Cerco às sacolas plásticas
O governo do Estado criou no início do mês de maio um Grupo de Trabalho para discutir a regulamentação da lei estadual 13.272, que proíbe o uso de sacolas plásticas fora dos padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A lei é de 2009, mas ainda necessita da regulamentação para ser observada de fato. Para o consumidor, as novas regras garantem sacolas de mais qualidade na hora das compras. Para os adeptos da sustentabilidade, a medida pode significar a diminuição no número de embalagens plásticas utilizadas no Estado, que normalmente vão parar no lixo.
A norma número 14.937 da ABNT, determina, entre outras regras, que as sacolas tenham espessura mínima de 0,027 milímetros e que a capacidade máxima de carga seja indicada em quilogramas. A ideia por trás da lei aprovada há três anos é que as sacolas mais espessas sirvam para carregar um número maior de produtos, diminuindo, portanto, o número de sacolas a cada compra no supermercado. A regulamentação definirá aspectos como a fiscalização e aplicação de sanções administrativas, que será feita pelo Estado.
“A regulamentação ainda não foi concluída”, afirma, em nota, a coordenadora do Grupo de Trabalho, Márcia Gomes. Com a publicação do decreto que regulamentará a lei, prevista para ocorrer até o dia 20 de junho, os supermercados e comércios que tenham mais de quatro caixas registradoras serão obrigados a cumprir as determinações.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, prevê que a regulamentação não provocará mudanças significativas em virtude de que a maioria dos estabelecimentos já se adaptou. “Mais de 90% dos supermercados gaúchos já estão operando com as sacolas dentro destas especificações”, garante o presidente da Agas. “É uma sacola mais resistente. A Agas está apoiando esta lei”, destaca.
Para o Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), a lei provocará uma redução natural na circulação de sacolas plásticas. “O vilão do meio ambiente não é a sacola plástica e sim o desperdício e o descarte inadequado”, afirma o presidente do Simplás, Orlando Marin, defendendo o consumo responsável do plástico.
Derrota para as sacolas oxibiodegradáveis
Com a regulamentação da lei que trata das especificações obrigatórias das sacolas nos supermercados, perde força no Rio Grande do Sul a discussão sobre a adoção das sacolas oxibiodegradáveis, tidas nos últimos anos como uma alternativa sustentável àquelas de material comum, por supostamente degradarem-se mais facilmente. “Não há comprovação técnica da eficiência destas sacolas oxibiodegradáveis no Rio Grande do Sul, em virtude do nosso clima mais frio. Elas precisam estar à temperatura de 40 graus para se decompor, em ambiente sem iluminação, o que não combina com os aterros que existem no Estado. Nós ainda vamos ter que ampliar a discussão em torno delas”, afirma o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
Qualificação
Para a Agas, uma medida que pode reduzir desperdícios é a qualificação de empacotadores para a melhor utilização das sacolas plásticas. Segundo a associação, 65% das sacolas plásticas saem dos caixas sem ter sua capacidade total utilizada
Uso sustentável?
*65% das sacolas plásticas saem dos caixas dos supermercados sem ter sua capacidade total utilizada;
*13% dos gaúchos levam sacolas extras para utilizar em casa;
*95% dos gaúchos usam sacolas plásticas para carregar compras;
*81,1% dos consumidores gaúchos são contra uma proibição do uso das sacolas plásticas;
*Uma sacola de algodão precisa ser utilizada 131 vezes sem ser lavada para ser tão sustentável quanto uma sacola plástica. Sacos de papel têm que ser reutilizados três vezes e as sacolas de polipropileno devem ser utilizadas novamente 11 vezes;
*Os supermercados gaúchos gastam R$ 190 milhões por ano na compra de 1,5 bilhão de sacolas plásticas fornecidas aos consumidores.
Fonte: Agas
Reportagem: Eduardo Kopp
“Causei estranheza”
“Há muito tempo eu não me sentia tão exposta quanto no dia em que resolvi fazer compras com um carrinho de feira. É um modelo moderno, com rodas de borracha e saco de lona, que comporta perfeitamente o conteúdo de cinco ou seis sacolas plásticas. Adepta de alternativas que permitam preservar o ambiente, mas sem abrir mão da praticidade, resolvi testar. Assim que cheguei ao supermercado, os olhares desconfiados já apontavam para o meu novo parceiro de compras. Guardei meu carrinho debaixo do carrinho do estabelecimento e fui em busca de leite, pão, presunto, queijo, pizza congelada, banana, maçã e sabão em pó. Diante da funcionária do caixa, fui logo avisando: ‘Não preciso de sacolas plásticas, trouxe meu carrinho’. A moça me olhou como se eu tivesse anunciado um assalto. Incrédula, perguntou: ‘Como, senhora?’. Repeti, pacientemente, a explicação. Sem entender, ela se ergueu do banquinho onde estava acomodada, como quem não acredita no que está vendo. Ao perceber que não era nada demais, passou os produtos pelo leitor de código de barras. Já o empacotador, cedendo aos velhos hábitos, foi logo abrindo uma sacola, então, expliquei a ele que não iria embalar as compras do jeito tradicional. Passaram-se nove minutos e muito ‘tira e põe’ até que o rapaz conseguisse acomodar os poucos itens que eu havia comprado. Inicialmente foi difícil convencê-lo de que os produtos deveriam ser colocados no carrinho sem serem embalados em sacolas. Como ele não sabia por onde começar, tive que orientá-lo a colocar as caixas de leite antes, por serem mais pesadas e servirem de base para os demais produtos. Apesar da tentativa, acabei levando duas sacolas plásticas: uma para o sabão em pó e outra para a comida congelada. Mesmo assim, o resultado foi satisfatório: se eu não estivesse com o carrinho, precisaria de cinco, talvez seis, embalagens plásticas e ainda chegaria com as mãos doloridas por ter ido fazer compras a pé. O importante é que continuarei tentando, porque ninguém erra mais do que quem desiste por achar que não faz diferença.” Greice Scotton, editora-chefe do jornal SERRANOSSA
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