Colegas se unem para trazer crianças haitianas

O terremoto que abalou o Haiti em janeiro de 2010 deixou 200 mil mortos e mais de 2 milhões de desabrigados – equivalente a um em cada cinco habitantes. A tragédia fez com que milhares de haitianos que já sofriam com a miséria antes do fenômeno – segundo o Banco Mundial, 8 em cada 10 vivem com menos de R$ 5 por dia – deixassem o país em busca de um local onde pudessem trabalhar e enviar recursos a seus familiares que por lá permanecem. Assim como outros 800 imigrantes vindos do Haiti que hoje vivem em Bento Gonçalves (dados coletados pela Pastoral Migratória da Paróquia Santo Antônio), Gina Jules, de 29 anos de idade, decidiu vir para a cidade. 

Ela deixou seus dois filhos, Skaina, de 4 anos, e Pablo, de 3, com a mãe. Em março deste ano, a avó das crianças faleceu, fazendo com que Gina ficasse em desespero – Skaina e Pablo acabaram sendo cuidados de forma temporária por uma vizinha. Apesar de estarem em boas mãos, o coração de mãe não ficou tranquilo. Preocupados e comovidos com a situação vivia por ela, os colegas de trabalho de Gina na Rinaldi se prontificaram a ajudar. Após uma campanha que durou meses e ultrapassou as fronteiras da empresa, eles juntaram o dinheiro necessário para as passagens e conseguiram trazer as crianças para o Brasil. Passados quase oito meses desde a morte da avó, os pequenos chegaram à cidade no início de dezembro. A família agora necessita da doação de roupas infantis, principalmente de inverno, cama e alimentos.

O drama da família, que agora parece estar próximo do fim, começou antes mesmo do terremoto. “Em Porto Príncipe nós passávamos fome, era muita miséria. O pai das crianças nos largou quando o Pablo tinha quatro meses, para viver com outra mulher e nunca nos ajudou. Depois do terremoto, tudo piorou. Nossa casa foi destruída e perdemos familiares na tragédia”, relata Gina, que já aprendeu a falar português. Ao chegar ao Brasil, Gina morou durante sete meses em Minas Gerais antes de se mudar para Bento. Ela trabalha na Rinaldi há pouco mais de um ano. 

Depois do choque de receber a notícia da morte da mãe, Gina não teve dúvidas de que traria os filhos para o Brasil, mas a falta de dinheiro adiou os planos. “Presenciamos o desespero da Gina quando ela foi informada sobre a morte da mãe. Sabendo disso, não medimos esforços para arrecadar o dinheiro das passagens a fim de que ela pudesse voltar ao país e trazer os filhos para cá”, descreve Laura Piccin Pandini, colega de trabalho da haitiana. “Os apelos por ajuda foram feitos aos demais empregados da empresa. E eles levaram o pedido aos familiares e amigos. Além de termos conseguido todo o valor necessário para cobrir as despesas da viagem, conseguimos pagar pela emissão dos vistos das crianças e demais taxas envolvidas. Arrecadamos também móveis, eletrodomésticos, roupas, alimentos e alguns brinquedos para doar a elas quando chegassem”, detalha.

Vinda ao Brasil

O que Gina não esperava é que mesmo com o dinheiro em mãos, a burocracia atrasaria o processo. De acordo com Laura, para poder trazer as crianças ao Brasil foram necessários oito meses. “Estávamos com as passagens compradas, mas enfrentamos grandes empecilhos para conseguir liberar os vistos das crianças. O maior problema era a dificuldade de comunicação com a Embaixada do Haiti e o constante desencontro de informações. Tentamos por vários meios agilizar, mas somente após meses de esforços é que conseguimos formalizar toda a documentação e confirmar a viagem”, detalha.

A chegada de Skaina e Pablo estava sendo bastante esperada por todos os colaboradores da Rinaldi que, de uma forma ou outra, também foram responsáveis por ajudar a realizar o desejo de Gina. “Meus filhos ficaram muito contentes em virem para o Brasil. Quero agradecer a todos por terem ajudado e desejar que Deus abençoe tanto eles quanto suas famílias”, conta Gina. Agora a luta da haitiana é para conseguir matricular as crianças em uma escola infantil a fim de que possa continuar trabalhando.

Ajude!

A família necessita de doações de roupas infantis, principalmente de inverno, nos tamanhos 4 (para menino) e 6 (para menina), cama infantil, roupa de cama e alimentos, principalmente leite. A entrega pode ser agendada na Rinaldi, através do telefone 3455 7500, ramal 7577, com Laura.

Reportagem: Katiane Cardoso


É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.

Enviar pelo WhatsApp:
Você pode gostar também