Comerciantes agonizam na quarta semana seguida de bandeira vermelha

Há mais de 40 anos atuando no comércio bento-gonçalvense, Helenir Bedin, proprietária das lojas Carllize, já passou por diversas crises e mudanças no cenário econômico do país: troca de moeda, plano real, crises políticas, entre outras mudanças e cenários que impactaram a vida da população de forma significativa. No entanto, o novo coronavírus, que atinge o mundo todo e, obviamente, castiga Bento e região, é para a empresária a maior crise de todos os tempos. “Mesmo nos momentos mais difíceis, o cliente continuava dentro das nossas lojas. Hoje não mais. O que esta pandemia está trazendo e a forma como os governos estão lidando com este vírus está acabando com a gente”, desabafa a comerciante.

Ao entrar na quarta semana consecutiva na bandeira vermelha, comércios e restaurantes de Bento estão impedidos de receber seus clientes dentro dos estabelecimentos. Mesmo com a possibilidade de trabalhar com pegue e leve e com o sistema de tele-entrega, a falta do atendimento presencial tem afetado profundamente as vendas. Helenir afirma que a queda nas vendas nos últimos 4 meses já ultrapassa 40% e a tendência é piorar. “O inverno se perdeu e o estoque está quase todo dentro da loja. Muitos pedidos foram cancelados ou readequados. Optamos, por exemplo, em investir em uma linha conforto buscando atingir o consumidor que está mais tempo em casa neste momento, e também para tentar diminuir os prejuízos”, revela ela, que já fechou uma de suas lojas, que era exclusiva para o público Plus Size. 


 

Restaurantes acumulam quedas
Robson Cusin e Janaina Rigo, proprietários do restaurante Portuguesa, do bairro Humaitá, contam que serviam 220 almoços por dia antes da pandemia e agora este número não ultrapassa 40. “O mais complicado é a incerteza de quando tudo vai voltar ao normal. Nosso cliente é acostumado a vir aqui e se servir à vontade. Hoje, mesmo com o pegue e leve e com entregas de marmitas, este formato não está ajudando a reverter o cenário. Outro problema é que muitos não têm onde fazer a refeições: eles retiram o prato e se alimentam no meio fio ou dentro do carro”, relata Cusin.
A empresa ainda fez demissões, adotou as medidas do governo para redução de jornada e salários, mas mesmo assim só vê os prejuízos crescerem. “Não sabemos mais para onde correr”, revela o empresário, que têm o restaurante há mais de 10 anos.

“Estamos praticamente pagando para trabalhar”
Daiane Magnaguagno, proprietária da Recanto Nativo, especializada em artigos do tradicionalismo gaúcho, conta que desde março os números só caem. A empresária revela que viu o faturamento despencar 80% em abril, e no mês que as vendas foram um pouco melhores, ainda assim a queda foi de quase 60%. “Tínhamos uma reserva financeira e, devido a isso, não precisamos demitir ninguém, mas fizemos mais por empatia, pois o nosso faturamento caiu assustadoramente, praticamente estamos pagando para trabalhar. Como o prédio é próprio, não temos que arcar com o custo de aluguel, o que nos alivia um pouco, mas todo fim de mês dá vontade de chorar, de verdade. Essa incerteza irá quebrar muitos empreendimentos que não estão podendo trabalhar. É muito triste e preocupante”, pontua Daiane.
Com o fechamento dos centros tradicionalistas (CTGs), dos eventos, além de cursos de danças que movimentavam o segmento, a esperança de dias melhores está cada dia mais escassa. “Certamente não teremos festejos farroupilhas, as escolas não terão a movimentação peculiar da época de setembro e da semana do Gaúcho e assim seguiremos. Entendemos que o vírus é perigoso, mas adotamos todas as medidas de proteção e, sinceramente, não é nos pequenos comércios que o vírus se propaga”, desabafa.
É o que também pensa Helenir Bedin, que afirma que todo o comércio se preparou exaustivamente para atender a população de maneira segura, seguindo todos os protocolos exigidos pelos órgãos de saúde. “A gente investiu, se preparou e toma todos os cuidados para receber pessoas nos nossos estabelecimentos. E as ferramentas que tentamos adotar neste momento, com publicações na internet e redes sociais, não são tão eficientes. As vendas online não superam as presenciais. Temos aluguéis, funcionários, despesas fixas que não diminuíram. Estamos com nossas lojas inativas e está cada dia mais difícil continuarmos”, aponta.


 

“Fechar não é a solução”
O presidente do Sindilojas, Daniel Amadio, afirma que a entidade apoia “toda e qualquer iniciativa que flexibilize as restrições ao comércio”. Amadio comenta que o Sindilojas está trabalhando junto ao poder público municipal e cobrando do governo do Estado, usando a força da Fecomércio-RS. “Queremos mostrar que priorizar somente a saúde não é o único caminho. O comércio fechado não resolve a questão dos contaminados”, garante ele, que comenta que a entidade ainda está apoiando os empresários em iniciativas que criem novos canais de venda.
Com a expectativa de que a juíza da comarca de Bento Gonçalves, Carina Paula Chini Falcão, reavalie sua decisão que suspendeu a operação dentro da bandeira intermediária, levando em consideração todos os investimentos feitos pelo Poder Público e iniciativa privada no enfrentamento do Coronavírus, o Sindilojas aponta que seguirá atuando em diversas frentes, seja em sua base territorial que compreende 11 municípios (Barão, Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Coronel Pilar, Garibaldi, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, Santa Tereza, São Pedro da Serra e São Valentim do Sul), seja  nível estadual junto a Fecomércio.

 

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