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Com o auxílio da comunidade, Sala das Margaridas é inaugurada na delegacia de Bento

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Iniciativa estadual, encabeçada em Bento pela delegada Deise Salton Brancher Ruschel, tem o intuito de oferecer um espaço reservado, seguro e humanizado para atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar

Foto: Eduarda Bucco

“Embora delicada, a margarida pode ser considerada uma das flores mais resistentes da natureza. De cada pétala caída ou jogada ao solo, nasce uma nova flor, resiliente e resistente como a mulher”. Essa foi a inspiração da chefe de polícia do RS, delegada Nadine Anflor, criadora do projeto, para nomear as salas voltadas ao atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar no Rio Grande do Sul. Na terça-feira, 30/11, a 45ª Sala das Margaridas do estado foi inaugurada na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Bento Gonçalves. A iniciativa no município partiu da delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Deise Salton Brancher Ruschel, que há temos vinha lutando para concretizar o projeto. “O plantão policial é a porta de entrada das vítimas. É quando elas decidem romper o ciclo de violência. Um momento muito doloroso, que requer um olhar diferenciado”, comentou durante a cerimônia de inauguração da sala. “É um local reservado, acolhedor, separado do agressor, para que a vítima possa expor com tranquilidade os fatos, compreender com calma seus direitos e decidir com serenidade seu futuro”, complementou.

Durante sua fala, Deise se emocionou ao agradecer às pessoas que auxiliaram a concretizar o projeto. Isso porque a Sala das Margaridas de Bento foi inteiramente pensada e executada pela comunidade.  O espaço foi projetado pela arquiteta Cláudia Nara da Silva Tomasi, que também reuniu uma equipe de trabalho para colocar o projeto em prática. A sala ainda teve a contrubuição do professor Moser Silva Fagundes, profissional de Ciências da Computação, que criou gratuitamente um programa para guiar os policiais na hora do registro da ocorrência. Já a voluntária Elisabeth Luci Toso Stefenon arcou com o primeiro curso de especialização em depoimento especial dos policiais de Bento. Todos receberam uma homenagem durante a cerimônia. “Em um futuro todas as delegacias funcionarão em uma central de polícia [referência ao projeto em andamento no Estado para centralização das quatro delegacias de Bento em um terreno na Planalto, doado pelo município]. Mas isso é futuro, não presente. E é o agora que nos impõe ações concretas. Por isso, gosto de pensar como o [Mário Sergio] Cortella:  ‘Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor’”, citou a delegada Deise.

Delegada Deise Salton Brancher Ruschel. Foto: Eduarda Bucco

Ainda durante a sua fala, Deise ressaltou que a polícia civil de Bento segue firme em sua missão primeira de repreender e apurar a autoria dos crimes. Mas afirmou que essa principal atribuição não conflita, “em nada, o bom atendimento e acolhimento ao público vulnerável”. “Acredito que oferecendo atendimento cada vez mais qualificado e humanizado, mostraremos às mulheres que elas não estão sozinhas e que aqui encontrarão respeito e proteção”, declarou.

A diretora da divisão de proteção e atendimento à mulher, delegada Jeiselaure de Souza, reforçou em sua fala que o caminho que as vítimas percorrem até conseguirem sair do ciclo de violência é longo. “Segundo estudos, essas mulheres ficam, em média, 10 anos em um ciclo de violência. E nosso país é o quinto em número de feminicídios no mundo. Por isso precisamos fortalecer a rede de acolhimento, precisamos integrar toda a sociedade para combater essas violências”, disse. “A sociedade  precisa entender que não é ‘mimi’. Que não há mulher que goste de apanhar e que em briga de marido e mulher se mete, sim, a colher. Então fico muito feliz em ver um projeto desses se concretizar, no qual todos colocaram não somente seu trabalho, tempo e talento, como seu coração”, complementou.

Representando a chefe de polícia Nadine, a diretora do departamento estadual de proteção a grupos vulneráveis, Caroline Machado, reforçou em sua fala a importância da denúncia, por meio dos diversos canais como o disque 100 e disque 180. “Precisamos do apoio da comunidade para que tenhamos conhecimento do que está acontecendo. Precisamos que a comunidade não se cale e denuncie. Porque a polícia não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, frisou.

Da esquerda para a direita, delegado regional Cleber dos Santos Lima, diretora do departamento estadual de proteção a grupos vulneráveis, Caroline Machado, delegada Deise, delegada Jeiselaure de Souza e secretário de Segurança de Bento, tenente-coronel Paulo César de Carvalho. Foto: Eduarda Bucco

De acordo com a delegada Deise, nos últimos meses houve um aumento significativo no número de ocorrências em Bento. “O que para mim é algo positivo, porque significa que mais mulheres se encorajaram a ir à delegacia denunciar”, analisou. Durante a pandemia houve uma baixa nas denúncias e a Polícia Civil ampliou os canais de comunicação para garantir que, mesmo sem poder sair de casa, as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar conseguissem denunciar a agressão. Agora, com condições de se deslocarem até à delegacia, o número voltou a aumentar. “Mas é importante ressaltar que neste ano já estamos com 81 feminicídios consumados no RS e mais de 300 tentados. Isso nos lembra da importância do registro das ocorrências e da comunicação do descumprimento de medidas protetivas. Mais de 90% dessas vítimas não tinha medidas protetivas válidas. Algumas sequer ocorrências. Então pedimos que as pessoas acreditem no trabalho da Polícia Civil. Estamos nos esforçando para fazer cada vez melhor”, declarou.

Foto: Eduarda Bucco

As Salas das Margaridas são utilizadas pelos policiais para o registro de ocorrências, para oitivas das vítimas, para a confecção do pedido de medias protetivas e demais ações desenvolvidas no plantão policial que fazem parte da Lei Maria da Penha. As vítimas são atendidas nesses espaços por policiais capacitados para “atender com empatia, acolhimento e sem julgamento”, garantiu a delegada Deise.

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