Câncer de mama: neoplasia que mais mata mulheres

A primeira vítima do câncer de mama foi a alegria de viver. Com ela, foram-se os cabelos e as unhas, seguido do abalo no sistema imunológico. Enfraquecido, permitiu o surgimento de feridas na boca e sangramentos do nariz.  

A artesã Ilva Gava Benini, 59 anos, nunca imaginou que um nódulo descoberto no banho, do tamanho de um grão de arroz, pudesse afetar tanto sua vida. “Foi muito difícil. Meu marido e eu choramos muito. Parecia que eu havia recebido um convite de morte”, relembra, emocionada.

Mesmo após uma bateria de exames e mudança radical na rotina, Ilva precisou retirar a mama esquerda. “O tratamento parecia não acabar nunca. Fiquei desolada, mas nunca me revoltei, questionando o porquê, mesmo tendo sido uma pessoa que não bebia e fumava e que se alimentava corretamente. Só pedia forças para Deus para não desistir de lutar”, desabafa. Durante um ano, Ilva utilizou um expansor, uma espécie de mama inflável provisória. A reconstituição do seio foi feita posteriormente através do plano de saúde. Ainda foi necessária uma cirurgia plástica para igualar as mamas, procedimento não coberto pelo plano e pago integralmente pela paciente.

Hoje, Ilva está recuperada, porém o tratamento seguirá por mais três anos. “Para mim, cada dia é único e importante. Aprendi que trabalhar não significa enriquecer. Achava que sabia de tudo, mas ainda não apreendi nada da vida”, afirma.

No final de março, o Senado aprovou o projeto de lei que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a reconstituir no mesmo ato cirúrgico o seio de pacientes com câncer que precisam retirar a mama, o que faz com que muitas mulheres não precisem passar pelo mesmo drama de Ilva. A proposta aguarda sanção da presidente Dilma Rousseff. 

O novo projeto visa minimizar o tempo de espera nas filas do SUS. Segundo a relatora da proposta, a senadora Ana Amélia Lemos (PP), as grandes beneficiadas serão as mulheres carentes, que muitas vezes aguardam cerca de cinco anos pela cirurgia de reconstituição da mama. 


O que mais mata

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que cerca de 400 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de mama anualmente nas Américas, das quais, mais de 120 mil morrem. Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, as estimativas para 2013 apontam a ocorrência de aproximadamente 53 mil novos casos. No Rio Grande do Sul, são 80 confirmações a cada 100 mil mulheres. Das 4.610 novas ocorrências registradas em 2011, 24,8% levaram a paciente a óbito. Em 2010, o índice de letalidade chegou em 23,8%.

Em Bento Gonçalves

O câncer de mama lidera as neoplasias que mais têm vitimado mulheres residentes em Bento Gonçalves. De acordo com um levantamento realizado pelo Setor de Epidemiologia da secretaria municipal da Saúde, entre as décadas de 1990 e 2000, houve aumento de 65% na incidência de novos casos. 

O coeficiente médio de mortalidade no município é de 127,9 óbitos por 100 mil habitantes, contra 130,1 do Estado e 73,8 do Brasil. Em 2012, o coeficiente médio foi de 20,6 óbitos.  

Hoje, a rede pública de saúde local oferece 700 mamografias ao mês, 200 a mais que no ano passado. Por ser o munícipio referência na microrregião, são atendidos também pacientes de Carlos Barbosa, Coronel Pilar, Garibaldi, Monte Belo do Sul e Santa Tereza. Somente nos três primeiros meses de 2013 já foram realizadas 957 mamografias em mulheres residentes no município. Em todo o ano passado 2.695 pacientes procuraram o serviço.

Faixa de risco

O estudo comprova que a mortalidade cresce com o envelhecimento: 81% das mortes ocorrem em pessoas com idade a partir dos 50 anos. Em Bento Gonçalves, a população da terceira idade aumentou 82% entre 1980 a 2010, passando de 7% para 12,6% do total de habitantes. No Rio Grande do Sul, os idosos correspondiam a 7,4% da população no início da década de 80, passando para 13,6% em 2010. 

De acordo com o coordenador do Setor da Vigilância Epidemiológica, José Antônio da Rosa, o aumento da mortalidade por câncer de mama vem sendo observado em diversos países. “Parece estar relacionado a mudanças das variáveis reprodutivas, como a idade mais tardia da primeira gravidez, exposição ao fumo, o abandono da prática da amamentação, mudanças sociodemográficas, acessibilidade aos serviços de saúde (o que pode gerar um maior número de diagnósticos) e, possivelmente, ao aumento da obesidade. Alguns estudos têm evidenciado que o aumento da incidência do câncer de mama feminino pode estar associado ao uso de reposição hormonal com estrógeno e progesterona por mais de cinco anos”, revela. 

Prevençãoe detecção precoce

Mesmo que a hereditariedade seja responsável por apenas 10% do total de casos, mulheres com história familiar de câncer de mama apresentam maior risco de desenvolver a doença. Esse grupo deve ser acompanhado por médico a partir dos 35 anos. O profissional de saúde é quem irá decidir quais exames a paciente deverá fazer. Primeira menstruação precoce, menopausa tardia (após os 50 anos), primeira gravidez após os 30 anos e não ter tido filhos também constituem fatores de risco para o câncer de mama. Mulheres que se encaixem nesses perfis também devem buscar orientação médica. As formas mais eficazes para a detecção precoce do câncer de mama são o exame clínico, que pode ser realizado por um médico ou enfermeira treinados e detecta tumores superficiais de até um centímetro, e a mamografia, que permite o diagnóstico precoce do câncer, ao mostrar lesões em fase inicial, muito pequenas. Deve ser realizada a cada dois anos por mulheres entre 50 e 69 anos, ou segundo recomendação médica. Desde 2009, todas as mulheres têm direito à mamografia a partir dos 40 anos pelo SUS.

Entre os sintomas do câncer de mama estão: alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações, inclusive no mamilo, ou aspecto semelhante à casca de laranja. Secreção no mamilo também é um sinal de alerta. O sintoma do câncer palpável é o nódulo (caroço) no seio, acompanhado ou não de dor mamária. Podem também surgir nódulos palpáveis nas axilas.

Fonte: inca.gov.br

Ações promovidas pelo Imama

*Palestras e orientações sobre os cuidados com a saúde da mama

*Atendimento psicológico individual para pacientes e familiares

*Grupo de ajuda orientado por uma profissional da psicologia (quinzenalmente, na sede do Imama)

*Atendimento fisioterápico individual e para grupos

*Atendimento nutricional individual

*Assessoria jurídica

*Empréstimo de perucas, lenços e chapéus

*Empréstimo de livros através da Biblioteca das Vitoriosas

Brique beneficente do Imama

No dia 11 de maio, o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama) de Bento Gonçalves realiza um brique com produtos confeccionados pelas artesãs da entidade. O objetivo é arrecadar fundos para a manutenção das atividades e serviços oferecidos gratuitamente às pacientes com câncer e familiares. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (54) 3453 7546 ou através do e-mail bento@imama.org.br.

Reportagem: Priscila Boeira


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