Cresce o uso de medicamentos para ansiedade e depressão em crianças
O Conselho Federal de Farmácia também destaca que a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu cerca de 58% entre 2017 e 2021
No Brasil, pela primeira vez na história, os registros de ansiedade entre crianças e jovens superaram os de adultos, é o que mostra análise feita a partir da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS), em levantamento feito com base nos últimos 10 anos.
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) também destaca que a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu cerca de 58% entre 2017 e 2021. Embora o tratamento seja essencial, especialistas estão preocupados com a crescente medicalização, especialmente entre as crianças, e os riscos associados a essa prática.
“Diversos fatores podem contribuir para essa tendência, muitos dos quais estão ligados a mudanças no estilo de vida moderno, na sociedade e no ambiente ao redor das crianças. Os casos mais comuns são alterações hormonais ou estruturas cerebrais, bullying, maus-tratos, violência psicológica, mudanças de escola, divórcio dos pais e o uso excessivo de redes, que também pode desencadear problemas psíquicos”, alerta a psicóloga Luana Mello.
Luana ressalta o papel dos pais, que devem estar atentos nesse processo de desenvolvimento a fim de identificar qualquer instabilidade emocional, como: quadros de tristeza excessiva, desânimo em qualquer atividade da rotina todos os dias, diferenças claras no comportamento com outras crianças, isolamento social, alteração no sono e apetite, déficit de atenção, dificuldades de aprendizagem e em se concentrar.
Cuidados com o uso de antidepressivos em crianças
De acordo com a psicóloga, os antidepressivos só devem ser prescritos para crianças em casos de depressão moderada a grave ou em condições como transtornos de ansiedade, Transtorno Obsessivo- -Compulsivo (TOC) ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), e mesmo assim, quando outras intervenções, como psicoterapia, não forem suficientes.
“A psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), costuma ser a primeira linha de tratamento para crianças e adolescentes com problemas de saúde mental. Antidepressivos são considerados apenas quando a psicoterapia isolada não é eficaz”, alerta.
Luana reforça, que o uso de medicamentos na infância para tratar problemas de saúde mental implica em atuar no sistema nervoso central da criança, alterando a percepção, consciência e comportamento. Portanto, de acordo com a especialista, o uso deve ser feito com cautela.
“Eles podem causar efeitos colaterais, como ganho de peso, problemas de sono, irritabilidade e, em alguns casos, até pensamentos suicidas. Claro que o uso de medicamentos é e pode ser eficaz, mas é fundamental que seja feito com um acompanhamento contínuo por profissionais de saúde mental, monitoramento rigoroso dos efeitos colaterais e em conjunto com outras intervenções. Só assim é possível garantir o bem-estar a longo prazo da criança, minimizando riscos e promovendo o desenvolvimento saudável”, finaliza.