Claudir Schulz ganha com melhor causo no Enart
Um caçador utilizava as terras da família de um menino para capturar suas presas. Com mata extensa na propriedade, diversos animais eram facilmente encontrados pelo homem. Mas, um certo dia, o caçador não conseguiu voltar para a casa com o “seu jantar”. E a cena se repetiu no dia seguinte, e no outro, e no outro. Os animais haviam sumido. O menino acompanhou a angústia do caçador por vários dias, até que descobriu o porquê do desaparecimento repentino das presas: os animais estavam contando com a ajuda de sentinelas. Os quero-queros, que sobrevoam espaços amplos, baldios e sem árvores, estavam entrando na mata para avisar quando o caçador se aproximava. Com isso, todos procuravam refúgio e se livravam de virar churrasco na mesa do caçador.
A narrativa relatada acima faz parte da vida de um menino que hoje já é um homem e tem 48 anos. E foi com esta história de sua infância que Claudir Schulz conquistou o título de melhor contador de causo do Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), o maior e mais importante evento do gênero no Rio Grande do Sul, encerrado no último domingo, dia 16, em Santa Cruz do Sul. Schulz é o único de Bento Gonçalves premiado no evento.
Patrão do CTG Paisanos da Tradição, esta foi a sua quarta tentativa de troféu no Enart – nas outras oportunidades, ele ficou na 14ª, 12ª e 9° posição, respectivamente – até finalmente conseguir o prêmio maior na competição. “Certamente foi um dos momentos mais felizes da minha vida. A gente sempre espera vencer, mas é muito difícil. Tem contadores de histórias muito bons. Quando anunciaram o terceiro e o segundo colocado, já estava levantando para ir embora, pois não pensei que ficaria em primeiro. Então, chamaram meu nome e fiquei em estado de choque. Foi muita felicidade”, descreve.
Segundo da inter-regional
Para competir no Enart, é necessário passar por duas eliminatórias, uma regional e outra inter-regional – nesta última, participam representantes de oito regiões tradicionalistas. Na primeira etapa, Schulz foi bem e classificou-se para a seguinte, que ocorreu na cidade de Ijuí, no noroeste do Estado, e que garantiria vaga para Santa Cruz do Sul. “Eu tinha dois causos na cabeça. Um muito bom e outro mais ou menos. Pensei em usar o mediano para conseguir a vaga para o Enart, mas quando cheguei em Ijuí me deparei com mais de 30 participantes e só oito iriam para a etapa final. Decidi usar o meu melhor causo para conquistar a vaga”, conta o tradicionalista, que ficou em segundo lugar.
Como a história tem que ser inédita – ou seja, nunca usada em nenhuma competição do Estado – Schulz decidiu aprimorar sua experiência de infância que, inicialmente, era considerada “mais ou menos”. “O contador não pode mentir. A história tem que mostrar veracidade, teatralidade e temos que ter uma boa dicção. Não precisa ser engraçada, mas tem que envolver os jurados e os espectadores durante a narração. Eu acho que consegui fazer isso muito bem”, diz Schulz, que, embora modesto, foi muito elogiado por aqueles que ouviram seu causo, que durou cerca de sete minutos, dos nove que o competidor tem à disposição na disputa.
Quase desistiu
Schulz confessa que pensou em não participar da etapa estadual. Isso porque, na inter-regional, a invernada artística do CTG Paisanos da Tradição não obteve a classificação para Santa Cruz do Sul. “Como patrão, fiquei bastante triste, afinal, todos se empenharam muito para conquistar a vaga. Confesso que só não desisti porque a entidade pode ser punida se não mandar o representante classificado para a competição”, revela.
Claro que ele não se arrependeu e, hoje, exibe com orgulho o troféu mais importante de sua vida dentro do tradicionalismo. “Estou emocionado, ainda choro quando lembro do momento em que chamaram meu nome. A ficha demorou muito para cair. Mas hoje sei que até o Enart do ano que vem sou o melhor contador de causo do Rio Grande do Sul”, conclui, emocionado.
Reportagem: Raquel Konrad
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