Com suspensão de atendimento aos finais de semana e à noite, setor do turismo contabiliza mais prejuízos

As restrições impostas pelo governo do Estado para conter o avanço da pandemia têm afetado diversos setores da economia. Com a determinação em decreto da suspensão das atividades aos finais de semana, feriados e abertura a partir das 20h, quem está apreensivo e contabilizando altos prejuízos é o setor de turismo. 

Nesta semana, diversas manifestações foram realizadas em todo o Estado por empresários e entidades que pedem o direito de trabalhar. Em Bento Gonçalves, faixas e cartazes foram espalhados em diversos pontos turísticos, como a Pipa Pórtico e Vale dos Vinhedos. Na tarde de quinta-feira, 25/03, outra manifestação chamou atenção, especialmente, nas redes sociais: mais de 50 empresários prometem abrir seus estabelecimentos a partir do dia 01/04, em dias e horários proibidos pelo decreto estadual. “Vamos abrir seguindo todos os protocolos de segurança e higiene que respeitamos desde o início da reabertura no ano passado. Não podemos continuar sendo os vilões da história. Abriremos à noite e aos finais de semana também. Todo trabalho que gera sustento para dentro de casa é essencial”, afirmou Lucas Freitas, proprietário de um restaurante. “Empresas estão quebrando. Isso é uma briga política, não temos que pagar por isso. Sinto muito por pessoas que partiram, também perdi pessoas bem próximas, mas não foi somente pelo vírus propriamente dito, mas sim por tudo o que ele causou”, desabafou o empresário.


 

De acordo com o secretário de Turismo de Bento Gonçalves, Rodrigo Parisotto, além de o setor sofrer com o atual momento da pandemia, que reduz o fluxo de turistas, as restrições diretamente dirigidas ao segmento prejudicam ainda mais quem depende disso para viver. “Praticamente o sustento vem do final de semana, são apenas dois dias da semana que mantêm a esperança de garantir que as empresas não fechem, mas no momento está restrito esse funcionamento justamente nos dias que garantem o sustento de tantas famílias”, comenta. 

Em Bento Gonçalves, as restrições chegam a afetar mais de 10 mil pessoas que atuam em quase 400 empresas. “Lamentamos o momento, mas não desistimos da construção de caminhos que garantam uma nova retomada segura. Nesse momento estamos seguindo com reuniões com representantes do setor para construção de um plano de ação que efetivamente vá garantir que isso aconteça. Mais do que nunca, o momento da pandemia é complexo, intenso, difícil, mas temos certeza que o setor está comprometido em dar seu melhor no trabalho e no enfrentamento através dos cuidados e ações sanitárias”, pontua o secretário.


 

Referência e pioneira no protocolo ambiente limpo e seguro, que tem como objetivo garantir a proteção de quem trabalha e evitar contaminações, a prefeitura acredita que, com a contribuição de todos e com o respeito aos protocolos, a retomada do turismo pode ocorrer. “Nenhum setor trabalhou tanto em protocolos e em ações como o turismo e precisamos o reconhecimento disso. Turismo não é o vilão”, finaliza.

De acordo com Gabrielle Signor Rodrigues, presidente do Bento Convention Bureau, o setor tenta pressionar o governo do Estado a adotar medidas mais coerentes do que a simples proibição de funcionamento do setor. “O turismo vem buscando diálogo com o governo estadual há 12 meses por meio do Comitê de Retomada do Turismo do Rio Grande do Sul, que reúne mais de 90 entidades do trade, sem sucesso. Não conseguimos uma única audiência com o governador nesse período para negociar nossos pleitos, que por inúmeras vezes foram encaminhados, mas sem qualquer retorno. É urgente chamar a atenção do governo do Estado para o setor, afinal, ele abrange 109 mil empresas no Rio Grande do Sul que estão passando por seríssimas dificuldades”, explica.

 

Empreendimentos estimam queda de 80% no movimento

Sócia-proprietária de uma pousada nos Caminhos de Pedra, Vanessa Cantelli relata que, com as restrições do ano passado, a diminuição do fluxo de turistas, a diminuição da capacidade de acomodação impostas pelos decretos, tudo isso aliado à suspensão das atividades aos finais de semana tem afetado o faturamento e a manutenção do negócio, que hoje emprega seis pessoas. “É um momento desafiador e talvez mais difícil que no ano passado, pois já viemos em um período de restrições e de redução de atendimento e querendo ou não os pequenos acabam sofrendo mais, porque temos menos fôlego”, comenta. Segundo ela, o movimento caiu em 80% e muitas reservas foram perdidas. “Algumas conseguimos remarcar, mas tivemos que efetuar diversos reembolsos. Em março, nosso resultado não chega a 10% de ocupação”, lamenta, explicando que os turistas que procuram a pousada hoje são pessoas da região, que buscam um lugar seguro e no interior para se isolar.

