Charles Fantin teve seus sonhos destruídos

Em 26 de julho de 2002, por volta das 20h20, a vida de Charles Fantin, então com 20 anos, mudou para sempre. Naquela noite de sexta-feira, o rapaz namorava no interior de um carro no Parque de Eventos da Fenavinho quando foi baleado em um assalto. Ficou tetraplégico e ainda hoje luta com as sequelas do ferimento. Só não perdeu a esperança. Na série de reportagens que o SERRANOSSA começa a publicar nesta edição, você vai conhecer ou relembrar histórias de pessoas que enfrentaram tragédias e hoje ainda têm forças para continuar.

O Parque de Eventos da Fenavinho é um dos melhores locais de Bento Gonçalves para se frequentar. O espaço amplo, a tranquilidade e a possibilidade de realização das mais diversas atividades sempre atraiu os bento-gonçalvenses, especialmente os jovens. Em 2002, porém, o cenário era outro. E menos tranquilo. De janeiro a julho daquele ano foram atendidas mais de 70 ocorrências pela Brigada Militar. Dessas, sete foram de roubos.

Na noite daquela sexta-feira de 2002, um casal estava no interior de um automóvel Corsa no parque. Charles Fantin ocupava o assento do motorista quando os namorados foram surpreendidos por um homem armado, que bateu no vidro e anunciou o assalto. Charles assustou-se e ligou o carro, mas acabou engatando a marcha à ré e bateu em uma árvore. O assaltante atirou. O disparo quebrou o vidro e atingiu Charles no pescoço.

O rapaz foi socorrido pelo Corpo de Bombeiro e encaminhado ao hospital. A bala ficou alojada no pescoço e o deixou tetraplégico. Foram nove meses internado no hospital. “Depois de muita luta e ajuda de algumas pessoas conseguimos que a prefeitura nos fornecesse o respirador artificial, para que o Charles voltasse para casa. Não foi fácil, sofremos muito, mas agora as coisas mudaram. Estamos adaptados e apreendemos a atender o Charles da melhor forma possível”, relata Iraci Fantin, mãe do jovem.

A família Fantin mantém a esperança de ver Charles recuperado e torce para que os avanços das pesquisas com células tronco possibilitem a recuperação. Enquanto isso, Charles reaprende a viver.

Tratamento

Hoje Charles Fantin passa boa parte do dia assistindo filmes e programas na televisão junto com a cachorrinha de estimação da família e utilizando o computador, que aprendeu a usar com o queixo em sua terceira viagem ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.

Durante cinco anos, ele teve acompanhamento de fonoaudióloga, mas, conforme sua mãe, as sessões tiveram que ser interrompidas pelo alto custo. O acompanhamento cessou, mas não o esforço: com o incentivo da família, Charles está reaprendendo a falar. Ele pronuncia com dificuldade algumas palavras, o som sai baixinho de seus lábios.

A mãe faz curso de informática para auxiliá-lo e para buscar informações sobre tratamentos que possam auxiliar na sua recuperação. “As visitas ao Sarah auxiliam muito a melhora do Charles. Ele já não usa mais fraldas, nos ensinaram a realizar exercício de fisioterapia, que antes tinha que ser feito por um profissional, e desenvolveram um aparelho que possibilita ao Charles utilizar o computador, através do queixo. Esse aparelho foi doado pelo hospital, sem custo para nós, e possibilita que ele tenha um passatempo”, descreve Iraci.

Uma cadeira de rodas adaptada para comportar a bateria do respirador possibilita que Charles possa passear e até participar de encontros com antigos colegas do Exército. “Eles consideram o Charles um exemplo. Eles nunca esqueceram dele. Quando fazem um churrasco, sempre convidam”, conta. Apesar de ainda ser lembrado, Charles afirma que o que mais sente falta é da visita dos amigos.

Autor do crime

Poucos dias após a tentativa de assalto que deixou Charles tetraplégico, o acusado foi detido no município de Rodeio Bonito, distante 400 quilômetros de Bento Gonçalves. Na época do crime, o homem possuía 18 anos e era foragido da Justiça. Ele chorou ao confessar ter sido o autor do disparo e afirmou estar armado porque sabia que Bento era uma cidade perigosa. Outro homem participou do crime e também foi preso.

O autor confesso do disparo foi julgado e condenado a sete anos de reclusão. Permaneceu apenas dois anos preso, foi solto e hoje vive em liberdade. Charles, por outro lado, permanece há dez anos preso a uma cama e necessita de um respirador artificial ligado 24 horas por dia para sobreviver.

 

Katiane Beal Cardoso

 

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