Crise: curva ou abismo?

Com um leve ar de tristeza, um amigo me conta a situação de sua empresa, prestes a fechar as portas. São mais de 80 funcionários. Apesar da lamentação, percebo-o positivo perante o futuro. O que você vai fazer se a empresa fechar? – Pergunto, sem muita delicadeza. O mesmo que fiz sempre, recomeçar – responde ele.
Tem gente que é assim, não importa quantas vezes “quebre”, sempre se reconstrói. Muitos começaram cedo seu primeiro negócio, aprenderam na prática sobre as flutuações de mercado e como qualquer apego ao que esteja fora é em vão. Eles são ricos pelo que possuem lá dentro, pela experiência que adquiriram em se reerguer.
Não é fácil adquirir essa qualidade de vencer crescendo na dor. Isso implica em encararmos justamente aquilo do que, por milênios, aprendemos a fugir: a dor.
Outra amiga, de 21 anos, contava-me angustiada sobre como talvez ela não tenha caixa para bancar as contas de seu primeiro negócio ao fim deste mês. Deveria me atentar à sua situação complicada, talvez sentir pena, mas se sobrepôs a isso a minha admiração por uma jovem encarar com tanta determinação a ideia de abrir seu negócio no meio de uma evidente crise.
Fico a me questionar sobre quanto tempo levaremos para admirar essas pessoas tão determinadas, que remam contra as marés. Perante o juiz, o empregador é visto quase sempre como bandido. Por quê? Você que já teve um negócio sabe do que estou falando. 
Empreender no Brasil é um ato heroico e esse sentimento se aflorou ainda mais quando comecei a vivenciar o dia a dia de um clube de futebol e os milhões que este clube deve em impostos. Pensava: quantas empresas são fechadas por pequenas dívidas, enquanto esse clube deve quase 500 milhões e ninguém aparece para cobrar.
Há muita coisa errada nesse país, atrevo-me a dizer que o Brasil está no geral mais para o errado que para o certo; mais para o mal que para o bem; mais para o mergulho na desgraça do que para a fagulha do despertar. Mas, se há uma coisa boa nele, são essas pessoas empreendedoras, as quais podemos chamar de malucas, pois se arriscam quando quase ninguém se arriscaria. Essas pessoas que sustentam famílias, que se esforçam para pagar seus colaboradores todo final de mês, exploradas sem dó de todos os lados.
Um cão pode estar morrendo, mas raramente ele morderá a mão daquele que o alimentou. Agora, o patife, o canalha, o filho da inveja criado em um sistema que ensina a odiar os que lutam, esse é capaz de tudo, até de morder a mão de quem o alimenta. Essa visão do empregado ser o explorado faz com que ele se torne um câncer e destrua a possibilidade de crescimento conjunto. Ele não corrige o patrão explorador, apenas oprime o bom patrão, aquele que quer crescer junto dos que estão ao seu lado.
Não dá para saber onde o Brasil irá parar, mas de uma coisa eu tenho certeza: esses empreendedores que, mesmo caindo, levantam e que, mesmo desmotivados e julgados pelos invejosos, ainda assim lutam, vão vencer, seja no Brasil ou em outro lugar do mundo, seja empregando mil pessoas ou trabalhando sozinho dentro de seus carros. Essas pessoas que se erguem vão vencer. Sabe por quê? Porque a crise só afunda quem aprendeu e se acostumou a ver a si mesmo como vítima. A crise é uma curva na estrada de quem luta e um abismo para aqueles que aprenderam a morder a mão dos que os alimentam.