Com visitas proibidas, Lar do Ancião se reinventa para proteger e entreter idosos
Pertencentes ao grupo de risco, os idosos têm sofrido duplamente com a pandemia do novo Coronavírus. De um lado, a doença COVID-19 tem provocado sérios danos à saúde física desse público, levando, inclusive à morte. De outro, o isolamento social tem gerado um aperto no coração daqueles que precisam ficar afastados de todas as pessoas que amam. Em Bento Gonçalves, os 50 idosos do Lar do Ancião têm enfrentado uma realidade diferente desde o dia 19 de março, quando as visitas foram canceladas no local – atendendo a uma determinação municipal.
Desde então, a fim de evitar catástrofes registradas em casas geriátricas de outros países – com infecção em massa de idosos – a equipe do Lar do Ancião tem posto em práticas cuidados especiais para garantir a saúde dos idosos e colaboradores.
“A enfermagem, liderada pela enfermeira Daniela, conta com todas as medidas de proteção indicadas: uso de álcool gel, lavagem das mãos, uso de propés, luvas, toucas e máscaras. Os funcionários da higienização, da lavanderia, da cozinha e do escritório foram orientados e estão seguindo as medidas protetivas”, afirma a médica cardiologista e voluntária do lar há 20 anos, Karine C. Bellotti Diefenbac.
Mas é na questão da saúde mental dos idosos que o Lar tem depositado seus esforços. “Nossos idosos entenderam a necessidade do isolamento social e a suspensão das visitas foi aceita por ambas as partes, pelo fato de que todos que estão lá fazem parte do grupo de maior risco da COVID-19”, afirma Karine.
Entretanto, auxiliar as pessoas acolhidas no Lar a lidarem com a saudade de familiares e amigos têm sido um desafio diário à equipe – vencido com esmero diante da dedicação e amor depositado por cada colaborador e voluntário. “Eles estão assistindo mais filmes, ouvindo músicas, fazendo pinturas e trabalhos com massas de modelar, jogando jogos e praticando atividades externas ao redor da casa, como piqueniques, caminhadas e exercícios com a fisioterapeuta. Em função do isolamento social, os próprios funcionários estão cuidando da parte estética, como manicure, cabelo e barba”, relata Karine.
O cuidado redobrado com a alimentação também tem sido o diferencial para o enfrentamento do isolamento, contando com pratos mais saborosos e saudáveis. Além disso, a médica e voluntária destaca o cuidado em evitar pensamentos negativos no ambiente. “Estamos tentando ao máximo deixá-los longe das más notícias que chegam pela televisão”, comenta.
Para seu Natalino, de 78 anos, as atividades extras realizadas durante esse período tem sido uma importante ferramenta para distração. “Em compensação que não posso receber visitas, eu ‘tô’ fazendo atividades, ginásticas e o piquenique que nós fizemos estava bom. Eu tô sentindo falta (da família), mas aqui dentro tá tudo bem”, declara. A dona Joana, de 77 anos, conta que pintar, bordar, caminhar, brincar e dar risada com as amigas tornam os dias mais leves. “Eu ‘tô’ me sentindo bem aqui”, afirma.
Fora do Lar do Ancião, a comunidade tem auxiliado com ações voluntárias, como acompanhamento psicológico e realização de compras em supermercados. “Estamos todos trabalhando juntos para distraí-los até passar este momento temeroso que estamos vivenciando”, afirma Karine.
E além dos resultados positivos alcançados por meio das estratégias adotadas, o carinho dos familiares continua sendo essencial para superar a distância. “Para driblar a saudade, o contato se faz por telefone e vídeos enviados. Porque precisamos protegê-los do vírus, mas devemos manter a humanidade”, finaliza a médica.
Fotos: Arquivo Pessoal