Crise econômica deve durar pelo menos mais dois anos, aponta economista de Bento Gonçalves

A atual crise econômica ainda vai demorar para ser superada. A afirmação é do economista e consultor de empresas Imerio Corbelini. Em entrevista ao SERRANOSSA, ele faz um prognóstico dos próximos anos, avalia o impacto da crise nos diferentes setores e dá dicas para consumidores e empresários lidarem melhor com este período de incertezas. 

SERRANOSSA – É possível fazer um prognóstico dos próximos desdobramentos da crise econômica?
Imerio Corbelini – O que podemos afirmar com absoluta certeza é que a atual crise econômica, provocada pela instabilidade política, ainda vai demorar para ser superada. No mínimo, mais dois anos. Depois, vai depender de quais medidas serão tomadas. Muitos “especialistas” apontam o ano de 2018 como o da retomada do crescimento econômico, porém não vai acontecer, dentro da expectativa que está sendo criada, por três motivos bem reais: a) A instabilidade política vai continuar. O governo do presidente  Michel Temer vai sofrer pressões até o último minuto. Ele vai fazer o impossível para se manter no cargo e isto gera instabilidade e os empresários terão pouco ânimo para investir. b) O ano de 2018 vai ser de eleições. O primeiro semestre, depois do Carnaval, estará marcado pela escolha dos candidatos à presidência. Até o último momento haverá dúvidas, pois todos estão sujeitos a estarem inelegíveis em função dos processos da Operação Lava-Jato. A Justiça terá papel fundamental nisto. Isto também gera instabilidade. Depois de definidos os candidatos, vem a campanha política, que será de baixo nível, com acusações de todas as partes, independentemente de quem sejam os candidatos, pois todos estão envolvidos, de uma forma ou de outra, com a atual situação.  Ladrão e corrupto é o que mais vamos ouvir. c) A geração de empregos está muito lenta, recém retomando um crescimento que será lento e longo. Mais importante que a recuperação do nível de emprego é a recomposição da renda, que não está ocorrendo na prática, ou seja, quem está empregado não consegue aumento. A iniciativa privada pela concorrência do desemprego e o setor público falido pela incompetência política. Estes três fatores determinam um lento caminho até atingirmos o tão desejado crescimento econômico.  Vejam bem: este ano se foi; 2018 será ano de eleições, com instabilidade política; 2019 assume o novo presidente, herdando toda esta situação. Até assumir e colocar em prática algo de concreto, vão mais seis meses. Por isto afirmo que serão mais dois anos para a recuperação, somente no segundo semestre de 2019. Claro que nesses dois anos, vamos ter avanços, porém lentos.

SERRANOSSA – Existem fatores positivos que vão minimizar essa realidade?  
Corbelini – O primeiro é a redução da taxa de juros. O Banco Central está fazendo o possível para baixar a Selic a níveis civilizados. Devemos chegar em dezembro de 2017 com taxa em torno de 7,5% ao ano, o que é muito bom. Hoje está em 8,25% e deve continuar a baixar. Vai aliviar a pressão do caixa das empresas, diminuir o tamanho das dívidas e incentivar os investimentos, o que gera empregos e renda. O crescimento econômico é consequência disto.  Porém, será lento, pois a instabilidade política, infelizmente, ainda vai permanecer. O segundo fator é o desempenho do setor do agronegócio, que vai se manter em alta, com boas safras, incrementando as exportações. Isso gera divisas, emprego e renda.  

SERRANOSSA – Quais as melhores estratégias para as empresas saírem da crise?
Corbelini –
A principal delas é a inovação, ou seja, buscar novas alternativas, novos nichos de mercado e novos produtos. Outra estratégia é adaptar o tamanho da empresa à realidade do mercado e profissionalizar as funções, buscando o máximo de eficácia. É preciso ter a coragem de cortar na própria carne, principalmente os privilégios particulares dos administradores e familiares. A terceira é acreditar sempre no negócio.  Porém, quando não dão os resultados esperados e o patrimônio da empresa corre risco, existem as estratégias jurídicas, entre elas a recuperação judicial, uma ferramenta eficaz, que permite a reorganização das empresas, com certeza jurídica e plano de negócios estrategicamente definidos e acompanhados por profissionais de cada área específica.

