Coronavírus muda planos de bento-gonçalvenses

O Ministério da Saúde confirmou na última quarta-feira, 26/02, o primeiro caso de coronavírus no Brasil. De acordo com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o paciente, morador de São Paulo, contraiu a doença na Itália. 
No Estado não há casos confirmados, mas cinco pessoas estão sendo monitoradas, com suspeita de terem contraído o vírus. Em Farroupilha, dois homens de 32 anos, que estiveram na Itália, estão em isolamento domiciliar. Já em Passo Fundo, uma mulher, que retornou da Europa, está internada, com os sintomas semelhantes aos do Covid-19.  Outro casal de Caxias do Sul, que esteve na Itália, permanece em isolamento domiciliar.

O primeiro caso confirmado preocupou ainda mais a população em relação às causas, contaminação e tratamento da doença. Em Bento, a prefeitura criou o Comitê de Atenção ao Coronavírus, que repassa, diariamente, às 11h, informações sobre a situação e casos no município. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que está preparada para receber possíveis casos da doença, seguindo o protocolo do governo federal. “Todos os dias o Ministério da Saúde está publicando notas e organizando reuniões com a epidemiologia nacional. Nos últimos dias, o governo mudou a posição de alguns países na lista de infectados e todos os voos vindos destes lugares têm um controle mais rígido. O Brasil ainda não bloqueou voos dos países contaminados, mas aprovou a lei de quarentena. Então, se houver uma possível contaminação, é provável que o Ministério da Saúde emita um parecer para trancar o acesso de pessoas oriundas de locais com grande número de casos”, explica o secretário Diogo Segabinazzi Siqueira.

Segundo Siqueira, em Bento todos foram orientados para lidar com possíveis casos. “Na UPA da Zona Norte, todo paciente que apresentar sintomas do Covid-19 e que tenha vindo de algum país contaminado será encaminhado para um hospital de referência indicado pelo Estado, possivelmente em Canoas, e todas as cidades deverão seguir o protocolo indicado. Já adquirimos, também, álcool gel e máscaras, que fazem parte do nosso dia a dia, mas que vamos ter ainda mais atenção neste momento”, comenta.

 

Realização de feira na cidade preocupa moradores

Em contagem regressiva para sua próxima edição, de 16 a 19 de março, em Bento Gonçalves, a Movelsul Brasil divulgou nesta semana uma nota oficial sobre os procedimentos que serão adotados em relação ao coronavírus, tendo em vista o grande número de estrangeiros esperados para o evento.
De acordo com a diretoria, a Movelsul tem estrutura, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, para o atendimento de todo e qualquer caso suspeito, agindo imediatamente para o isolamento de pessoas com sintomas correlatos ao novo coronavírus. A organização da feira também reiterou que “todos estão confiantes de que não teremos intercorrências de saúde em nossa feira”.


foto: Augusto Tomasi/arquivo

No entanto, a notícia gerou centenas de mensagens de preocupação dos moradores. “Extremamente lamentável esta decisão de manter a realização da feira em nossa cidade, colocando em risco a população da cidade inteira e de toda a região. Se nem a China conseguiu conter o vírus, e nem existe a cura ainda, quem dirá a Secretaria da Saúde tomar os procedimentos cabíveis contra o vírus. Espero que tomem consciência e cancelem esta feira para o bem comum.”, comentou Gabriela Bellé. “Os visitantes irão frequentar restaurantes, hotéis, táxis e veículos de aplicativos, banheiros públicos, e, com isso, colocar todas as pessoas em risco”, complementou Vanderlei Capovilla.
A Movelsul afirmou que vai dispor de utilitários de higienização em todos os pontos de informação da feira. “Além disso, teremos serviço de ambulância e socorrista em todo o período de montagem e desmontagem para o transporte de qualquer visitante, expositor ou pessoa da equipe que necessite atendimento. Durante o período da feira, também teremos ambulatório com serviço médico e UTI Móvel”.

Setor moveleiro preocupado

O avanço do novo coronavírus pelo mundo tem provocado abalos nos mercados globais e elevado as preocupações de investidores e governos sobre o impacto nas cadeias de suprimentos, nos lucros das empresas e na desaceleração do crescimento da economia. O presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), Rogério Francio, afirma que o cenário é crítico. “O impacto é grande, a incerteza maior ainda e os cuidados, de forma geral, precisam acontecer. Considero um cenário crítico, visto que uma possível vacina poderá ser distribuída apenas daqui a quatro ou seis meses. Há um impacto na economia mundial e, consequentemente, na brasileira e os empresários moveleiros estão cautelosos, pois existem matérias-primas vindas do mercado chinês e, também, há preocupação com o mercado italiano. Por sinal, as feiras Isaloni e EuroCucina foram adiadas de abril para junho, o que demonstra que há medidas que impactarão em um curto prazo o setor moveleiro mundial. Esse vírus gerou incerteza nos mais diversos setores do mundo”, lamenta o líder do setor.

