Como evitar tantos acidentes de trânsito?

O alto número de atropelamentos e acidentes com morte registrados em Bento Gonçalves nos primeiros dois meses de 2012 assustou e chamou a atenção de moradores: o que está acontecendo com o trânsito? Para especialistas ouvidos pelo SERRANOSSA, a questão é cultural e a fórmula para pacificar as ruas é uma só: mais educação. Trabalho para mobilizar adultos e crianças.

Para o professor de Sociologia da UCS Ricardo Baldazzare, a questão da violência no trânsito é cultural. “No Brasil a cultura vive mais da sedução e menos da regulamentação. E o carro serve para se exibir também”, comenta. “Há muitos carros nas ruas, muita imprudência. As pessoas não se dão conta de que deveria haver limites. Não se pode achar que tudo é possível”, alerta.

A professora de Psicologia da UCS, Maria Elisa Fontana Carpena, afirma que o comportamento dos motoristas não é diferente do que se vê em outras esferas da sociedade. “A violência no trânsito reflete o que a sociedade está vivendo: o individualismo e a competitividade. O trânsito é um dos lugares em que isso mais aparece. Motoristas competem com outros motoristas e com os pedestres”, explica Maria Elisa.

Para o secretário municipal de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana de Bento Gonçalves, Heber Moacir dos Santos, duas questões devem ser levadas em conta: a falta de atenção dos pedestres e a irresponsabilidade dos motoristas. “As pessoas não atravessam na faixa de segurança e os motoristas também não as respeitam”, avalia. Para os três, a receita para amenizar os problemas no trânsito não só em Bento Gonçalves, mas em todas as cidades brasileiras é a mesma: educação.

Mais educação

O professor Ricardo Baldazzare diz que é necessário levar conscientização para as escolas e qualificar as aulas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), nos Centros de Formação de Condutores (CFCs). “É preciso apostar mais nas ações educativas. E até o momento de entregar a carteira de habilitação para o novo motorista, deve-se exigir mais dele. Também é necessário que o poder público tome medidas pontuais para controlar o trânsito na cidade”, enumera.

O secretário Heber Moacir dos Santos, aponta a necessidade de mais consciência da sociedade quando o assunto é trânsito. Segundo ele, a prefeitura vem trabalhando essa questão com as escolas e também com taxistas e pais de estudantes. “Existem mães e pais que levam os filhos para a escola e fazem a criança desembarcar no meio da rua, que param em fila dupla ou que param em cima da faixa de segurança, impedindo que as outras pessoas e os próprios filhos usem a faixa. A sensação que dá é de que largam o filho de qualquer jeito”, conta.

Para a professora Maria Elisa Fontana Carpena, o caminho para a diminuição da violência no trânsito passa pela revisão e resgate de valores como o companheirismo e a empatia. “Essas questões devem ser tratadas pela via da educação. E acho que já estamos atrasados”, conclui.

Jovens lideram estatísticas

Os jovens são as maiores vítimas do trânsito e seu comportamento também contribui para essa violência. Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), 29% das vítimas fatais de acidentes no Rio Grande do Sul em 2011 tinham entre 18 e 29 anos de idade. “O jovem pensa que tem a força, que é inesgotável. Mas não se pode achar que tudo é possível”, comenta Baldazzare. “Os jovens são muito vulneráveis a situações de risco. Eles não têm percepção de risco, não têm experiência para confrontar situações”, afirma a professora Maria Elisa. “Estão em uma etapa da vida em que o desafio e a adrenalina os alimentam. Eles acham que estas coisas ruins só acontecem com os outros”, lamenta.

Levantamento

Segundo estatística do SERRANOSSA, sete moradores de Bento já perderam a vida no trânsito neste ano, sendo dois por atropelamento e cinco em colisões. No município, a média de idade das vítimas fatais de acidentes ocorridos desde o início do ano é de 48 anos, número que contraria os índices estaduais. No RS, a média de idade dos mortos nas estradas varia de 18 a 29 anos. Entre os pedestres vítimas de atropelamento, predominam pessoas de 65 a 74 anos, segundo dados computados entre 2007 e 2011.

Casos mais recentes

No último final de semana mais duas mortes foram registradas na região, vitimando dois moradores bento-gonçalvenses. Na sexta-feira, dia 9, a colisão entre um Uno e uma Scania, ambos com placas de Bento, vitimou João Batista Aldrovandi, de 46 anos, no quilômetro 212 da RSC-470. Poucas horas depois, no quilômetro 106 da RSC-453, um acidente tirou a vida de Felipe Canalle, de 19 anos. Ele dirigia um Golf comprado no mesmo dia, quando colidiu contra um caminhão de Santo Ângelo.

Reportagem: Eduardo Kopp

 

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