Coronavírus altera rotina, causa prejuízos e preocupa bento-gonçalvenses

O que parecia tão distante chegou a Bento Gonçalves. Há poucas semanas, a população que acompanhava atenta as notícias do Coronavírus na China e na Europa agora se vê com orientação de ficar trancada em casa. Muitos já calculam os prejuízos que o COVID-19 traz para suas famílias e negócios. Na quarta-feira, 18/03, a cidade teve seu primeiro caso confirmado: um homem de 63 anos, internado no Hospital Tacchini em estado grave (até o fechamento desta edição). Ele retornou de uma viagem ao Paraguai e procurou atendimento em Bento Gonçalves na sexta-feira, 13/03. Até o encerramento desta matéria, outros dois casos seguiam aguardando resultado de exames em Bento: o de uma mulher de 69 anos, que viajou para o Caribe, e uma mulher de 50, que esteve nos Estados Unidos. 

Os números mudam mais de uma vez por dia, justamente porque a transmissão do vírus é rápida, por isso a recomendação é muito clara: fique em casa! Pensando nisso, decretos das prefeituras da região determinaram o cancelamento das aulas da rede pública e privada, adiamento de eventos, fechamento de academias, shoppings, praças, cinemas, salões de beleza e de outros estabelecimentos onde ocorra aglomeração de pessoas. Entidades de classes também se manifestaram, afirmando que cabe a cada empresa decidir se manterá ou não as portas abertas, mas que é fundamental que os empregadores tomem as medidas cabíveis com relação a seus colaboradores, especialmente aqueles que fazem parte do grupo de risco (acima de 60 anos e portadores de doenças que comprometam a imunidade). “Esses profissionais devem ser afastados das atividades de contato com o público ou orientados a trabalhar de forma remota – instrução que vale, também, para os egressos de viagens, que devem ser mantidos em quarentena. Da mesma forma, empregados que manifestarem sintomas relacionados ao Coronavírus devem ter seu isolamento imediatamente efetivado. Assim, preserva-se a saúde do colaborador, da equipe da empresa e protege-se, também, o consumidor”, disse o comunicado emitido em conjunto pelo Sindilojas, Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BG) e Sindicato dos Empregados no Comércio (SEC-BG). 

Outro apelo das entidades é que os empregadores sejam sensíveis às particularidades de cada colaborador. “Diversas famílias estão tendo suas rotinas alteradas em função de medidas como a paralisação de escolas, exigindo dos pais disponibilidade extra de tempo para cuidar de suas crianças em casa. Sugere-se que os empresários acessem a Convenção Coletiva de Trabalho do setor e informem-se sobre as diversas possibilidades de ajustes disponíveis para enfrentar esse cenário atípico. O documento prevê elasticidade no que diz respeito à jornada de trabalho, bem como a prática do banco de horas – recursos que podem ser acessados para que empregador e empregado tenham suas necessidades atendidas e respeitadas. O momento é de bom senso e de empatia”, apontou o comunicado, que pode ser conferido na íntegra no site do SERRANOSSA.
O prefeito Guilherme Pasin também fez um apelo aos empresários e pediu sensibilidade neste momento atípico. “Sabemos que muitas famílias não têm com quem deixar seus filhos neste período de recesso. Pedimos que as empresas liberem pais e mães nessa situação”, disse, durante uma das muitas entrevistas da semana.

ANGÚSTIA E PREJUÍZOS
Embora muitas medidas estejam sendo tomadas para evitar a disseminação do vírus na cidade – e o isolamento social é a mais eficaz delas –, os prejuízos financeiros e emocionais do Coronavírus ainda não podem ser calculados. São sonhos, projetos e até o fator sobrevivência que estão em jogo. Cada cidadão carrega algum dano com a chegada da doença: seja na sua rotina, no trabalho ou na vida.

Os músicos Francisca Chiamenti e Alan Prudêncio, por exemplo, viram seus shows serem gradativamente cancelados e não têm sequer previsão de retorno aos palcos. “Toco na Maria Fumaça e recebia por passeio e, além disso, faço parte da banda Mega Drivers e já estamos sentindo os cancelamentos também. Além disso, sou videomaker. Eu vi as minhas três fontes de renda serem podadas”, lamenta Alan. Para tentar diminuir os prejuízos, a banda lançou uma iniciativa na rede social: fará shows pela internet e os internautas poderão fazer depósitos voluntários. Para assistir, siga @megadrivers no Instagram.