A consultora de empresas e proprietária de uma agência de viagens Andreia Gentilini Milan afirma que o coronavírus tem afetado toda a economia, prova disso é a instabilidade da bolsa de valores. No setor do turismo, ela comenta que há muitos clientes que estavam com passagens compradas para a Europa e agora aguardam um desfecho para esta questão. “Muitos estão deixando de comprar viagens neste momento para esperar o desenrolar dos problemas causados pelo coronavírus e assim tomar decisões. Por outro lado, também se torna uma oportunidade: muitos estão trocando viagens por destinos no Brasil e na América do Sul. Acredito que ainda temos que esperar para ver como o mercado vai se comportar nos próximos 60 dias”, avalia.

Camila Polonia dos Santos, que trabalha há 10 anos com turismo afirma que até antes do Carnaval a empresa que atua não tinha sentido a queda nas vendas, o que já começou a mudar. “O nosso produto de maior venda é Europa e, como por lá as coisas estavam normais, não tivemos nenhuma queda. Das poucas pessoas que iriam para a Ásia, as próprias companhias aéreas cancelaram os voos com reembolso de 100%. Havia um grupo que faria China, Tailândia, Singapura e Dubai, em setembro, mas já cancelei, vamos optar por outros destinos”, comenta. “Porém, nesta semana, as notícias que vêm da Europa não estão sendo boas, principalmente Itália, que é o destino que mais vendemos. Os clientes já estão pedindo para vermos multas de cancelamento.”

Viagens canceladas e prejuízos 

Feiras de negócios estão sendo canceladas em todo o mundo. O Salão Internacional do Móvel de Milão, mais importante evento do design mundial, foi adiado de abril para junho por conta da evolução da epidemia do coronavírus na Itália. Muitos bento-gonçalvenses já estavam com a passagem comprada para o país para prestigiar o evento. É o caso da arquiteta Silvia Menegat, que há 10 anos acompanha a feira. “São muito recentes as informações sobre o coronavírus na Itália, mas estava cogitando não ir à feira, pois ela reúne milhares e milhares de pessoas e a maioria é chineses em corredores cheios, metrôs lotados”, confessa. “Estava com esta viagem programada há 6 meses, passagens e estadia. O Salão de Milão é a maior referência que temos dentro da arquitetura, reúne profissionais de todo o mundo. Vou acompanhar as notícias e tentar alterar as passagens para junho”.


 

Keila Friedrich, 24 anos, diretora de uma empresa na área gráfica na cidade, também optou por cancelar a viagem programada para abril à Alemanha. “A viagem estava planejada desde 2018. Íamos para a maior feira da área gráfica que acontece em Frankfurt e é muito importante para nosso meio. Cancelamos, visto que boa parte dos fabricantes de máquinas é de chineses, também pela instabilidade e novos casos a cada dia, com a expansão do coronavírus”, comenta Keila.

Julia Maccali De Bacco era para ter embarcado para Itália na terça-feira, 25/02, mas também cancelou a viagem. O primeiro destino seria Milão e, depois, uma feira de negócios em Frankfurt. “Cancelaram a feira e fomos orientados pelo meu tio, que mora na Itália, a não embarcar. A feira foi transferida para setembro e estamos tentando resolver tudo para ter o menor prejuízo possível”, comenta.

Bento-gonçalvense na Itália afirma que não há motivos para pânico

O bento-gonçalvense Tarcisio de Bacco, 62 anos, que vive em Milão, na Itália, há 33 anos, afirma que o coronavírus está apavorando todo mundo “sem necessidade”. Proprietário de um restaurante, ele comenta que viu seu movimento cair em 80% depois das notícias das mortes ocorridas no país por conta da doença. “Por aqui, museus, teatros, escolas, partidas de futebol e todos os eventos com aglomeração de pessoas estão fechados e sendo cancelados. Acredito que há muito sensacionalismo nas notícias, pois quem acaba morrendo por conta da doença é realmente quem está muito debilitado. A maioria daqueles que contraíram o coronavírus já está curada. A mídia acaba mostrando apenas as pessoas andando de máscaras pelas ruas, mas por aqui estamos todos levando uma vida normal”, opina ele, que vai de metrô até o trabalho todos os dias e que segue com o restaurante aberto.  “Este terrorismo todo em torno da doença não é positivo para a cidade e nem para ninguém”, complementa.