Comunidade Terapêutica comemora bons resultados

A Comunidade Terapêutica Rural de Bento Gonçalves, única no país mantida exclusivamente pelo Poder Público, comemora bons resultados. Dos 297 pacientes que passaram pela unidade desde a sua abertura em março de 2011, um terço concluiu o tratamento. O coordenador, Leonar Copat, explica que 30% dos que concluíram o tratamento permanecem em sobriedade, enquanto a média nacional é de 3% a 5%. “Estes índices nos dão a certeza de que o trabalho é positivo”, comenta.

Os dados foram apresentados nesta semana, durante encontro para a imprensa promovido pela prefeitura no local, na comunidade de Passo Velho, no distrito de Tuiuty. Recentemente, a estrutura passou a ser considerada uma unidade de saúde avançada, com atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS) e funcionando como uma extensão dos trabalhos realizados no Centro de Atendimento Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps-AD). As mudanças foram necessárias para adequar-se à portaria estadual 591, de 19 de dezembro de 2013, que disciplina as exigências mínimas para o funcionamento de comunidades terapêuticas. Com as mudanças, houve 68% de melhora nos indicadores de desistência. O menor número registrado foi de apenas um abandono em dois meses. A média atual é de um caso mensal, mas já chegou a ser praticamente diária.

Além da administração exclusiva por parte do município – antes havia apoio de entidades – houve outras adequações.  O tempo de internação também mudou, passando de nove para seis meses. Se após esse período o paciente não se sentir preparado, pode permanecer mais 90 dias no local, e posteriormente, também virar monitor. Os residentes contam com apoio de uma equipe multidisciplinar, que inclui psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Cada paciente tem um plano terapêutico individualizado. “O tratamento não foca só na doença, é um projeto de vida”, detalha Copat.

A permanência é voluntária, podendo o tratamento ser interrompido a qualquer tempo, a critério do usuário. Os pacientes passam por um período de desintoxicação de 15 dias, realizado no Caps-AD. Durante este tempo, o dependente participa de atividades que iniciam no período da manhã e seguem até o final da tarde. Em alguns casos, por desejo do paciente ou em situações mais delicadas, o processo é feito mediante internação hospitalar. “A taxa de desistência dos pacientes que passam pela desintoxicação no Caps-AD é menor”, explica a coordenadora do serviço, Marlene Demari Webber, que foi uma das precursoras da criação do espaço, há 20 anos.

Naquela época, o projeto foi concebido pelo grupo Amor Exigente, do qual ela fazia parte. O terreno foi adquirido com recursos federais e a construção do prédio se estendeu durante 10 anos, de 2001 a 2011. Toda a obra foi financiada pelo Poder Público e contou com o apoio de empresários, da comunidade e da Associação Vida Livre. O custo total do empreendimento foi de R$ 700 mil.

A Comunidade Terapêutica Rural de Bento Gonçalves é exclusiva para homens adultos e tem espaço para 32 residentes. O local já chegou a receber 28 pacientes, mas, atualmente, 22 dependentes químicos estão em tratamento.  A manutenção do serviço custa cerca de R$ 80 mil ao município. Os custos exatos são difíceis de calcular, já que muitos reparos na estrutura são feitos pelas secretarias. Em clínicas particulares, um tratamento semelhante custa em torno de R$ 6 mil mensais.

Autossustentabilidade

A proposta é que a comunidade se torne autossustentável, ampliando a área utilizada para plantio. Dos 12 hectares disponíveis, apenas dois estão sendo utilizados hoje. Boa parte dos alimentos consumidos já é cultivada no local, que aos poucos também está investindo na criação de animais. A intenção é que no futuro a produção possa ser comercializada, tanto para merenda escolar como para o consumidor final, tornando-se uma alternativa de renda, até mesmo após a conclusão do tratamento.

Apoio familiar

Muitos pacientes sentem-se perdidos após o período de internação, cercados de incertezas sobre a volta ao convívio em sociedade. Para ajudar no processo de transição, há cerca de 45 dias os familiares criaram a Associação Novo Amanhã (ANA). “É uma doença que desestrutura qualquer família. Faço isso por gratidão. Tenho gratidão por hoje ter um filho em casa e poder passar o Dia dos Pais junto com ele”, conta Airton Dias Ribeiro, presidente da entidade. Seu filho, de 27 anos, completou o tratamento na Comunidade Terapêutica Rural após outras duas internações em outros municípios e agora já está, inclusive, trabalhando. “Queremos ajudar os familiares, para que entendam que não são os culpados do problema. Um dos ‘Doze Passos’ é levar o conhecimento adiante”, explica, referindo-se a um dos tradicionais programas utilizados no tratamento da dependência química.

A importância do grupo

O apoio dos outros colegas e dos familiares é considerado como um incentivo à continuidade do tratamento, como relata um dos residentes, de 44 anos. “O grupo é o que nos dá força. É um barco onde todos estão juntos”, conta. Há cerca de cinco anos dependente do álcool, esta é a sua segunda internação – na primeira, realizada em outro município, desistiu do tratamento por questões pessoais. Chegou a ficar “limpo” durante um ano e meio, quando teve uma recaída. “Participava de três grupos de apoio e, por questões de trabalhos e outros compromissos, acabei deixando de frequentar. Foi quando tive a recaída”, lembra.

O suporte da família também é outro fator importante. “Tenho apoio da minha mulher e dos meus filhos”, afirma o homem, que está no local desde abril e não descarta a possibilidade de virar monitor após a conclusão do tratamento. “O ideal é não esperar chegar ao fundo do poço. Feio é não procurar tratamento”, finaliza.

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