Comandante Alexander Eduardo Ferreira despede-se deixando legado a Bento
Cada comandante que atua no 6° Batalhão de Comunicações (6º BCom) procura deixar seu nome marcado na história do Exército e da cidade. Para o tenente-coronel Alexander Eduardo Ferreira, o objetivo não foi diferente: ao se despedir do posto nesta sexta-feira, dia 15, Ferreira deixa mais do que novos materiais, equipamentos, viaturas e qualificações de militares – ele torna-se o principal nome responsável pela permanência da corporação em Bento Gonçalves. Com o fim da 6ª Divisão do Exército de Porto Alegre, a cidade esteve prestes a ter seu batalhão extinto. “Senti a ansiedade e a expectativa da comunidade, como ocorreu na época da saída do 1º Batalhão Ferroviário, diante da possibilidade da saída do quartel de Bento. Tudo aquilo nos fez perceber ainda mais a importância e o carinho que todos têm pela nossa unidade”, avalia.
Com intermediações junto ao alto escalão, o comandante conseguiu reforçar o valor do Batalhão para toda a região e foi designado pelo comandante Militar do Sul, General Mourão, gerente do Projeto de Reestruturação, em maio de 2015. Com isso, desde a semana passada, Bento, ao invés de perder seu batalhão, recebeu duas novas unidades: a 15ª Companhia de Comunicações Mecanizada, os “boinas pretas”, e a 8ª Companhia de Comunicações. Estas e outras conquistas e desafios são destaques na entrevista que você confere a seguir:
Jornal SERRANOSSA: Há dois anos, quando o senhor chegou a Bento Gonçalves, como encontrou a estrutura do Exército, em relação a material, efetivo e, também, a expectativas de comando?
Comandante Alexander Eduardo Ferreira: Cheguei com minha família em 5 de janeiro de 2014 e assumi o comando do Batalhão do meu antecessor, coronel Lós. Encontrei a unidade bem estruturada em pessoal, com cerca de 500 militares, equipamentos modernos de comunicação que estavam chegando e, aproximadamente, 10 novas viaturas, que o quartel já tinha recebido. Minhas expectativas mesclavam a motivação de um novo desafio que eu escolhi enfrentar, pois o quartel de Bento era um sonho profissional, com as incertezas e inseguranças de encarar uma responsabilidade e carga que eu nunca havia tido antes na vida. Algo me dizia que o caminho era árduo, mas extremamente gratificante e compensador. Encarei e me dediquei de corpo e alma.
SN: Após dois anos, como o senhor deixa o Batalhão, em relação a esses mesmos temas?
Ferreira: O Batalhão, hoje, possui mais de 300 rádios e houve um acréscimo de equipamentos. Com isso, nossos militares se aperfeiçoaram com novas tecnologias. Recebemos repetidoras novas e viaturas de modelos diferentes, tais como vans, caminhão basculante e ônibus interestadual. Excelentes e necessárias aquisições. Adquirimos equipamentos de musculação, que permitem a nossos militares manter o preparo físico mesmo no clima frio do nosso inverno. Além disso, percorremos mais de 50 mil quilômetros em missões.
SN: Enquanto o senhor comandava o 6° BCom, mudanças importantes foram efetuadas pelo Exército Brasileiro, como a extinção da Divisão do Exército de Porto Alegre, e surgiram as indefinições em relação ao futuro do 6° BCom. Como foi participar deste processo?
Ferreira: Alguns meses após assumir o comando do quartel, recebi a informação de que a 6ª Divisão de Exército de Porto Alegre seria extinta e que se pensava, também, em extinguir o Batalhão. Iniciamos um trabalho de convencimento com superiores e chefes militares de que o Batalhão possui um importante papel nas comunicações do sul do país, além de grande relevância no seio da comunidade da Serra Gaúcha. Após algumas reuniões, foi decidido que o Batalhão não seria extinto, mas deveria ser dividido, originando frações menores (duas companhias), para apoiar outros grandes comandos. Fui designado pelo Comandante Militar do Sul, General Mourão, gerente do Projeto de Reestruturação, em maio de 2015. Reuni a equipe, composta pelos meus destacados oficiais e sargentos, e terminamos o projeto em Agosto de 2015. Senti a ansiedade e a expectativa da comunidade, como ocorreu na época da saída do 1º Batalhão Ferroviário, diante da possibilidade da saída do quartel de Bento. Inclusive, os prefeitos da região vieram até minha sala de reuniões para manifestar seus anseios de permanência. Tudo aquilo nos fez perceber ainda mais a importância e o carinho que todos têm pela nossa unidade.
