Criança mimada denuncia preguiça dos pais
Você já deve ter visto ou vivenciado a seguinte cena: no supermercado, uma criança se debate no chão, chora, berra, enquanto a mãe, em geral, costuma ficar bastante envergonhada com todos os olhares que se voltam para ela e para aquele pequeno ser tão sonoro, cuja vontade não foi prontamente atendida. O comportamento é típico de filhos mimados, encarados como um problemão. Mas como fazer para evitar que se comportem assim? Boa parte da origem – e da solução – está nas mãos dos próprios pais.
O fato de os pais mimarem os filhos passa por diversos fatores, que incluem desde superproteção até certa negligência. "Em vez de impor os limites e gastar energia discutindo com a criança, a saída mais fácil é atender seus desejos", diz a psicóloga Patrícia Spada, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Postura dos pais
Entre outras questões que podem resultar em uma criança mimada estão: a mãe que está sempre com medo de que aconteça algo ruim para o filho; pais que demoraram para engravidar e tratam a criança como um bibelô e a rivalidade entre o casal, levando-os a disputar o amor do filho através de agrados. O que também pesa é a imaturidade dos adultos por achar que uma criança bem amada é aquela que tem tudo que os pais não tiveram.
Os efeitos do mimo
Crianças mimadas têm grandes chances de não respeitarem regras quando crescerem. "No futuro, elas podem desenvolver até um comportamento delinquente, quando muitas vezes se tornam líderes do grupo (pois foram tratados como autoridade a vida toda), maltratando, prejudicando ou, no mínimo, desprezando os outros que não concordam com seu jeito de pensar e agir", ressalta a psicóloga Patrícia Spada.
A influência começa cedo
Desde o nascimento, o bebê está suscetível ao temperamento, às vivências e aos modelos afetivos dos pais. Algumas atitudes podem atrapalhar o desenvolvimento dos filhos, tais como: superproteção, contato contínuo (seja dormindo junto ou amamentando mais tempo do que o recomendado) e a privação de contato da criança com outras pessoas. Para Patrícia Spada, são hábitos que impedirão o início da percepção do bebê de que o mundo não é somente a mãe ou o pai, mas está repleto de outros interesses.
Pode tudo
Outra atitude dos pais, relacionada a abandono, mas disfarçada por comportamentos de total liberação, é a superpermissividade, que consiste em fazer tudo o que o filho deseja, sem colocar limites ou explicar a razão da decisão. "No caso de bebês, uma situação que demonstra isto é quando os pais se adiantam aos desejos do filho, e prontamente tentam satisfazê-lo. Assim, a criança chora ou faz menção de reclamar e os pais, imediatamente, lhe dão comida, sem nem lhe dar a chance de perceber e sentir se está mesmo com fome", alerta Patrícia.
O poder do "Não"
Por volta dos dois anos, a criança aprende a falar "não". É uma descoberta natural, mas que os pais a enfrentam com receio de perder a autoridade e gera-se um círculo vicioso: a criança tenta se apossar de seus desejos a fim de desenvolver seu mundo mental próprio ou sua identidade e os pais não aceitam e muito menos compreendem esta fase. "A criança passa a ter verdadeiros ataques coléricos para se afirmar, cujo limite para a birra é uma tênue e frágil linha", acrescenta a especialista da Unifesp.
Tem cura!
A reeducação sempre é possível, contanto que os pais desejem e estejam dispostos a arcar com as consequências em função da mudança de atitudes, bem como com a resistência do filho em perder o trono (falso e prejudicial) no qual sempre viveu. Geralmente, a escola orienta os pais a procurar ajuda profissional, pois é no ambiente social que costumam aparecer os primeiros desvios de conduta. Outras vezes, a própria família percebe que tudo já está fora de controle e decide procurar um psicólogo.
Confira as dicas da especialista Patrícia Spada para evitar que a criança fique mimada:
Quando a criança não aceita comer o que há na mesa
Resolver isso parte de uma boa comunicação. Quando a criança fica sem comer, existe o risco de enfraquecer ou ficar doente e ela percebe a insegurança e receio dos pais quanto a isso. Se a mãe não conseguir traduzir este clima emocional, ambos tenderão a mostrar ao outro quem é o mais forte e a criança poderá estar, de fato, em situação de risco.
Nestes casos, é indicado que os pais conversem com a criança, respeitem seu gosto alimentar, façam junto com ela alguns cardápios e deem a liberdade de escolher o que quer comer, contanto que aceite experimentar alguns dos alimentos servidos. Com o tempo, irá se sentir respeitada como pessoa, sem ser forçada ou sofrer violência (física ou psicológica), e aceitará o que for acordado em conjunto com os pais.
Para que os filhos saibam reconhecer o valor material e o esforço dos pais para conquistá-las
É importante conversar e demonstrar, sem cobrança, o quanto é necessário para um adulto se esforçar para ter dinheiro. Outra dica é ajudar o filho a administrar sua mesada, deixando-o decidir de que forma deseja usar, mas arcando com as consequências quando gastar tudo. O ideal é que junte o dinheiro todo novamente, aprendendo a esperar, a lidar com a frustração e reconhecer o amor dos pais por ele. Não é saudável dar presentes para o filho o tempo todo, pois a criança precisa saber da importância da economia regrada (e não exagerada), e deve também participar dando opiniões sobre o que ela pensa que poderia ajudar para melhorar o orçamento da família.
Como lidar com os ataques de choro
Muitas vezes os ataques de choro e as crises não devem ser evitados, justamente pela importância que têm. Nenhum ser humano consegue tudo o que quer na hora que quer e quando os pequenos percebem que não são poderosos, é o momento ideal para que possam entrar em contato com a realidade e elaborar este sentimento de onipotência, tão natural e esperado nas crianças. É interessante salientar que, em geral, as crises de choro e de birra mais deixam os pais envergonhados – por serem julgados como não sendo bons pais – do que preocupados com a saúde emocional e mental ou desenvolvimento saudável do filho.
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