Com o auxílio da comunidade, Sala das Margaridas é inaugurada na delegacia de Bento
Iniciativa estadual, encabeçada em Bento pela delegada Deise Salton Brancher Ruschel, tem o intuito de oferecer um espaço reservado, seguro e humanizado para atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar
![](https://serranossa.com.br/wp-content/uploads/2021/12/Sala-das-Margaridas-1024x768.jpg)
“Embora delicada, a margarida pode ser considerada uma das flores mais resistentes da natureza. De cada pétala caída ou jogada ao solo, nasce uma nova flor, resiliente e resistente como a mulher”. Essa foi a inspiração da chefe de polícia do RS, delegada Nadine Anflor, criadora do projeto, para nomear as salas voltadas ao atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar no Rio Grande do Sul. Na terça-feira, 30/11, a 45ª Sala das Margaridas do estado foi inaugurada na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Bento Gonçalves. A iniciativa no município partiu da delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Deise Salton Brancher Ruschel, que há temos vinha lutando para concretizar o projeto. “O plantão policial é a porta de entrada das vítimas. É quando elas decidem romper o ciclo de violência. Um momento muito doloroso, que requer um olhar diferenciado”, comentou durante a cerimônia de inauguração da sala. “É um local reservado, acolhedor, separado do agressor, para que a vítima possa expor com tranquilidade os fatos, compreender com calma seus direitos e decidir com serenidade seu futuro”, complementou.
Durante sua fala, Deise se emocionou ao agradecer às pessoas que auxiliaram a concretizar o projeto. Isso porque a Sala das Margaridas de Bento foi inteiramente pensada e executada pela comunidade. O espaço foi projetado pela arquiteta Cláudia Nara da Silva Tomasi, que também reuniu uma equipe de trabalho para colocar o projeto em prática. A sala ainda teve a contrubuição do professor Moser Silva Fagundes, profissional de Ciências da Computação, que criou gratuitamente um programa para guiar os policiais na hora do registro da ocorrência. Já a voluntária Elisabeth Luci Toso Stefenon arcou com o primeiro curso de especialização em depoimento especial dos policiais de Bento. Todos receberam uma homenagem durante a cerimônia. “Em um futuro todas as delegacias funcionarão em uma central de polícia [referência ao projeto em andamento no Estado para centralização das quatro delegacias de Bento em um terreno na Planalto, doado pelo município]. Mas isso é futuro, não presente. E é o agora que nos impõe ações concretas. Por isso, gosto de pensar como o [Mário Sergio] Cortella: ‘Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor’”, citou a delegada Deise.
![](https://serranossa.com.br/wp-content/uploads/2021/12/Sala-das-margaridas-5-1024x683.jpg)
Ainda durante a sua fala, Deise ressaltou que a polícia civil de Bento segue firme em sua missão primeira de repreender e apurar a autoria dos crimes. Mas afirmou que essa principal atribuição não conflita, “em nada, o bom atendimento e acolhimento ao público vulnerável”. “Acredito que oferecendo atendimento cada vez mais qualificado e humanizado, mostraremos às mulheres que elas não estão sozinhas e que aqui encontrarão respeito e proteção”, declarou.
A diretora da divisão de proteção e atendimento à mulher, delegada Jeiselaure de Souza, reforçou em sua fala que o caminho que as vítimas percorrem até conseguirem sair do ciclo de violência é longo. “Segundo estudos, essas mulheres ficam, em média, 10 anos em um ciclo de violência. E nosso país é o quinto em número de feminicídios no mundo. Por isso precisamos fortalecer a rede de acolhimento, precisamos integrar toda a sociedade para combater essas violências”, disse. “A sociedade precisa entender que não é ‘mimi’. Que não há mulher que goste de apanhar e que em briga de marido e mulher se mete, sim, a colher. Então fico muito feliz em ver um projeto desses se concretizar, no qual todos colocaram não somente seu trabalho, tempo e talento, como seu coração”, complementou.
Representando a chefe de polícia Nadine, a diretora do departamento estadual de proteção a grupos vulneráveis, Caroline Machado, reforçou em sua fala a importância da denúncia, por meio dos diversos canais como o disque 100 e disque 180. “Precisamos do apoio da comunidade para que tenhamos conhecimento do que está acontecendo. Precisamos que a comunidade não se cale e denuncie. Porque a polícia não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, frisou.
![](https://serranossa.com.br/wp-content/uploads/2021/12/Sala-das-margaridas-4-1024x768.jpg)
De acordo com a delegada Deise, nos últimos meses houve um aumento significativo no número de ocorrências em Bento. “O que para mim é algo positivo, porque significa que mais mulheres se encorajaram a ir à delegacia denunciar”, analisou. Durante a pandemia houve uma baixa nas denúncias e a Polícia Civil ampliou os canais de comunicação para garantir que, mesmo sem poder sair de casa, as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar conseguissem denunciar a agressão. Agora, com condições de se deslocarem até à delegacia, o número voltou a aumentar. “Mas é importante ressaltar que neste ano já estamos com 81 feminicídios consumados no RS e mais de 300 tentados. Isso nos lembra da importância do registro das ocorrências e da comunicação do descumprimento de medidas protetivas. Mais de 90% dessas vítimas não tinha medidas protetivas válidas. Algumas sequer ocorrências. Então pedimos que as pessoas acreditem no trabalho da Polícia Civil. Estamos nos esforçando para fazer cada vez melhor”, declarou.
![](https://serranossa.com.br/wp-content/uploads/2021/12/Sala-das-margaridas-2-1024x683.jpg)
As Salas das Margaridas são utilizadas pelos policiais para o registro de ocorrências, para oitivas das vítimas, para a confecção do pedido de medias protetivas e demais ações desenvolvidas no plantão policial que fazem parte da Lei Maria da Penha. As vítimas são atendidas nesses espaços por policiais capacitados para “atender com empatia, acolhimento e sem julgamento”, garantiu a delegada Deise.