SN: Durante o seu comando, também ocorreu a Copa do Mundo no Brasil.Qual foi a importância desta missão e qual foi o legado que a Copa deixou para o Exército de Bento?
Ferreira: A Copa do Mundo foi um capítulo à parte no meu comando. A cobertura jornalística realizada pela imprensa de Bento e, em especial, pelo SERRANOSSA, durante a preparação para a Copa do Mundo, foi extraordinária! A missão foi real, com emprego maciço dos militares de Bento. Nosso Batalhão foi a maior tropa de comunicações presente em Porto Alegre, com mais de 200 militares em rodízio, algo marcante para a vida dos nossos soldados e para a história do emprego do nosso quartel. O sucesso da missão foi notável e fomos elogiados pelo comandante de Operações Terrestres como a melhor sede, dentre as 12 desdobradas. O quartel recebeu recursos, equipamentos novos de comunicação e informática. Novas e plenas viaturas, o que permite deslocar todo o efetivo do quartel sobre rodas, algo que há tempos não tínhamos.
SN: Também durante o seu comando, ocorreram outras missões, como a de paz no Haiti, que levou dezenas de militares para aquele país. Como foi receber a preparação para a tarefa?
Ferreira: Refletindo bem, quanta coisa boa aconteceu com nosso Batalhão nestes dois últimos anos! Esta entrevista nos faz perceber e evidenciar isso. A escolha de nossa unidade para compor o Pelotão de Comunicações do Haiti é um claro exemplo. Após uma dura preparação técnica, psicológica, física e sanitária, destacamos 19 militares para a Missão de Paz no Caribe. Tenho contatos quase diários com nossos militares e os elogios que recebo são constantes. Nosso Pelotão de Comunicações está elevando o nome de Bento Gonçalves e expondo o valor dos nossos militares. É uma honra!
SN: O senhor buscou abraçar diferentes projetos na cidade, como a Casa Geisel, e, inclusive, propôs que o 6° Batalhão de Comunicações tivesse um apelido: Batalhão Presidente Geisel. Como está o andamento destes projetos?
Ferreira: A partir de 2016, o 6º Batalhão de Comunicações recebeu, após a proposta que foi encaminhada ter sido aprovada pelo Comandante do Exército, a Denominação Histórica de Batalhão Presidente Geisel. A justa homenagem visa a honrar o responsável pela criação de nosso quartel e, mais do que isso, agraciar um notável bento-gonçalvense, militar e presidente da República. Quanto à Casa Geisel, realmente foi encaminhado ao escalão superior um projeto que objetiva, se aprovado, revitalizar a casa onde o ex-presidente passou sua infância. O Exército possui normas e instruções que regulam a criação de museus, casa histórica e espaços culturais. No entanto, além do alto custo na recuperação, o Exército necessita de recursos para viabilizar o projeto.
SN: O senhor também procurou se inserir ativamente nas atividades da comunidade, participando de eventos, ações sociais e jantares comunitários, tendo, inclusive, promovido diversas formaturas, abrindo as portas do Batalhão para a comunidade. Um dos fatos mais marcantes para Bento foram as corridas em diferentes bairros, que chamavam a atenção. Que retornos o senhor teve com tais experiências?
