Bullying: é preciso levar a sério

Ana (nome fictício) nunca pensou que as frequentes dores de cabeça das quais o filho se queixava recentemente estivessem associadas a um problema emocional causado por humilhações na escola. A mudança repentina de comportamento e a queda do rendimento tornaram-se motivo de preocupação de repente. “Nos últimos meses, havia percebido uma queda estranha nas notas. Em outubro, ele sentiu muita dor de cabeça e chegou a solicitar que o trocássemos de escola. Devido à gravidade e às queixas, acabou faltando algumas aulas. Descobri que ele vinha sofrendo perseguição e bullying quando fui até a casa de um colega apanhar um caderno emprestado e ele me contou que um garoto mais velho, colega de sala, estava fazendo isso”, conta Ana. O caso dela não é incomum, mas traz à tona mais uma vez uma questão fundamental na educação de crianças e adolescentes: a participação dos pais. É preciso saber o que acontece dentro da escola.

A descoberta fez com que Ana procurasse o Conselho Tutelar para saber que atitude poderia tomar quanto ao que vinha acontecendo. Ela foi orientada a conversar com a direção da escola em busca de uma solução. O filho chegou a ser encaminhado para atendimento psicológico por uma profissional ligada à rede municipal, mas, devido à demora, a mãe preferiu consultar um especialista da rede privada. “Fomos a três médicos diferentes, todos diagnosticaram dor de cabeça tensional provocada por forte estresse”, conta. Depois de procurar a escola e acreditar que a direção estava sendo omissa, Ana registrou um Boletim de Ocorrência (BO). Em 2013, trocará o filho de escola, para evitar que ele continue sendo humilhado.

Registro

Conforme o delegado Álvaro Pacheco Becker, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves (2ª DP), os pais devem sempre estar atentos e incentivar a criança ou adolescente a falar sobre o assunto, principalmente em casa. “O bullying inicia cedo e muitas vezes não se dá a necessária atenção ao caso por acreditar que são fatos da idade, coisa de criança. Mas esse problema, no futuro, pode fazer com que a vítima se torne agressiva ou mesmo autora de atos parecidos. Assim como o agressor pode se tornar um psicopata. A família deve estar atenta ao comportamento do filho e, em caso de suspeita procurar a professora e a direção da escola, além de realizar acompanhamento psicológico. A ajuda profissional deve ser dada tanto para a vítima quanto para o agressor”, enfatiza. Levantamentos apontam que os que agridem normalmente pertencem a famílias desestruturadas e têm exemplos de resolução de problemas de forma violenta, o que faz a criança acreditar que está agindo de forma natural. 

Apesar de a delegacia ser a última etapa da rede, as denúncias de bullying que envolvem menores de 14 anos são encaminhadas ao Conselho Tutelar e, posteriormente, ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Já em casos dos quais adolescentes fazem parte, a denúncia é encaminhada ao Ministério Público, onde serão apurados os fatos, sendo impostas medidas socioeducativas. Quando há adultos envolvidos, após concluído o inquérito o caso é encaminhado ao Poder Judiciário.

Ajuda da família

*Os pais devem estar alertas, pois tanto a vítima quanto o agressor necessitam de ajuda e apoio psicológico;

*É importante que o diálogo seja valorizado no ambiente familiar e que o filho seja incentivado a trazer o problema para casa;

*Durante as conversas, procure descrever o que é bullying aos seus filhos e explique como isso pode ser prejudicial, incentivando que caso seja vítima ou mesmo presenciem, denunciem;

*Fique atento às mudanças bruscas de comportamento e, caso seja confirmado o fato, procure ajuda na escola e de um profissional.

Como prevenir o problema no ambiente escolar

*Observe o comportamento dos alunos, dentro e fora de sala de aula, para perceber se há quedas bruscas individuais no rendimento escolar;

*Incentive a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças através de conversas, trabalhos didáticos e até de campanhas de incentivo à paz e à tolerância;

*Desenvolva em sala de aula um ambiente de comunicação entre os alunos;

*Procure a direção assim que um estudante denunciar estar sofrendo bullying;

*A responsabilidade também é da escola, mas a solução deve ser construída em conjunto com os pais dos alunos envolvidos;

*Os professores devem escutar atentamente as reclamações ou sugestões dos alunos, assim como estimulá-los a denunciar os casos.

Reportagem: Katiane Cardoso


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