Contas em dia só em 2014

As consequências do caos sem precedentes vivenciado em Bento Gonçalves devem ser sentidas pela população até o final do próximo ano. A avaliação foi feita em depoimento à CPI das Finanças nesta semana pela contadora Michele Piletti, que atua na força-tarefa montada para reorganizar as contas do município. “Contabilmente acredito que em seis meses tudo se regularizará. Financeiramente acho que deve demorar até o final do ano que vem, no mínimo”, revela. 

Esse tempo seria necessário para conseguir arrecadar recursos suficientes para cobrir os desfalques nas contas do município. Além de atraso no pagamento de salários de funcionários terceirizados, diversos fornecedores ainda aguardam receber pelos serviços prestados. Atualmente não há dinheiro suficiente em caixa para quitar essas dívidas. “Para o município voltar a ter a credibilidade que sempre teve, vai demorar quase um ano”, opina.

Os trabalhos para pôr ordem nas finanças vêm enfrentando uma série de entraves, incluindo a falta de documentos, que pode ter sido proposital, segundo a procuradora-geral do município e secretária interina de Finanças, Simone Azevedo Dias, que também atua na força-tarefa. “A finalidade mais óbvia da bagunça deve ser para despistar de algo maior”, analisa Simone. “Estamos na metade. Ainda há muita documentação a ser avaliada”, estima Michele. 

Aos poucos a bagunça atribuída pelas testemunhas ao ex-secretário Olívio Barcelos de Menezes e à ex-coordenadora de compras, Luana Della Valle Marcon, começa a ser revelada. “Foram encontrados vários decretos lançados no sistema de contabilidade que não existem. Foram abertos sob a justificativa de arrecadação maior do que o previsto, o que na verdade não existiu. Também houve várias transferências entre fontes de recursos”, conta Michele. 


Pasin e os restos a pagar
 

Ao que tudo indica, até o final do mandato a atual administração não conseguirá honrar com todos os compromissos assumidos, sejam eles pagamentos de fornecedores ou de salários. Os chamados “restos a pagar” ficarão de herança para o prefeito eleito Guilherme Pasin (PP), o que pode comprometer a execução de projetos.  

Na avaliação da secretaria interina de Finanças, o futuro prefeito terá mais possibilidades e condições para solucionar o caos financeiro por não estar em ano eleitoral e em final de mandato. “Ele pode criar incentivos fiscais para aumentar a arrecadação, algo que não pode ser feito em ano eleitoral”, exemplifica. “Não vai ser fácil, mas é possível aos poucos colocar as contas em dia”, complementa. 

“Município vai viver de repasses”

Pelos relatos de quem lida diariamente com a tarefa de resgatar o município da crise, a situação é bastante complicada. “Não temos mais recursos livres”, afirma Simone. “O município vai viver de repasses. Algo inacreditável para um município com a economia de Bento Gonçalves”, lamenta. 


Golpe agendado

Na avaliação de Michele, que há sete anos é concursada da prefeitura, o golpe efetuado foi previamente agendado. Em conversa exclusiva com o SERRANOSSA, ela disse que sofreu perseguição dentro da secretaria e era acusada de “travar o governo”. A contadora preferiu não apontar nomes, mas revela que as acusações foram feitas no período em que estava prestes a sair de licença-maternidade.

Quando ela retornou à secretaria, em janeiro deste ano, foi avisada por Menezes que, após ter ficado tanto tempo afastada, seu trabalho havia sido substituído pelo de uma excelente profissional, no caso, Luana. No seu entender, as acusações feitas durante sua gravidez foram propositais para que ela pudesse ser afastada da secretaria e do acesso ao novo sistema, o que possibilitou a execução do golpe e o consequente desvio de dinheiro público. 

Michele passou então a atuar na secretaria de Cultura e voltou às Finanças somente em outubro, convidada a auxiliar na força-tarefa. Na Cultura, Michele estranhou não ter mais acesso a dados contábeis do município. Segundo ela, o fato foi reportado em ofício encaminhado ao prefeito Roberto Lunelli, à secretária de Administração, Eliana Passarin, e ao administrador da Casa das Artes, Gentil Santalucia. Ela não obteve retorno do ofício. 

Para ela, o golpe só foi efetuado graças à troca do sistema informatizado. O antigo software, segundo ela, era bastante confiável, mas a substituição foi praticamente imposta pela atual administração. “O sistema foi uma ferramenta usada para aplicar golpe e não o pivô de tudo”, deduz.

Reportagem: Carina Furlanetto


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