Caso Patrícia Anderle Maito completa três anos

Um dos crimes mais comoventes da história policial recente de Bento Gonçalves completa três anos neste mês de novembro. A comerciante Patrícia Anderle Maito, de 32 anos de idade, foi morta com um tiro no peito durante um assalto ao mercado do qual era proprietária, em São Valentim, distrito de Tuiuty. Ela deixou o marido, Adilso, e três filhos, os gêmeos com pouco mais de um ano e o mais velho, com cinco. Às vésperas do aniversário do crime, o viúvo conta ao SERRANOSSA como divide o tempo entre cuidar das crianças e gerenciar o estabelecimento onde o assassinato aconteceu, principal fonte de renda da família. Ele agora está confiante na Justiça e aguarda que os autores paguem pelo que cometeram.

Apesar de já terem sido assaltados outras vezes, Maito nunca imaginou que, 11 anos após ter aberto o negócio, o local seria palco de uma tragédia. No dia 3 de novembro de 2009, ele perdeu sua esposa e companheira de forma banal. Patrícia foi morta mesmo sem ter esboçado reação e depois de entregar o dinheiro e cheques ao assaltante. O comerciante não estava no mercado na hora do crime. Havia saído para entregar compras em um bairro nas proximidades. Quando retornou, instantes após a mulher ter sido atingida pelo disparo, pegou-a no colo e correu até o automóvel de um cliente em busca de socorro. 

Difícil decisão

Mesmo consternado pela perda prematura da esposa, Maito não teve escolha: com três filhos pequenos, viu-se obrigado a dar a volta por cima. “Na época, cheguei a pensar em fechar o mercado, mas precisei pensar em como seria a minha rotina. A flexibilidade de horários permite que eu fique mais tempo com eles, então decidi continuar, apesar da lembrança dolorosa daquele dia”, detalha.

Uma estrela

O marido de Patrícia diz que apesar da dor, nunca escondeu dos filhos o que aconteceu. “Na época, os gêmeos ainda não falavam. Mesmo assim, dava para perceber nos olhos deles que procuravam pela mãe. O mais velho foi se adaptando com o tempo. Expliquei que a mãe morreu e disse que agora ela é uma estrela. Quando saímos, os pequenos procuram a mais brilhante e apontam dizendo que é a mãe deles”, descreve Maito, bastante emocionado.

É o comerciante quem cuida das crianças à noite e aos finais de semana. Uma empregada foi contratada para os afazeres domésticos e outros funcionários para ajudar no mercado. “É uma rotina bastante puxada, acabo trabalhando direto e eles até me cobram um pouco por isso. Sinto-me como pai e mãe, com responsabilidade dupla, mas a vida dos meus filhos e o futuro deles depende agora apenas de mim. O que mais quero é vê-los crescendo como homens dignos e, principalmente, que eles sejam felizes”, desabafa. 

Cara a cara com o autor

Durante umas das audiências que integram o processo relativo ao latrocínio que vitimou Patrícia, Maito ficou cara a cara com um dos acusados do crime. “É uma sensação de não conseguir olhar na cara do sujeito. É tão deprimente ver um jovem [o acusado Eliseu Bento da Silva, de 21 anos, tinha 18 quando cometeu o crime] nessa situação. A pessoa tem que ficar presa para pensar no que ela cometeu”, declara.  O comerciante relata que ainda não conseguiu perdoar os acusados. “Quando penso em perdoar, vejo meus filhos sem ter a quem chamar de mãe. Isso é impossível de desculpar”, enfatiza. Hoje ele pede justiça e que o os acusados sejam condenados pelo que fizeram. 

O crime

Por volta das 16h30, do dia 3 de novembro de 2009, uma terça-feira, Patrícia Anderle Maito estava no caixa de seu estabelecimento, na localidade de São Valentim, distrito de Tuiuty, quando foi surpreendida por assaltantes. Enquanto um deles permaneceu no lado de fora do mercado, com a motocicleta ligada, o outro dirigiu-se ao caixa, com a arma em punho e anunciou o assalto. Patrícia não reagiu e entregou todo o dinheiro que havia na caixa registradora. Mesmo assim, ele atirou no peito da vítima, versão que foi confirmada por testemunhas. Ela chegou a ser conduzida ao hospital, mas não resistiu. A Brigada Militar perseguiu os bandidos e, durante a fuga, houve troca de tiros. Os assaltantes conseguiram escapar depois de abandonarem a motocicleta utilizada no crime. No local, foram encontrados diversos pertences, entre os quais uma bolsa, uma sacola com dinheiro, capacetes, duas armas e toucas ninjas. O veículo havia sido furtado dias antes no bairro Planalto e teve a placa adulterada com fita isolante.

Identificação dos acusados

A identificação dos acusados foi feita através do depoimento de uma testemunha e do laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Porto Alegre, que analisou materiais abandonados pela dupla e encontrou neles vestígios genéticos dos envolvidos. Eliseu Bento da Silva, de 21 anos, está detido desde maio de 2012, após ter sido sentenciado a dez anos e sete meses de reclusão por prática de roubo e extorsão, referentes a outros crimes. Na audiência realizada no dia 16 de outubro deste ano, ele afirmou não ter praticado o crime, mas não soube explicar onde estava no momento do assalto ao estabelecimento comercial da vítima. O outro réu, Luís Lúcio Nardes Martins, cuja idade não foi informada, não compareceu a uma audiência à qual foi intimado em setembro e teve acatado o pedido de prisão preventiva solicitado pelo promotor Sávio Vaz Fagundes.

Ambos foram denunciados por latrocínio (roubo seguido de morte), crime cuja pena varia de 20 a 30 anos de reclusão, e por tentativa de homicídio, em razão da troca de tiros com dois policiais durante a perseguição instantes depois do assassinato da comerciante. Um pedido de prisão para a dupla já havia sido solicitado pelo promotor após a identificação deles, em dezembro do ano passado, mas foi negado pela Justiça. Fagundes recorreu e o pedido tramita no Tribunal de Justiça de Porto Alegre. O processo agora está em fase de pronúncia, na qual o juiz decide se é caso de tribunal de júri ou não.

 

Reportagem: Katiane Cardoso

 

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