Ciclismo, adrenalina e conscientização marcam a realização de evento internacional em Bento

Unindo cerca de 800 ciclistas e amantes do ciclismo, GranFondo New York mostra que o esporte pode fazer parte do dia a dia de todos

Foto: Prefeitura Bento

Se você viu uma turma de cerca de 800 ciclistas passando próximo da sua casa no último fim de semana, você pôde conferir um dos maiores eventos de ciclismo do mundo direto da Serra Gaúcha. O circuito global GranFondo New York colocou as centenas de esportistas para percorrer distâncias de 143km e 80km, com um circuito que permeou as cidades de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Santa Tereza, Garibaldi e Carlos Barbosa. Bento era a cidade sede, sendo a primeira edição na Serra Gaúcha e única etapa nacional da competição, que é conhecida como a maior maratona de ciclismo do país. Segundo os organizadores, o objetivo, acima de tudo, é valorizar o ciclismo e o cicloturismo.

Como toda boa competição, houve vencedores. Alex Ferreira de Melo e Érika Soares desceram de suas bikes como os grandes vencedores do percurso longo da prova. Quem também se destacou foi o jovem ciclista Cristian Lazzari. Natural de Garibaldi, ele conquistou o segundo lugar geral e o topo do pódio na categoria de 18 a 29 anos. Para ele, que pratica desde os 13 anos e que tem focado na modalidade moutain bike, sua evolução no esporte é constante. “Eu tenho quatro títulos gaúchos, tenho duas medalhas em campeonatos brasileiros e estou evoluindo a cada ano, então a minha carreira já tem uma grande história, já são quase 10 anos que eu estou competindo em várias provas em nível estadual, nacional e até mundial”, destaca.

Segundo Lazzari, a preparação foi árdua, mas recompensadora. “Foi um evento bem top, com vários atletas de diferentes partes do Brasil e do mundo também. Atletas superfortes e bem conceituados. Então eu sabia que ia ser uma grande disputa. E foi uma emoção bem grande estar disputando com esses caras, em quem eu também me inspiro. E é adrenalina na veia o tempo todo, emoção pra caramba, estar com ‘sangue nos olhos’ o tempo todo, coração lá em cima. São quatro horas de prova no máximo do corpo, então é bem desafiador mesmo e estou bem contente com o resultado.”

Foto: Divulgação

Quem também colocou a bike na estrada, subiu e desceu morros, sentiu o vento no rosto e o dever cumprido foi a profissional de Educação Física Sheila Romanini. A relação com o ciclismo para ela veio depois de um bom tempo de prática do spinning (uma bicicleta ergométrica presente em academias de ginástica para queima de calorias e melhora do condicionamento físico), mas que se aflorou durante a pandemia da COVID-19. “Na pandemia ficamos sem poder dar aulas de ginástica coletiva então comprei uma bicicleta MTB com o intuito de pedalar a passeio pelos interiores de Bento. Mas, eu tinha alguns alunos na academia que eram ciclistas de estrada e me interessei pelas bicicletas de speed. Foi em 2020, há dois anos, quando surgiu a oportunidade de adquirir uma speed. Fiz alguns pedais e logo surgiu o convite de participar da ida à praia com o pessoal da ABC Concresul e consegui participar e completar juntamente a 26 homens”, relata a profissional.

Foi a partir daí que surgiu o convite para integrar a equipe. Em 2021, ela participou de seu primeiro campeonato gaúcho e em 2022 de algumas etapas. Desde lá, são feitos treinamentos semanais.

Assim como para Lazzari, Sheila enfrentou um treinamento pesado e exigente. “Nos últimos meses fiz uma média de três treinos de ciclismo por semana, além de treinos de musculação e natação. Um desses treinos de ciclismo faço no final de semana, que é um treino mais longo, normalmente um até Nova Roma do Sul (100km em 4h). Já que o GFNY é uma prova de longa distância e com uma altimetria acumulada de quase 3000m, os treinos precisavam ser longos e com subidas pra treinar em uma intensidade semelhante ao que seria a prova. E o treino a Nova Roma do Sul atende bem a esses quesitos e é um trecho muito utilizado pelos ciclistas de estrada”, afirma.

Sobre a participação pela primeira vez no GranFondo, Sheila destaca a emoção de colocar em prática, de fato, todo o treinamento de meses. “Durante toda prova eu estava com adrenalina lá em cima e a mente totalmente focada em finalizar o trajeto”, pontua. Segundo a ciclista, o caminho percorrido já estava na mente, pois havia feito o reconhecimento com a equipe. Estar ao lado de amigos e de outros ciclistas renomados também ajudava na hora de reunir energias e não desistir. “Após finalizar a subida de Santa Tereza (120km de prova), o trecho com maior dificuldade, mesmo com o cansaço, a alegria começa a tomar conta, a chegada estava próxima. A hora da chegada à Fundaparque é de imensa alegria e emoção. Graças a Deus deu tudo certo, sem problemas mecânicos, ou quedas (que podiam me deixar fora da prova). O ritmo saiu como o planejado e eu estava muito grata e feliz por ter vivido tudo isso”, comemora.

Foto Júlia Milani

Ciclismo na cidade

Mesmo com belas paisagens e um trajeto ideal para aqueles que gostam de emoção no ciclismo, Bento e região não necessariamente são cidades preparadas para a prática do esporte. O campus da UCS Bento, a própria Fundaparque e as ciclovias no bairro Planalto são os pontos mais visitados pelos praticantes e por aqueles que curtem andar de bike por lazer. Porém, são poucos espaços e os ciclistas precisam “competir” com pedestres e veículos.

Segundo Lazzari, alguns ciclistas preferem percorrer as estradas, fazer longas distâncias, porém, elas precisam estar adequadas. Parques e ciclovias também precisam ser incluídos para a promoção do esporte. “Acredito que nas cidades o crescimento das ciclovias e dos parques está pouco a pouco. O pessoal precisa se empenhar um pouco mais com os projetos para conseguir alavancar mais essas estruturas”, afirma.

Segundo Scheila, houve um grande crescimento de adeptos do ciclismo na pandemia, assim com ela, visto que é um esporte que traz inúmeros benefícios. “Além de ser um exercício, o ciclista usufrui de uma liberdade maravilhosa, curtindo paisagens e momentos que somente a bike lhe proporciona.” Contudo, para isso ser realmente usufruído, vai depender de conscientização. ”Sentimos falta de conscientização dos motoristas da região que passam, às vezes, tirando fino de nós, e também falta por parte do Poder Público, pois a estrutura poderia ser discutida com os usuários, para melhorar estrutura também para os motoristas do dia a dia. Ciclovias também devem ser discutidas com os ciclistas para ter uma estrutura usual, e não apenas uma obra entregue”, pontua a profissional de Educação Física, que também reforça que eventos como o GranFondo podem trazer conhecimento e consciência a todos. “Com esse evento no calendário anual, é possível estabelecermos melhorias a cada ano.” Uma nova edição do evento já está prevista para 2023, nos dias 13, 14 e 15 de outubro.