Ciclistas querem espaço exclusivo
A ideia ainda parece nova, pelo menos para Bento Gonçalves, mas deve ganhar bastante força nos próximos meses: impulsionado pela realização do Bike Festival, no último final de semana, um grupo de amantes dos pedais pretende intensificar a cobrança por um espaço exclusivo para circulação de bicicletas na zona urbana. A demanda já é tema de uma petição on-line que tentará reunir pelo menos 3 mil assinaturas e ser entregue ao Executivo e à Câmara de Vereadores.
O primeiro objetivo é convencer o Poder Público a viabilizar uma ciclofaixa que seria disponibilizada aos domingos, em ruas que fazem a ligação da Cidade Alta com o bairro Planalto, como a Olavo Bilac, Xingu e Herny Hugo Dreher. A partir daí, a reivindicação ganharia um peso ainda maior, pedindo a instalação definitiva de uma ciclovia no trecho, com estrutura para garantir a segurança dos frequentadores.
A rota tem cerca de 2,5 quilômetros de extensão e contempla vias com praticamente nenhuma subida, o que facilitaria o tráfego de ciclistas que vêem nas bikes uma forma de lazer ou até de deslocamento diário. Nessa etapa inicial, a sugestão é de que a ciclofaixa ocupe totalmente uma das pistas hoje destinadas a automóveis.
Mas, para Mezaki Nito, um dos organizadores do festival, que deve ter sua segunda edição em março, é a oportunidade para começar a estabelecer uma convivência harmoniosa entre os meios de locomoção. “O que queremos mostrar para as pessoas é que o espaço público pode e deve ser usado de forma compartilhada”, afirma Nito. Ele destaca que, até dezembro, estão previstas pelo menos outras duas iniciativas para tentar dar corpo à mobilização, mas mantém as ações ainda em segredo.
Trechos menores
Ciclista há mais de 50 anos, Gelson Schenatto afirma que tem dificuldade em sugerir um trecho da zona urbana com condições de receber uma ciclovia com estrutura permanente. A saída, na opinião dele, seria tentar estabelecer um ou dois trechos menores, liberados em finais de semana. Um deles seria a ligação da Xingu com a Herny Hugo Dreher e, na sequência, com a avenida Presidente Costa e Silva. Outro seria em parte da 10 de Novembro, na Cidade Alta, que depois passa a ser Fortaleza. “De alguma forma tem que começar. Talvez o melhor seja assim, para ver como as coisas andam. As autoridades têm que se preocupar com isso, porque as bicicletas vão ter o espaço que merecem, como meio de transporte e lazer. Isso vai acontecer, com certeza”, diz Schenatto.
Bicicletários
Para a professora de informática Adriana da Silva, a bicicleta é o veículo utilizado para transitar pela cidade durante toda a semana. Diariamente, ela percorre cerca de 8 quilômetros sobre duas rodas, principalmente no caminho para o trabalho e usando o pouco espaço que sobra para quem não está de automóvel. “Tem que ser tudo sempre nos cantinhos. É complicado, tem que ficar de olho. E em alguns lugares é melhor descer e empurrar, porque não dá para ter certeza se os carros vão parar”, relata. Nem mesmo aos finais de semana, quando ela escolhe locais mais afastados, como o bairro São Roque ou o Barracão, a situação melhora.
Adriana vê com bons olhos a proposta de criação de um espaço exclusivo para ciclistas, mas sugere que, antes disso, já se pense em implantar, principalmente no Centro, estruturas em que os pedalantes possam estacionar suas “magrelas”. “Eu sinto muita falta disso, porque é complicado levar a bicicleta de um lugar para outro ou deixar ela com corrente em qualquer lugar. Fica até feio para uma cidade turística como Bento, e parece que é algo que não custaria tanto”, conclui a professora.
Prefeitura projeta duas rotas para 2014
O prefeito Guilherme Pasin afirma que a administração municipal já está estudando a possibilidade de implantação de duas ciclofaixas aos domingos. Uma seria, com algumas pequenas diferenças de traçado, justamente no trecho unindo Cidade Alta e Planalto – cobrado na petição disponível na internet – e outra no Centro da cidade. De acordo com o chefe do Executivo, a intenção é colocar pelo menos uma das rotas em funcionamento no primeiro semestre de 2014.
