Charles Fantin: consulta reacende esperança
Mais um passo importante foi dado no começo do mês para que o desejo da família do jovem Charles Fantin se torne realidade. Eles buscam condições para que ele seja submetido a uma cirurgia para colocação de um marca-passo diafragmático. Fantin ficou paraplégico em 2002, depois de ter sido baleado em um assalto. A esperança de que ao menos ele possa voltar a respirar sozinho – o que representaria uma melhor qualidade de vida para ele e para a família – veio após a visita de uma equipe médica de São Paulo coordenada pelo cirurgião torácico Rodrigo Afonso da Silva Sardenberg, ainda no ano passado. Em nova consulta, desta vez no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Charles foi avaliado como apto e recebeu uma recomendação formal para o procedimento. A solicitação foi encaminhada à secretaria de Saúde do Estado.
A família não possui condições financeiras para arcar com a cirurgia, que custa cerca de R$ 520 mil. Após a visita do cirurgião e o aconselhamento para realizar a implantação do aparelho, os pais de Charles, Iraci e Ivalino, entraram com um pedido junto à 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS), com sede em Caxias do Sul. O objetivo era obter a autorização para que a cirurgia pudesse ser feita através Sistema Único de Saúde (SUS). No final de janeiro deste ano, o SUS autorizou que Charles fosse avaliado por um especialista.
Conforme Iraci, a consulta aconteceu no último dia 7, e o pneumologista Igor Gorski Benedetto considerou Charles apto para realizar o procedimento. Ele ainda enfatizou, assim como o cirurgião Rodrigo Afonso da Silva Sardenberg, que após a implantação do marca-passo o jovem ficará menos suscetível a doenças pulmonares. Problemas decorrentes da traqueostomia (abertura na garganta que possibilita a conexão de tubos do respirador artificial) têm sido os mais preocupantes nos últimos dez anos de tratamento em função da exposição a bactérias.
O laudo do médico porto-alegrense apontou que o Hospital de Clínicas não realiza esse tipo de cirurgia através do SUS e aconselhou que a solicitação fosse remetida a um serviço de referência nesse tipo de procedimento. “Encaminhamos o documento à 5ª CRS, que irá enviar à secretaria de Saúde do Estado um pedido de liberação da verba para realizar o procedimento. Caso seja negado, entraremos com um processo judicial. Todos nós estamos bastante ansiosos. Eu fico pensando nisso dia e noite”, conta Iraci.
Boas chances
A cirurgia é delicada, mas de baixo risco. “Posso avaliá-lo como um bom paciente. Ele tem grandes chances de poder sair de casa, passear e, com a implantação do marca-passo diafragmático, diminuirem os riscos de contrair pneumonia. Enfim, terá uma melhora significativa na qualidade de vida”, explicou o cirurgião torácico, que se dispôs a vir ao Estado com sua equipe médica. Ele garante que o procedimento poderia ser realizado tanto em Bento Gonçalves quanto em Caxias do Sul ou Porto Alegre. Segundo o médico, existem outras duas pessoas à espera da realização da mesma intervenção na Serra.
O caso
Charles Fantin foi vítima de um assalto no dia 26 de julho de 2002. Por volta das 20h20, ele foi abordado e baleado quando estava no interior de seu automóvel, junto com a namorada, no Parque de Eventos da Fenavinho. O projétil ficou alojado no pescoço, deixando-o tetraplégico. Ele ficou nove meses internado no hospital, mas precisa, até hoje, permanecer conectado a um respirador artificial, doado pela prefeitura.
Charles passa boa parte do dia assistindo a filmes e programas na televisão ou utilizando o computador, que aprendeu a operar com o queixo em sua terceira viagem ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Ele pronuncia com dificuldade algumas palavras e o som sai baixinho. Toma nove tipos de medicamentos, sendo que um deles em seis doses diárias. “Ele não reclama de nada. Eu e meu marido acabamos nos revezando para cuidar do Charles durante o dia e a noite. A qualquer movimento, as conexões do respirador se soltam, disparando um apito. Faz dez anos que já não dormimos direito”, desabafa Iraci.
Reportagem: Katiane Cardoso
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