Caso Kasmiriski completa três anos
O álbum de fotografia da família que retrata momentos felizes dos filhos Itamar, William e Rodrigo, é o principal alento de Cláudio e Irnês Kasmiriski, após a morte trágica dos três garotos em 2009. No próximo dia 11 o atropelamento dos irmãos completará três anos. Os pais aguardam que a justiça seja feita, contando com o amparo dos amigos e se apoiando na força da fé. O caso está tramitando, mas o julgamento ainda não tem data para acontecer.
Conforme o inquérito policial, a haste solta do caminhão guincho, conduzido por Cledson Martins de Matos, atingiu os jovens e causou as mortes. Matos responde ao processo em liberdade. “As testemunhas de acusação já foram ouvidas. O Ministério Público (MP), defensor nos casos de homicídio, requereu algumas diligências, que ainda estão pendentes de serem cumpridas. Tão logo sejam feitas, o réu será interrogado, em audiência”, explica o promotor Sávio Vaz Fagundes, da Promotoria de Justiça Criminal de Bento Gonçalves. Esse será o primeiro depoimento do réu em juízo.
Segundo o promotor, o andamento do processo segue conforme determina a legislação brasileira. Após o réu ser ouvido, o MP e a defesa do acusado terão prazo para apresentar as alegações. E quem decidirá se é caso ou não para Tribunal de Júri, será a juíza. Para essa decisão, cabe analisar se houve indícios de conduta dolosa. Conforme Fagundes, o réu está sendo indiciado por homicídio simples em concurso formal. “A tese de acusação será por dolo eventual, isso tendo por base as provas produzidas. Caso seja condenado por homicídio simples, a pena varia de seis a 20 anos de reclusão, podendo ser acrescido de um sexto até metade da pena, devido à quantidade de vítimas”, enfatiza Fagundes.
Para entender melhor
Conduta dolosa ou dolo: intenção deliberada de praticar um ato criminoso, omissivo ou comissivo, com a disposição de produzir o resultado ou assumindo o risco de produzi-lo;
Homicídio simples em concurso formal: configura-se quando o agente do crime, com uma única ação ou omissão, vem a praticar dois ou mais crimes, idênticos ou não, punidos com prisão. Há unidade de ação ou omissão praticada pelo agente e produção de vários resultados criminosos puníveis;
Alegações: Peça processual que contém a exposição escrita dos advogados das partes, encerrando um resumo, acrescentado da conclusão tirada dos autos em face dos fatos e do direito de todas as alegações feitas abrangendo os argumentos e as provas constantes nos autos dirigidas ao esclarecimento dos direitos em litígio.
Fonte: Dicionário Jurídico Universitário, de Maria Helena Diniz
A tragédia e a dor dos pais
Cláudio e Irnês lembram que o acidente aconteceu em um feriado de páscoa. O segundo filho do casal, William, na época com 16 anos, frequentava o Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, e estava na cidade para passar o feriado com a família. Junto com os irmãos Itamar, 18, e Rodrigo, 14, ele caminhava na ERS-444, próximo ao trevo de acesso ao Barracão, em direção à Associação Bento-gonçalvense de Cultura Tradicionalista Gaúcha (ABCTG), que fica a pouco mais de um quilômetro da residência das vítimas, para participar de um evento automobilístico. Enquanto caminhavam pelo acostamento foram atropelados.
“Ouvimos o barulho do Corpo de Bombeiros e por curiosidade fomos ver o que havia acontecido. O Cláudio desceu e eu resolvi ligar para os guris para ver se estava tudo bem. Quando vi que nenhum deles atendia, me desesperei. Joguei o telefone longe e fui até a rodovia. Quando cheguei lá, perguntei ao policial o que havia acontecido e ele me informou sobre um atropelamento. Comecei a gritar. Em instantes eu estava em cima do meu filho, morto no asfalto”, relembra Irnês.
O desespero tomou conta dos pais naquele momento. “Foi muito difícil, ficamos sem chão naquela hora. Aliás, ainda continuamos. Estamos tentando superar esse momento, mas não é fácil. Foi uma coisa sem sentido. Tentamos, mas não conseguimos entender. Por que teve que ser com eles e naquele momento?”, questiona Cláudio.
O filho mais novo do casal, Rodrigo, morreu no local. Itamar e William chegaram a ser socorridos e conduzidos ao hospital, mas, devido à gravidade dos ferimentos, não resistiram. Apesar de toda a dor, os pais autorizaram a doação de órgãos dos filhos. “Eles sempre foram jovens estudiosos, obedientes, calmos e costumavam sempre sair juntos. Eles eram muito apegados uns aos outros”, descrevem os pais.
Cinco anos antes do acidente, Itamar chegou a frequentar o Seminário, mas como era muito apegado à mãe, desistiu e voltou para casa. Pouco depois, o segundo filho do casal, William, mostrou interesse em se tornar padre. “Foi uma surpresa para toda família. Nós sempre apoiamos essa decisão e ele se mostrava muito feliz com a escolha”, relembra Irnês.
A família é natural de Nova Bassano e vive em Bento Gonçalves há 15 anos. Quando a mudança foi realizada, os filhos do casal Kasmiriski eram ainda pequenos. A troca de cidade foi motivada pelo fato de que o tio dos garotos já morava no município. “Nesses anos que se sucederam a tragédia, contamos muito com o apoio dos amigos e dos padres do Seminário de Caxias. Esperamos que o caso seja resolvido ainda neste ano. Temos fé, esperança e confiança na Justiça. Não podemos deixar que uma pessoa que destruiu uma família dessa forma fique livre e impune. Se foram três pedaços dos nossos corações. Estamos rezando bastante e não podemos perder a fé. Sem ela não somos nada”, desabafam os pais.
No local onde aconteceu a tragédia, os familiares mantêm três cruzes com flores para simbolizar os perigos da rodovia. É a família também que realiza a limpeza e corta o mato que cresce junto às margens da rodovia.
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