Cianeto: recuperação de área pode levar anos

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) segue fiscalizando a retirada de cianeto (material altamente tóxico) que vazou do tanque da empresa Polibrilho Pintura e Cromagem, localizada na rua Celeste Magagnin, bairro Vila Nova, em Bento Gonçalves. A contaminação ambiental foi percebida na manhã da última segunda-feira, dia 24. Segundo o Corpo de Bombeiros, a perfuração foi provocada por um bloco de concreto que se desprendeu de um muro que estava sendo construído na sede da Concresul Britagem, vizinha à empresa. 

O engenheiro químico da Fepam Rudinei Souza confirmou que a recuperação do terreno pode levar anos. “Não há dúvidas de que houve dano ambiental. Quanto à recuperação do local, ainda não é possível estimar tempo, mas acredito que seja de médio a longo prazo pela quantidade do produto que vazou. Após os trabalhos emergenciais, deverão ser realizados estudos e análises que poderão apontar com maior precisão qual é a extensão desse dano”, explica. Segundo o engenheiro, uma série de análises de solo e de risco deve ser feita no local para apontar se a área poderá continuar a ser utilizada. 

Enquanto isso, o trabalho de remoção do produto deve continuar. “A raspagem do solo no entorno está sendo concluída. Todos os líquidos espalhados internamente foram sugados e serão levados para uma central em Chapecó (empresa Cetric). A preocupação, neste momento, é com a chuva, que pode levar mais produto químico para o solo. Estamos concentrados em realizar um trabalho de contenção para evitar que os danos aumentem ainda mais”, conta. Ainda segundo Souza, não é possível precisar a quantidade de material que vazou, mas a estimativa trabalhada neste momento é de cerca de 20 mil litros de cianeto de sódio líquido. Volume semelhante foi estimado pelo Comando Ambiental da Brigada Militar.

Os tanques que vazaram foram removidos para evitar problemas e o lodo abaixo deles, espalhado no solo, será removido. “Estamos cobrando das empresas responsáveis pelo vazamento que entrem em acordo financeiro para que todo o material, que está dentro da empresa, seja removido. Há mais lodo enterrado no pátio, que será objeto de outras ações posteriores”, lembra Souza. Depois da limpeza e remoção, os Bombeiros deverão isolar a área por tempo indeterminado.

Problemas com licenciamento

O incidente reacendeu a polêmica sobre a fiscalização de empreendimentos que podem provocar danos ao meio ambiente. O químico da Fepam confirmou que a Polibrilho não possuía licença para operar o cianeto. O documento foi negado devido à falta de estrutura. Já a Concresul foi notificada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb) em função de não ter autorização para a obra – segundo a fiscalização, a construção de qualquer muro de arrimo com mais de 2,10m de altura exige autorização – e recebeu prazo de 10 dias (a contar do dia 24 de fevereiro) para apresentar a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) que comprova a estabilidade da estrutura. De acordo com a Fepam, após todo o trabalho emergencial, as duas empresas serão autuadas. 

Relembre o caso

De acordo com a Fepam, os blocos de concreto de grande proporção que desabaram atingiram a área de galvanoplastia (local onde é feito o tratamento de metais) e os tanques de armazenamento. Parte do produto foi derramada no piso, gerou gás cianídrico e caiu nos tanques da Estação de Tratamento (ETE), que estavam cheios. Da ETE, o líquido escorreu para fora da empresa e percorreu três quadras do loteamento, chegando a um bueiro. 

Segundo a prefeitura, 11 pessoas haviam sido atendidas  até o final da tarde de segunda-feira em virtude da intoxicação. As equipes de socorro orientam que moradores dos arredores ou pessoas que transitaram pela região após o incidente procurem atendimento médico imediatamente em caso de sintomas como garganta seca, tontura ou náusea.

A Corsan garante que toda a estrutura de abastecimento é canalizada, o que fez com que o líquido tóxico não entrasse em contato com a bacia de captação do Barracão, de onde vem a água que abastece a cidade.

Reportagem: Jonathan Zanotto


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