Caso Eliana Boniatti completa um ano
Em 11 de fevereiro de 2012, a advogada Eliana Nunes Boniatti, então com 58 anos, perdeu a vida após ter sido atropelada quando atravessava a rua Herny Hugo Dreher, no bairro Planalto, para ir a um restaurante junto com quatro amigos. Passado um ano do acidente, o filho, Vinícius Boniatti, conta que ainda não consegue lidar bem com a perda precoce da mãe.
Vinícius estava em viagem pela Argentina, junto com a esposa e o filho, quando o acidente aconteceu. Eles comemoravam o aniversário dos três. “Um parente da minha esposa ligou informando que a minha mãe havia sofrido um acidente grave, dizendo que seria melhor eu retornar a Bento. Tentei ligar para vários dos meus parentes, mas nenhum atendia ao telefone. Foi então que consegui conversar com o meu tio, irmão da minha mãe. Ele atendeu ao telefone, chorando, e contou que minha mãe havia sido vítima de um atropelamento e não havia resistido. Embarquei no primeiro voo e consegui chegar à cidade por volta das 6h do dia seguinte”, relembra Vinícius, que tem uma irmã que reside atualmente em Porto Alegre.
Eliana era descrita pelos amigos e conhecidos como uma mulher alegre, sempre com um sorriso carinhoso no rosto e de “coração puro”. “Minha mãe era uma pessoa apaixonada pela vida, de coração justo, que gostava muito de música e poesia, que adorava comemorar o aniversário e amava os amigos. Por ter um coração tão puro, não via maldade em nada, o que muitas vezes acabava prejudicando-a”, descreve. Ele ainda conta que ela não guardava rancor de ninguém. “Gostava de aproveitar as coisas dela. Estava sempre de bem com a vida e enfrentava qualquer adversidade com dignidade. Tudo que fazia era de forma muito transparente”, conta.
A perda precoce e de forma tão trágica deixou Vinícius muito abalado, mas ele conta que foi necessário unir forças e levar adiante o trabalho que a mãe vinha desenvolvendo no escritório ao longo dos anos. Eles trabalhavam juntos. “Foi um ano muito difícil sem o acompanhamento diário, sem receber um abraço no dia do aniversário, sem ter com quem dividir, compartilhar, ouvir e receber conselhos. É muito triste. A companhia e a presença dela fazem muita falta tanto na vida pessoal quanto na profissional”, desabafa. “Tivemos que deixar a dor um pouco de lado e correr atrás para organizar tudo. Fomos todos pegos de surpresa. Obrigou-nos a tomar medidas imediatas para não prejudicar os clientes e agora quem responde pelo escritório é o meu pai”, explica Vinícius.
Eliana exerceu a profissão de advogada por 27 anos. Em seu currículo, passagens pela Defensoria Pública, como procuradora de empresas privadas e de alguns municípios da Serra e em seu escritório. Foi vendo a paixão da mãe pela profissão que Vinícius diz ter escolhido seguir a mesma carreira.
Reconhecimento
Desde a morte da mãe, Vinícius conta que costumeiramente é abordado pelas pessoas para demonstrar admiração. “Em muitos lugares, as pessoas me reconhecem e demonstram todo o carinho que sentiam pela minha mãe e a consideração que tinham por ela. Continuo colhendo os frutos que ela plantou”, emociona-se.
Na data do primeiro ano do falecimento, os familiares optaram por não realizar nenhum tipo de manifestação, mas segundo o jovem, não está descartada a hipótese de, no futuro, realizar algum tipo de trabalho visando à conscientização e à paz no trânsito.
Justiça
Vinícius acredita que a Polícia Civil e o Poder Judiciário trabalharam de forma competente para apurar os fatos e diz esperar que a Justiça seja feita. “Espero de coração que o Judiciário possa julgar o caso de maneira mais correta possível, apurando a realidade dos fatos. Se ele for considerado culpado, que sofra as sanções cabíveis”, finaliza.
Como aconteceu
Segundo o processo, no dia 11 de fevereiro do ano passado, por volta das 21h15, um grupo de cinco amigos atravessava a rua Herny Hugo Dreher, no bairro Planalto, quando foi atropelado por um automóvel Golf de cor prata. Após ter atingido três pessoas do grupo, o condutor fugiu em alta velocidade. O deslocamento do veículo foi flagrado pelas câmeras de videomonitoramento da cidade, mas em razão da pouca luminosidade não foi possível ver o rosto do condutor.
Eliana foi arremessada a mais de 15 metros de distância e, apesar de ter sido socorrida imediatamente e conduzida ao Hospital Tacchini, não resistiu aos ferimentos. Eduardo Humberto Jaconi, 64 anos, sofreu fraturas nas duas pernas (tíbia, fíbula e fêmur), três costelas, clavícula e no braço (rádio). Confira a reportagem completa abaixo. Houve ainda uma terceira vítima, que teve ferimentos de menor gravidade.