 

Simone Ross, que trabalha com o marido em uma loja de peças para vans, é outro exemplo: ela teve sua rotina alterada drasticamente porque precisou ficar em casa para cuidar dos dois filhos, dispensados da escola como milhares de outros estudantes. Além disso, a empresa da família, que diariamente recebia dezenas de vans escolares, simplesmente não teve mais demanda de trabalho. “Nossos principais clientes são as vans escolares. Com a suspensão das aulas, a gente praticamente não tem mais movimento”, comenta.
Patrícia Binz, que é nutricionista, mestre em Turismo e sommelier, não tem trabalhado. Normalmente, ela promove aulas de degustação e consultoria em restaurantes. “Não posso fazer aulas de degustação, pois aglomera pessoas, e os restaurantes não têm dinheiro neste momento para contratar consultoria. É um momento muito delicado”, comenta. Patrícia também abriu mão de ver os pais, que fazem parte do grupo de risco, e ainda se preocupa com o marido, que segue trabalhando como produtor de frutas, mas sofre de asma.

 


 

VIAGENS E SONHOS ADIADOS
Viagens e sonhos também estão sendo deixados para trás. Gabriela Bortolini estava com viagem marcada para a Disney e viu os planos serem adiados. “O importante é todos estarem e ficarem bem”, ponderou. Deiglidiane Dal Magro também cancelou sua viagem de férias ao Chile, no inverno, e ainda viu suas aulas de graduação, pós-graduação e estágio serem suspensas, o que pode adiar a formatura. “Como acadêmica da área de saúde, vejo e entendo a situação de uma forma diferente do que a maioria da população. Seria ótimo se as pessoas conseguissem ter a real noção do que está acontecendo e colaborassem para podermos sair mais cedo dessa situação”, comenta.
Já Denise Dotto, que atua como guia de turismo, conta que está tendo muito trabalho nesse período: a meta é remarcar as viagens dos clientes. “Somente para a Europa, temos quatro programadas. Estamos tentando remarcar para agosto, setembro. O turismo está um caos”, resume ela.

NA LINHA DE FRENTE NO COMBATE AO COVID-19
A jovem médica bento-gonçalvense Nicole Mikolaiczyka Borges, que atua na emergência hospitalar de Porto Alegre, na linha de frente no combate ao COVID-19, conta que a chegada do vírus mudou absolutamente toda a vida e a rotina dela. “Meus atendimentos na emergência aumentaram muito, já estamos vendo a incapacidade do nosso sistema de saúde e que a população não está seguindo as recomendações para permanecer em isolamento e evitar procurar os serviços de saúde desnecessariamente. Além disso, por proteção aos que eu amo, optei em me isolar no trabalho e em casa, não estou visitando meus amigos e família. Tenho familiares idosos com doenças graves e o risco de contágio pode ter uma consequência muito grave. Por mais que eu tome todas as medidas de proteção possíveis, posso ser vetor de transmissão do vírus em função de atender casos suspeitos como parte do meu trabalho”, relata.

A médica também conta que abriu mão de acompanhar o nascimento de sua sobrinha, marcado para o fim de semana, e além disso, por ora, cancelou a lua de mel. “Sou recém-casada e estava com viagem marcada para maio para Europa. Mas sigamos, vai ficar tudo bem se cada um fizer sua parte”, comenta.

 

ACADEMIA FECHADA
Antes mesmo de a prefeitura decretar o fechamento das academias, o coordenador técnico Guilherme Jacques da Academia Phantom L´América, que também é headcoach do CrossFit 95700, decidiu suspender as atividades do estabelecimento. Para ele, a decisão foi necessária pensando no bem-estar coletivo. “A gente sabe da importância de seguir a recomendação. Estamos há 16 anos no ramo e não ia ser agora que deixaríamos de atender o chamamento das autoridades pelo bem da comunidade, mesmo tendo prejuízo com isso”, comentou. Uma das estratégias foi disponibilizar treinos on-line, através das redes sociais, para que as pessoas pudessem se exercitar em casa, evitando aglomerações.
Mesmo com todos os problemas e prejuízos, o que a maioria entende é que este é um momento que, cedo ou tarde, vai passar. As consequências dele, no entanto, só o tempo poderá dimensionar.

Você pode gostar também