraldas, os pequenos começam a ter curiosidade pelos seus órgãos e a tocá-los, percebendo que isso dá prazer. Então começam a perceber as diferenças entre meninos e meninas. Pais e educadores devem estar atentos se essas situações não estão se tornando recorrentes ou compulsivas. Por volta dos cinco anos aparece a curiosidade em explorar o corpo dos amigos. Ela está descobrindo o seu próprio corpo e o dos outros. Mais uma vez é importante perceber qual a conotação, afinal, crianças não têm uma visão erótica dessas manifestações. Essa ideia está no pensamento já estereotipado do adulto. Até o final da fase pré-escolar (por volta dos seis anos) ainda não se pode afirmar que a criança tem sua opção sexual definida. O fato de mostrar um interesse maior por algo tipicamente do outro sexo pode significar que, pela falta de um modelo frequente do mesmo sexo que ela, simplesmente não sabe o que um menino ou menina da idade dela faz, de que tipo de brincadeiras gosta ou como se comporta. Não que com isso queira traçar um padrão, já que sabemos que ele não existe. A maior parte desses comportamentos acontece porque a criança não convive com o modelo do mesmo gênero. Essa identificação acontece quando a criança percebe-se pertencente a um sexo e não outro. O que ocorre normalmente no início da socialização e é reforçado primeiramente pelos pais e posteriormente escola e amigos.

SERRANOSSA: A sexualidade infantil deve ser interpretada da mesma forma que a sexualidade adulta? Como está a relação de pais e filhos neste contexto?

Mônica: A sexualidade infantil é diferente da sexualidade adulta, não contém os mesmos componentes e interesses. Perdeu-se hoje, de uma forma geral, a noção do que é pertinente à criança, não apenas em termos de sexualidade. Com frequência adultos se dirigem à criança como se estivessem se dirigindo a um adulto em miniatura. Não sabem como se aproximar delas, sobre o que falar e de que maneira. Ao ouvirem uma criança se referir a outra como sendo seu “namorado(a)”, por exemplo, entendem isto dentro do parâmetro de adulto, às vezes desesperando-se, às vezes estimulando. Poucos lidam com este dado na dimensão do contexto e por quem ele é apresentado.

SERRANOSSA: Falta de afetividade ou estímulo excessivo podem influenciar as preferências?

Mônica: Hoje, estamos presenciando uma confusão de papéis: família e escola têm trocado sistematicamente responsabilidades ora de um ora de outro. Ambas as instituições são primordiais na formação do indivíduo, mas lembremos que os valores familiares são essenciais na formação da criança e esses são passados em atitudes mais do que em discursos. Na formação da sexualidade não é diferente. A ligação afetiva da criança com seus pais começa no nascimento e evolui através da demonstração dessa afetividade com abraços, palavras doces, carinho, na hora do banho, da troca dentre inúmeros outros momentos de relacionamento muito próximo. A criança que por um ou outro motivo foi privada desse contato, seja com a figura masculina ou com a feminina, pode ter dificuldade de se relacionar no futuro além de poder desenvolver problemas também na definição de sua própria sexualidade. Biologicamente falando, meninos identificam-se com os pais e meninas com as mães. Na ausência constante de um deles é necessário que haja uma pessoa próxima e íntima que assuma esse papel de modelo de tipificação.

SERRANOSSA: E se a criança sofrer bullying na escola, como os pais podem agir?

Mônica: Nesse caso, é indicado realizar uma orientação psicológica para que os pais saibam como lidar com isso para depois ensinar os filhos a se tornarem resilientes nessa situação. Mas conversar com o filho e com a escola sobre isso é a melhor maneira de encontrar uma forma de conciliação.

SERRANOSSA: Como os professores podem lidar com o despertar da sexualidade cada vez mais precoce?

Mônica: Em relação aos comportamentos sexuais observados em sala de aula, como beijos, exploração do corpo do colega, jogos sexuais, o educador pode pautar-se sobre os mesmos princípios que usa para outros comportamentos inadequados em aula, ou seja, demonstrar que entende a curiosidade, mas que a escola é um lugar onde se deve respeitar a vontade dos outros e que estão lá para aprender e brincar, por exemplo. O educador não deve se omitir, ao contrário, deve orientar para brincadeiras e comportamentos adequados, mas sem passar valores morais reprovadores como se a curiosidade fosse algo negativo, feio ou pecaminoso. Alguns profissionais, na tentativa de serem modernos estimulam uma sexualidade precoce através de danças de músicas atuais erotizadas, namoro entre os alunos, identificação com modelos da mídia, etc. A sexualidade infantil é inerente a qualquer criança e sua demonstração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzi-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão e tendo sempre em mente uma autorreflexão sobre a sexualidade.

SERRANOSSA: Os pais devem ser alertados sobre algum comportamento considerado ‘anormal’?

Mônica: A necessidade de convocar os pais para conversar sobre a sexualidade do aluno deverá ser investigada caso a caso: qual o propósito desta convocação? O que vou contribuir? O que espero dos pais? Por que isto me incomoda? Há sincera preocupação ou pré-conceito disfarçado? Por que acredito que ser heterossexual é o correto, aceitável?

ALGUMA DICAS:

*Dormir na cama dos pais é absolutamente contraindicado; é necessário firmeza neste sentido. A cama dos pais pode ser o lugar perfeito para gostosas brincadeiras antes de dormir, ou ainda quando a família acorda pela manhã, mas não é recomendável que o filho tome o lugar de um dos pais ausente à cama, pois erotiza a criança de forma inadequada: elas fazem fantasias que não são benéficas ao desenvolvimento emocional. É preciso também dar a noção de privacidade aos filhos. Se a criança alegar medo, é preferível que um dos pais vá até a cama dela e a tranqüilize, voltando à sua cama em seguida.

*Sobre a nudez dos pais na frente da criança, o importante é buscar proceder da maneira mais espontânea possível, permitindo à criança a percepção das diferenças entre os sexos. É preciso usar o bom senso e a honestidade. A curiosidade diminuirá com o tempo, a partir dos seis ou sete anos a criança começará a ter pudor. O fundamental é ficar claro que a naturalidade permite uma visão saudável da sexualidade.

*A identificação sexual começa através da observação dos seis e sete anos. O pequeno começa a se espelhar na pessoa do mesmo sexo com o qual se identifica. Meninas observam a mãe e passam a copiar o jeito de andar, uso de roupas e etc. E os meninos os pais.

*Se o menino se encontrar imerso em um universo predominantemente feminino seu único espelho passa a ser a mãe, que jamais poderá substituir uma figura masculina. A ausência do pai, que surge não somente pelo divórcio, morte ou compromissos de trabalho, mas também pela personalidade da referência paterna, pode proporcionar uma identificação cada vez mais feminina.

*Muitos imaginam que a tarefa de passar horas com o filho jogando bola seria o ideal. Isto é errado. O pai deve levá-lo junto para comprar jornal, colocar gasolina no carro, trocar uma lâmpada, fazer barba, pedir ajuda para o filho na hora de consertar algo. Pequenas tarefas são igualmente observadas, nessa identificação o menino percebe que seu mundo é mais semelhante ao do pai e não se sente desconfortável em seu papel masculino. Na ausência da figura masculina é importante haver um substituto e com uma imagem positiva, como avô, tio, irmão, ou até pai de um colega da escola.

Greice Scotton 

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