As perspectivas do futuro também não são animadoras. “Sabemos que o cenário pode se agravar em abril, principalmente a restrição do final de semana. Então o pouco movimento que tínhamos pode ser dissipado”, pontua. De acordo com Vanessa, durante a pandemia proprietários e funcionários não foram contaminados pelo coronavírus e ela também destaca que nenhum hóspede pegou o vírus no estabelecimento. O resultado é fruto de uma série de cuidados e protocolos impostos na pousada. “O café da manhã é servido no quarto ou ao ar livre e, ainda, no salão principal é marcado horário para que não haja aglomeração. No espaço com capacidade de 120 pessoas, que outrora realizávamos eventos, hoje servimos quatro pessoas em um ambiente todo arejado e ventilado. A limpeza dos quartos foi redobrada, com uma série de procedimentos, e optamos em não hospedar diferentes pessoas em dias seguidos. Após a limpeza, ele fica um dia sem uso e com todas as janelas e portas abertas”, detalha.

“A gente tem ciência que estamos fazendo de tudo e proporcionando segurança”, finaliza.


Vanessa Cantelli, proprietária de uma pousada nos Caminhos de Pedra

 

Restaurantes seguem calculando prejuízos

As medidas que impedem a suspensão de atividades aos finais de semana além de diminuir o fluxo de turistas também prejudicam especialmente pequenas empresas familiares que só atuavam aos sábados e domingos. É o caso da Addolorata Culinária Italiana, em Tuiuty, local onde toda a família atua. A queda do faturamento já chega a 70% em relação ao ano passado. “Além do restaurante, também não conseguimos mais realizar eventos e nem atividades do turismo em geral”, lamenta a proprietária, Verônica Tomasi. Para ela, o momento é de caos. “A gente tinha esperança do retorno mais rápido e efetivo das atividades, porém agora chegamos numa situação mais complicada e sem perspectiva de melhora”.


Verônica Tomasi, que abre os restaurantes apenas aos finais de semana, aponta queda de 70% no faturamento

É o mesmo caso da Casa Olga, em Monte Belo do Sul, que também atua apenas aos finais de semana. Para a proprietária do restaurante, Morgana Perin, as mudanças do decreto além de prejudicarem financeiramente os negócios também afetam psicologicamente os empreendedores. “Não sou contra as restrições, mas acho que deveriam ser mais pontuais e organizadas. Do jeito que é feito, além de piorar a crise econômica, afeta diretamente na qualidade da nossa vida. Somos um barco à deriva há mais de um ano. 

Medidas devem ser tomadas, estamos passando por uma pandemia sem precedentes. Na minha opinião para o respiro do sistema hospitalar deveríamos ter feito um lockdown de 15, 20 dias. Seria mais justo com todos. Não é hora de estimular o turismo, é duro, mas seria o correto. Eu sei que tem setores que estão sendo maltratados, o nosso é um deles, alguém sempre vai pagar a conta maior”, desabafa.
Para tentar amenizar os prejuízos os empreendimentos tentam se reinventar. A Casa Olga passou a fazer entregas de massas em Bento e região e a Addolorata passou a vender pratos congelados e atender por delivery.  “É uma ajuda financeira para meus gastos fixos. Ainda não precisei demitir ninguém, pois até hoje trabalho com extras, porém deixei de admitir duas pessoas”, comenta Morgana. 

O futuro, porém, segue incerto. “Projetamos uma crise financeira sem precedentes. Muitas pessoas terão que ser ajudadas, vai ser a hora de olhar para o próximo mais do que nunca. Teremos que nos reinventar ainda mais para que a economia volte a andar, mas criatividade sempre foi o forte do trabalhador brasileiro”, torce Morgana.


Morgana Perin, dona de um restaurante em Monte Belo, afirma que restrições poderiam ser mais justas e igualitárias

Vínicolas aguardam mudanças no decreto

Quem também sofre com as restrições ao turismo são as vínicolas. As familiares e menores, que tem no turismo boa parte de sua renda, lamentam as restrições de atendimento aos finais de semana. 
O turismo da Pizzato, localizada no Vale dos Vinhedos, 
comemorava o crescimento de visitantes e tem a intenção de seguir investindo, melhorando conforto, atendimento e por em prática os novos projetos.  “O atendimento antes das restrições era muito bom, inclusive no decorrer da semana, com altas variações nos feriados e datas especiais e a segurança do ambiente já era prática básica no dia a dia. Com a chegada da Covid os protocolos  foram complementados com o uso de mascaras, medição de temperatura, distanciamento ampliado e limitação no número de atendimentos”, comenta a proprietária, Jane Pizzato, que recebeu o selo de segurança no turismo.
A vinícola acredita que, com a retomada do atendimento, o cuidado preventivo será mantido como boas práticas e o formato de agendamento prévio, assumido frente as restrições.