Comunidade Terapêutica completa um ano

Considerado um dos projetos mais inovadores no tratamento de dependentes químicos no Rio Grande do Sul, a Comunidade Terapêutica Rural de Bento Gonçalves, completou um ano de funcionamento no último dia 19. Desde sua criação, 15 pacientes foram atendidos através do Sistema Único de Saúde (SUS), e a primeira alta ocorreu nesta semana.

Na avaliação dos coordenadores, apesar de estar começando, o trabalho pode ser considerado satisfatório, uma vez que contempla uma demanda antes desassistida no município. “Não há estatísticas confiáveis sobre a eficácia das Comunidades Terapêuticas na literatura médica, principalmente no Brasil. No entanto, devido a minha experiência, posso afirmar que em Bento Gonçalves o método tem sido eficiente”, garante o coordenador técnico e médico psiquiatra Deivid Francioni dos Santos.

O serviço é exclusivo para homens moradores de Bento Gonçalves, com idade mínima de 18 anos. No local são atendidos todos os tipos de dependência. “Embora exista maior prevalência de pessoas dependentes de cocaína e de crack, esses dois entorpecentes são classificados juntos, devido a aspectos farmacológicos. Mas, em via de regra, o crack predomina e são atendidos também pacientes alcoólatras”, explica.

Participação da família

O coordenador destaca que a eficiência do tratamento depende, também, da participação dos familiares. “Os residentes podem receber visita após o primeiro mês de internação, no entanto é necessário que os familiares frequentem grupos, pois o envolvimento dos mesmos na reabilitação do dependente é essencial”, destaca.

Os aconselhamentos em grupo são realizados também de forma gratuita, no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps-ad). Nesse mesmo local é feita a triagem daqueles que serão internados. “Nem todas as pessoas que buscam tratamento, necessitam ser internadas. Em sua maioria, os pacientes realizam todo o tratamento no Centro”, explica Maria da Graça Trucolo De Rossi, coordenadora e assistente social no Caps-ad.

Nove meses

O tratamento na Comunidade Terapêutica dura, no mínimo, nove meses, tendo a possibilidade de ser prorrogado por até um ano. Ele consiste em acompanhamento médico psiquiátrico, psicológico, laborterapia (tratamento de enfermidades através do trabalho) e técnicas de autoajuda (como grupos de Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos). A equipe é ampla e conta com a participação de vários profissionais da rede pública. Hoje atuam na instituição seis monitores, um coordenador, uma enfermeira, uma psicóloga e um médico psiquiatra, além de contar com outros profissionais que realizam trabalho voluntário, eventualmente.

A maioria dos residentes da Comunidade conta que iniciou consumindo álcool e/ou tabaco (cigarro). “O início normalmente se dá com drogas lícitas e, obviamente, mais toleradas. O uso, normalmente, acontece muito precoce na vida das pessoas, na infância ou na adolescência. O sistema nervoso central imaturo faz com que eles sejam mais suscetíveis a comportamentos de risco e posterior dependência”, conta o coordenador.

Unidade de Agudos

O coordenador destaca que, apesar da existência do Caps-ad e da Comunidade Terapêutica, seria necessário ter no município uma Unidade de Agudos. “Essa é uma carência não apenas de Bento Gonçalves. Os dois projetos não atendem, com eficácia, todas as etapas do transtorno, sendo necessária ainda uma unidade de internação fechada. Já existe na cidade projeto de uma unidade hospitalar especializada para atender tal demanda, no entanto existem alguns entraves burocráticos para sua instalação”, pontua. A Unidade funcionará junto ao Complexo de Saúde do Trabalhador (CST) e, segundo o secretário de Saúde, Ivanir Zandoná, a construção deve ser iniciada até o final deste ano.

A obra

A construção da Comunidade Terapêutica iniciou no ano de 2001, mas foi finalizada somente depois de dez anos. A inauguração aconteceu no dia 19 de março de 2011 e foi noticiada pelo SERRANOSSA. O prédio, situado na localidade de Passo Velho, no distrito de Tuiuty, conta com 32 leitos, divididos em 16 quartos, além de sala de grupo, médica, administrativa, enfermagem, cozinha industrial, refeitório, lavanderia e centro ecumênico. O local ainda é adaptado para receber portadores de necessidades especiais. Toda a obra foi financiada pelo Poder Público e contou com o apoio de empresários, da comunidade e da Associação Vida Livre. O custo total da obra foi de R$ 700 mil.

Reportagem: Katiane Cardoso

 

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