Ferreira: O perfil do comandante influencia no estado de espírito e na motivação da tropa. Em outras palavras, a tropa é o espelho de seu comandante. Sempre tive um perfil popular e acessível. Acredito na necessidade do Exército estar inserido na comunidade, afinal, nós fazemos parte dela e à ela servimos. Logo, sempre que podia, buscava aproximar a nossa tropa da sociedade. Assim foi no Dia das Comunicações, do Exército, da Pátria e, mensalmente, nas nossas corridas pela cidade. O resultado foi, sem dúvida, muito positivo para a imagem do Exército e, também, para a motivação da nossa tropa. Sentirei muita falta das nossas corridas. Cheguei a perceber pessoas nas ruas tirando fotos e vídeos da nossa tropa. Ações como essa, que denotam o prestígio e a admiração que o público tem pelos militares, nos enchem de orgulho e nos dignificam.
SN: A sua esposa também teve um importante papel na comunidade, ao ajudar na implantação da Escola de Tempo Integral de São Roque e, também, na reestruturação da casa que atende os autistas. Como é, para o senhor, ver que ela também deixará um legado para a cidade?
Ferreira: Sinto-me honrado em ter uma esposa tão participativa. Como sabem, ela é pedagoga, esposa de militar (ou seja, dois anos em cada cidade), dona de casa, mãe de um menino autista, entre outros atributos e aspectos. Quando se reúne todos esses fatores e a pessoa consegue apresentar o que há de melhor em seu desempenho, não tem como não se apaixonar. Ela é uma guerreira; sinto um orgulho imenso do trabalho por ela desenvolvido e, se minha estada na Serra Gaúcha foi marcante para mim, em grande parte, isso se deve à belíssima história que minha esposa deixou de legado, tal como o apoio na implantação da EMTI São Roque e da Associação Conquistar (para autistas).
SN: O senhor também procurou reverenciar a história do seu Francisco Pértile, pracinha bento-gonçalvense na Segunda Guerra, prestando, inclusive, diversas homenagens a ele. O que aprendeu e leva para a vida com esse importante nome para a cidade?
Ferreira: O “seu Pértile” é e sempre será minha referência de herói! Nós temos um combatente da 2ª Guerra Mundial vivo e nos contando histórias. Podemos vê-lo e cumprimentá-lo nas formaturas. Devemos a ele os mais nobres sentimentos de dever cumprido, de coragem, de ter sido lançado em solo estrangeiro e voltado com a vitória na bagagem. Por tudo isso, minha admiração pelo “Tchêco” é incansável. Acho mesmo que os mais jovens deveriam conhecê-lo e saber de sua história. Muitos valorizam “falsos heróis” que não deram o sangue pela Pátria, e que não se lançaram frente ao inimigo para lutar pela nossa liberdade. Enquanto eu puder, irei valorizar esse nobre guerreiro e assim o farei na minha formatura de passagem de comando. Ele merece minha melhor continência!
SN: Por fim, qual é o seu sentimento com relação a este fim de trajetória em Bento, quais momentos o senhor julga que foram os mais marcantes e quais gostaria de ter evitado?
Ferreira: A sensação é de tristeza, por ter que deixar algo que você ama, que construiu e fortaleceu, diariamente, com carinho e atenção. Por outro lado, um enorme sentimento de missão cumprida, com a ajuda dos meus oficiais, subtenentes, sargentos, cabos e soldados, engrandece meu espírito militar e me faz erguer o queixo e bradar: feito! Estou orgulhoso de tudo o que vivi. Meu próximo destino será a cidade de Brasília, onde trabalharei no Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. Agradeço toda a atenção que nos foi dispensada e o carinho da cidade e das amizades que fizemos. Saibam que todos ficarão marcados.
Tenente-coronel Lucio Guerra assume comando
Quem assumirá o lugar do tenente-coronel Alexander Eduardo Ferreira é o tenente-coronel Lúcio Guerra. A Formatura de Passagem de Comando ocorre nesta sexta-feira, dia 15, a partir das 10h, na sede do Batalhão. Também serão apresentados à comunidade os capitães da 8ª Companhia de Comunicações e da 15ª Companhia de Comunicações Mecanizada, Leandro Silva Nery e Bruno Fernandes de Magalhães, respectivamente. Na próxima semana, você confere uma entrevista com o novo comandante do 6° BCom.