A primeira prova presencial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 foi aplicada no domingo, 17/01, envolvendo as áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias e redação. Em diversos locais do Brasil, participantes relataram não terem conseguido realizar o exame por conta da falta de espaço nas salas de aula. Os relatos aconteceram em estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Bento Gonçalves, participantes relatam que pelo menos oito pessoas ficaram sem realizar a prova por conta da superlotação das salas. O Enem foi aplicado no Campus Universitário da Região dos Vinhedos da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
“Pelo que nos falaram, veio uma nova determinação à noite que eles teriam que aumentar a distância para 1,5 metros para cada aluno. E não tinha esse espaçamento. No meu bloco lotou e oito pessoas ficaram sem fazer a prova”, relata Arthur Raul Ferreira, de 16 anos. Alguns aplicadores relataram que os locais da realização das provas estavam organizados para trabalhar com 80% de ocupação. Entretanto, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, repassou no sábado à noite, 16/01, que a ocupação máxima seria de 50%. “Foi uma situação bem chata. Estava ansioso para fazer a prova, aí vou até lá, corro risco de pegar COVID e acabo não conseguindo fazer. Agora vou ter que enfrentar tudo isso mês que vem de novo”, desabafa.
João Gabriel Cunha, de 18 anos, também não conseguiu fazer o exame, mas por outro motivo. O nome dele não constava na lista de nenhum dos blocos. “Fui muito bem atendido lá. Uma mulher da coordenação nos ajudou muito, ficou tentando ligar para o Inep só que o atendimento deles era péssimo. Ela ficou cerca de 40 minutos numa chamada esperando para ser atendida”, conta. Ainda conforme o estudante, o problema aconteceu com outras três pessoas no bloco onde ele estava. “Eles tentaram achar meu CPF no sistema do Inep para ver onde que eu estava inscrito e não acharam nada, nem o do meu outro colega que estava com o mesmo problema que o meu. No final eles falaram que não tinham mais o que fazer e que era para a gente resolver com o Inep o problema”, continua.
Davi Salini, de 20 anos, conta que chegou 1h30 antes do início da prova, ao meio-dia. De acordo com o participante, sua sala apenas não ficou lotada por conta da ausência de pelo menos oito pessoas. “Tinham cadeiras que ficavam entre dois lugares para ninguém sentar e manter o distanciamento. Mas na hora de chamarem os nomes eu estranhei, porque todas as cadeiras estavam ocupadas e continuaram chamando gente. Ou seja, se todos tivessem comparecido, não haveria lugar para sentar”, relata. De acordo com Inep, 2.842.332 inscritos deixaram de comparecer no primeiro dia de provas – o que representa 51,5% do total de inscritos. Esse é o maior número de abstenções da história do Enem.
Os estudantes ainda citaram a falta do funcionamento de ventiladores para arejar as salas; a falta da cobrança pela troca da máscara durante a realização da prova e a aglomeração formada no final do exame, ao lado externo.
Marina Di Bernardo, Gabriela Demiquei e Gabriela Cantarelli durante o primeiro dia de prova do Enem 2020
“Quanto à prova, eu achei as questões muito extensas e mais complexas se comparadas as do ano passado, e olha que esse ano eu terminei o Ensino Médio. O que salvou foi o tema da redação, que era mais simples”, analisa a participante Marina Di Bernardo, de 18 anos.
A próxima prova será realizada no domingo, 24/01, englobando ciências da natureza e matemática. Além disso, haverá um novo cronograma de aplicação em fevereiro, para os candidatos que tiveram sintomas da COVID-19 ou outras doenças contagiosas e para aqueles que foram prejudicados pela superlotação ou demais erros logísticos no dia da prova.
Para tanto, os candidatos devem solicitar a reaplicação a partir da próxima segunda-feira, dia 25/01. O exame para essas pessoas ocorrerá nos dias 23 e 24 de fevereiro.
No Rio Grande do Sul, 127.566 inscritos não compareceram, o que representa 51,9% do total. Conforme o Inep, 2.957 pessoas foram eliminadas e apenas 69 teriam sido afetadas por ocorrências logísticas.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, discursou à imprensa e minimizou os problemas enfrentados pelos candidatos durante o primeiro dia de provas. "No meio de uma crise, mobilizar milhões de pessoas, para mim foi um sucesso", afirmou Milton Ribeiro.