O acusado, Robson Poloni de Oliveira, apresentou-se à Polícia Civil somente 17 dias após o ocorrido. Em função de um mandado de prisão, ele foi conduzido ao Presídio Estadual de Bento Gonçalves, onde permaneceu recolhido até o dia 10 de abril, quando um habeas corpus o colocou em liberdade. Ele teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) recolhida, está proibido de dirigir veículo automotor e é obrigado a apresentar-se mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades.
O jovem está sendo acusado por homicídio com dolo eventual qualificado, já que ele assumiu o risco de produzir o resultado e impossibilitou a defesa da vítima, além de lesão corporal grave, lesão corporal leve, afastamento do local do atropelamento e omissão de socorro. Contra ele há ainda uma ação civil, movida por uma das vítimas, cobrando indenização pelos ferimentos que sofreu.
O réu foi ouvido no começo de outubro e negou estar dirigindo o automóvel no dia do ocorrido. Durante seu depoimento ao juiz titular da 2ª Vara Criminal, Rudolf Carlos Reitz, Oliveira afirmou que estava em sua moradia descansando e não havia saído de casa após ter chegado do trabalho, por volta das 13h daquele dia. Questionado sobre quem dirigia o veículo naquela noite, ele inicialmente afirmou não saber e depois, contrariando a própria versão, disse que não podia revelar a identidade do motorista. Ele ainda contou que ficou sabendo sobre o acidente somente após o veículo ter sido devolvido e que em nenhum momento verificou quais teriam sido os danos ou mesmo questionou o suposto condutor sobre o ocorrido. Em juízo, Poloni ainda alegou que prefere ser julgado pelos atos dos outros do que revelar quem estava conduzindo seu automóvel no dia do atropelamento. O depoimento foi acompanhado pelo advogado de defesa, Luiz Gustavo Puperi.
O processo está em fase de pronúncia, etapa na qual acusação e defesa determinam, com base nas provas, se o crime será ou não julgado por júri popular.
Doze fraturas, dez cirurgias e transtorno do estresse pós-traumático um ano depois
O arquiteto Eduardo Humberto Jaconi, de 64 anos, ainda se recupera dos ferimentos causados pelo atropelamento que vitimou uma de suas melhores amigas, a advogada Eliana Nunes Boniatti, no dia 11 de fevereiro do ano passado. Ao todo, ele sofreu 12 fraturas, que atingiram as pernas (ossos da tíbia, fíbula e fêmur), a clavícula, o braço direito (rádio) e as costelas do lado direito. Jaconi permaneceu internado no hospital por 60 dias, dos quais quatro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e mais 60 dias em casa, sem poder se mexer. Mesmo após dez cirurgias e mais de seis meses realizando sessões de fisioterapia, as muletas não puderam ser deixadas de lado e ele ainda não conseguiu voltar ao trabalho. As sequelas emocionais também são evidentes: o arquiteto ainda sofre de transtorno do estresse pós-traumático e síndrome do pânico, que o impedem até mesmo de atravessar a rua.
Jaconi diz que nunca esquecerá os momentos de terror que viveu naquela noite, que era para ser de diversão. “Éramos um grupo de cinco pessoas atravessando a rua. Olhamos para os dois lados e não vinha ninguém. Foi tudo muito rápido. Quando vimos, um automóvel em alta velocidade veio ao nosso encontro. Uma amiga conseguiu pular de volta para a calçada e não foi atingida diretamente pelo veículo, mas sofreu diversos ferimentos. Eu até pulei na hora, mas o carro me atingiu, me jogando contra uma caminhonete Ecosport que estava estacionada na rua. Depois, o veículo atingiu a Eliana, que estava um pouco à frente do grupo, e a arremessou a mais de 15 metros”, relembra. O arquiteto ainda conta que o impacto que sofreu foi tão grande que seu corpo amassou as duas portas do veículo no qual bateu. “Eu fiquei sabendo que a minha amiga havia morrido somente uma semana depois que estava internado no hospital”, conta.
Neste primeiro ano após o ocorrido, Jaconi conta que submeteu-se a diversas cirurgias e ainda sente bastante dor. O maior lamento, no entanto, é a sensação de injustiça. “Eu estou vivo e me recuperando. Ainda não sei quanto tempo irá levar para eu melhorar completamente, mas a nossa amiga (dele e da esposa) morreu. Que lei é essa que deixa uma pessoa que aleijou uma e tirou a vida de outra, livre, levando uma vida normal? É uma sensação muito grande de impotência e injustiça. Algo está errado. Quem mata um pássaro – não menosprezando os animais – é preso. Quem mata uma pessoa, não? Enquanto uma atitude não for tomada a impunidade continuará vigorando na sociedade”, desabafa o arquiteto, ainda bastante emocionado.
Neste momento, Jaconi espera que a Justiça sirva de exemplo. “Minha única vontade é que seja realizada justiça. Não com o intuito de vingança, mas não podemos admitir que uma pessoa mate outra, andando em alta velocidade e que não seja responsabilizada por isso. Se não, será muito fácil atropelar, matar alguém e sair impune. A lei existe para ser cumprida. Se considerado culpado, que ele seja condenado e pague pelos crimes que cometeu”, reitera. Jaconi também está representando contra o acusado, Robson Poloni de Oliveira, por lesão corporal grave.
Reportagem: Katiane Cardoso
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