Atualmente, a prefeitura tem trabalhado, segundo Pasin, na avaliação das ruas que poderiam receber os roteiros, verificando a necessidade de obras antes de viabilizar o projeto. Uma das principais preocupações é com bueiros desnivelados, que devem receber reparos. Depois disso, viriam os investimentos em sinalização horizontal e vertical, com indicações de espaços e horários. “Sem dúvida, é algo que vamos fazer. Mas temos que ser responsáveis o suficiente para colocar isso em funcionamento somente quando pudermos oferecer toda a segurança a quem for usar. Se fizer ‘a toque de caixa’, a ideia vai nascer e morrer, e não é o que queremos”, ressalta o prefeito.
A ciclovia, entretanto, seria um desafio maior para o governo. “Infelizmente, a largura da maioria de nossas ruas não comportaria, a não ser que retirássemos alguns estacionamentos. E, pelo menos agora, me parece que essa não é uma boa alternativa”, argumenta Pasin. Mesmo assim, ele garante que a ação não está descartada. “Na verdade, quem vai regular isso no futuro é a própria comunidade, e não somente a administração municipal. É uma responsabilidade que deve ser compartilhada”, completa.
Pasin também aponta que será necessário orientar moradores de áreas que podem receber as ciclofaixas, para que respeitem o espaço eventual dos ciclistas, que também passará próximo a acessos de garagens. “São apenas alguns detalhes que ainda precisaremos ajustar, mas nada muito complicado. Não vamos burocratizar o que parece ser um desejo da comunidade de Bento”, argumenta.
Vale à espera do Estado
A construção da ciclovia no Vale dos Vinhedos, prevista para ser implantada na ERS-444, ainda está nas mãos do Estado, que tem o projeto licitado desde 2010, mas ainda sem prazo para início das obras. Em junho, o assunto foi tema de uma reportagem do SERRANOSSA, quando a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e a Associação Comunitária do distrito voltaram a solicitar prioridade para o projeto, elaborado ainda 2007.
Em outubro, Pasin esteve em Porto Alegre, onde conversou com os secretários de Esporte e Lazer, Kalil Sehbe, e de Infraestrutura e Logística, João Victor Domingues. Para tentar agilizar o início do empreendimento, o prefeito de Bento garantiu que a administração municipal, em contrapartida, instalaria bicicletários nas duas pontas do roteiro turístico. “O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) se comprometeu a atualizar toda a planilha orçamentária e nos passar esse valor. O que nos resta agora é aguardar”, finaliza Pasin.
Em abril, a Aprovale criou um abaixo-assinado para tentar conseguir 400 mil assinaturas em favor da proposta. O presidente da entidade, Juarez Valduga, acredita que a mobilização já tenha atingido a metade dessa marca, envolvendo moradores e visitantes. “A ciclovia é um dos nossos grandes sonhos e, com certeza, não vamos desistir dela. O Estado está fazendo muito pouco pelo que o Vale representa. Temos que aumentar a pressão, ficar no pé deles”, avisa.
O projeto
A ciclovia na ERS-444 teria, originalmente, extensão de 8,25 quilômetros, com início no entroncamento com a RSC-470, na entrada do Vale dos Vinhedos, e seguindo em direção a Monte Belo do Sul. Ela foi planejada para ocupar o lado direito da rodovia (sentido Bento – Monte Belo) e ficaria separada da estrada por um canteiro de meio metro de largura. O projeto prevê um espaço de 2,5m para a pista, sentido bidirecional e um passeio lateral de 1,5m, com blocos de concreto como pavimentação. O valor estimado da obra era de R$ 5,4 milhões.
Para aderir à campanha
Interessados em aderir à campanha pela instalação de uma ciclofaixa em Bento Gonçalves podem assinar a petição on-line no seguinte endereço na internet: www.avaaz.org/po/petition/Queremos_ciclofaixas_aos_domingos_em_Bento_Goncalves. A participação é rápida, e exige apenas nome, e-mail e CEP.
É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.
Siga o SERRANOSSA!
Twitter: @SERRANOSSA
Facebook: Grupo SERRANOSSA
O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.