Ciclista de Carlos Barbosa pedala mais de 700 km no Deserto do Atacama

Rafael Dalcin, de 37 anos, realizou sozinho a viagem, de seis dias, no final do ano passado, para realizar um antigo sonho

Fotos: Acervo pessoal

O Deserto do Atacama, localizado na região norte do Chile, estava na lista dos lugares em que o barbosense Rafael Dalcin, 37 anos, desejava, um dia, conhecer. A viagem chegou a ser planejada há três anos, mas devido à pandemia de COVID-19, precisou ser adiada. Com a reabertura das fronteiras, Dalcin decidiu que era a oportunidade de tirar o velho sonho da gaveta. Contudo, a ideia não era realizar a viagem de um jeito convencional, mas sobre as duas rodas de sua bicicleta.

O pedal partiu da cidade de Calama, no dia 23/12/22. Já no segundo dia, quando percorreu o trecho de San Pedro do Atacama até Paso de Jama, na fronteira entre a Argentina e o Chile, foi quando o ciclista sentiu a maior dificuldade de todo trajeto. “Pedalei 161 km em um lugar totalmente desabitado. Era apenas eu, a bicicleta e a estrada”, lembra.

Quando chegou ao território argentino, o ciclista passou pelos municípios de Susques, Purmamarca, Tilcara, San Salvador de Jujuy até chegar à cidade de Salta, no dia 28 de dezembro.

Para cruzar o Deserto do Atacama, considerado o mais alto do mundo, Dalcin pedalou, ao todo, 733 quilômetros, em seis dias consecutivos. Além disso, acumulou aproximadamente 7.900 metros de altimetria. “Ultrapassei a barreira dos quatro mil metros de altitude e o corpo, naturalmente, sentiu os efeitos. É muito mais do que estamos acostumados”, garante.

ORGANIZAÇÃO

Dalcin destaca que realizou o passeio sozinho, sem apoio externo. Para que isso fosse possível, precisou se organizar bem, com bastante antecedência. “Precisei levar junto nas mochilas, roupas, água, alimentos, equipamentos e todos os demais materiais necessários para qualquer eventualidade”, afirma.

Antes de iniciar a viagem o ciclista já tinha toda logística pronta. Portanto, já sabia quantos quilômetros percorreria durante o dia e exatamente onde dormiria em cada noite. “Cada metro do percurso foi estudado, avaliando todos os riscos. Afinal, estava atravessando um deserto com uma bicicleta. E tudo precisava ser muito bem pensado, pois essa é uma aventura que não permite erros ou descuidos”, salienta.

DESAFIOS

O ciclista relata que, com exceção de pequenas comunidades onde passou as noites, na maior parte do trajeto só encontrava estradas. “Precisava ser totalmente autossuficiente, pois não poderia contar com apoio”, diz.

Outra dificuldade enfrentada foi quanto à diferença de altitude. “Não sabia como seria a reação do corpo com o esforço no ar rarefeito, pedalando montanha acima com uma bicicleta carregada de muita bagagem”, afirma.

Quando ultrapassou os quatro mil metros de altitude, o ciclista conta que sentiu a respiração mais pesada, por isso, naquele momento, foi necessário adaptar o ritmo do pedal para dar continuidade ao passeio. “Precisei encontrar um ritmo de pedalada mais confortável, para manter a frequência cardíaca estável. Porém, nos demais dias, o corpo acostuma e a altitude deixa de ser um problema”, garante.

De acordo com o ciclista, a combinação entre ar seco, sol forte e vento gelado, também foi um desafio. “Era possível sentir frio e calor ao mesmo tempo. Só estando lá para entender. Peguei temperaturas acima dos 36 graus à tarde, em São Pedro do Atacama e quatro graus negativos, à noite, no Paso de Jama. Dois dias após a minha passagem, nas proximidades do vulcão Licancabur, até houve registro de neve”, conta.

Ainda assim, apesar das dificuldades encontradas devido às diferenças de clima e altitude, Dalcin garante que não enfrentou nenhum imprevisto durante os seis dias de viagem. “Tudo saiu conforme o planejado”, comemora.

Com o sonho realizado, Dalcin afirma que passou por lugares que nunca vão sair da sua memória. “Tentei fazer alguns registros pelo caminho, mas as fotos e vídeos não conseguem transmitir toda a beleza que os olhos conseguem enxergar. A sensação de pedalar no Deserto do Atacama é indescritível. Esse é um local único na terra, que realmente vale a pena conhecer”, salienta.

GOSTO PELO ESPORTE

Dalcin conta que começou a pedalar por uma necessidade de perder peso e entrar em forma, há aproximadamente 15 anos. “Comprei uma bicicleta simples e lembro que, no início, sofria bastante para fazer pequenas distâncias. Mas a cada pedalada, a paixão pelo esporte só aumentava. Comecei e não parei mais”, afirma.

Algum tempo depois, o ciclista já estava participando de competições, além de integrar uma equipe de ciclismo do município vizinho. “Passei a integrar a equipe da Associação Garibaldense de Ciclismo (Agaci). Hoje não consigo mais enxergar a minha vida sem a bicicleta”, finaliza.