SERRANOSSA – A crise afetou os setores de diferentes formas? Teve algum menos impactado? E qual foi o mais afetado?
Corbelini –
Um dos setores que menos sentiu a crise, aliás, não sentiu, cresceu e está crescendo, é o do turismo. Isto porque ele é movimentado por consumidores das classes A e B, pessoas que possuem boa renda garantida mensalmente. Para essas pessoas, o turismo faz parte de suas vidas sem comprometer o orçamento mensal. Pagam à vista ou no cartão, sendo garantia certa de recebimento para as empresas que operam no setor. 
Outro que não sentiu a crise foi o do agronegócio, que segue crescendo e, inclusive, sustentou o PIB. É o setor que põe comida na mesa da população, não só no Brasil, mas do mundo inteiro, pois as exportações de grãos e carnes do Brasil alimentam grande parte da população do planeta. O setor vinícola, principalmente os produtores rurais, foge um pouco desta regra. A uva é um produto mal remunerado para o produtor. As vinícolas sofrem com a concorrência dos produtos importados, com preços abaixo de seus custos de produção. O baixo consumo de vinho per capita – 2,2 litros por ano – é insignificante. O que ajuda a equilibrar este setor é a gastronomia associada a essa atividade. O turista é atraído por isto. A diversificação da produção, com os sucos e espumantes, desempenha papel importante para manter equilibrado o setor. No caso da agricultura familiar, capeletti, massas, geleias, queijos, salames, biscoitos, grôstolis, pães e flores são fontes de renda alternativa, dando um bom padrão de vida para inúmeras famílias. Geralmente elas produzem uvas e complementam a renda com estas atividades, que vêm crescendo e se consolidando ano após ano, independente do cenário econômico.
Em contrapartida, outros setores, como o moveleiro e o metalúrgico, sentem mais os efeitos da crise, pois seus produtos não são de primeira necessidade. Mesmo sentindo a retração do consumo mais forte, é importante destacar a criatividade dos empresários, pois, com competência, coragem e determinação, readequaram suas empresas e mantêm um bom nível de atividade. Estão ultrapassando essa fase de forma equilibrada, prontos para deslancharem assim que a retomada econômica ocorrer.

SERRANOSSA – Qual setor tem mais chances de se recuperar primeiro?
Corbelini –
O setor que responde por primeiro a uma retomada do crescimento econômico, após uma crise, sempre é o ligado à alimentação, seguido, em um ritmo um pouco menor, por vestuário e calçados, pois são produtos que se deterioram com o uso e acumulam demanda reprimida, ou seja, temos dois pares de sapatos, vamos usando os dois, um arrebenta, vamos comprar imediatamente outro, pois corremos o risco de ficar sem. Os setores que demoram mais a se recuperarem são o moveleiro e metalúrgico. Geladeiras, fogões, eletrodomésticos, automóveis, estofados, mesas, cadeiras, roupeiros e camas podem esperar um pouco, porém, principalmente os móveis, podem dar uma resposta mais rápida caso o governo incentive a indústria da construção civil, pois assim que a casa ou o apartamento estiverem prontos, precisarão ser mobiliados. Em síntese, os setores da economia não são estanques, separados. Todos, de uma forma ou de outra, estão interligados. Conforme um vai se desenvolvendo, crescendo e os reflexos ocorrem em todos os demais.  A população precisa do crescimento econômico, para poder ter emprego e renda. Pena que nossos políticos, principalmente os de Brasília, assassinaram esses princípios. Ignoraram o povo em benefício próprio.

SERRANOSSA – Qual postura o consumidor deve adotar no momento de crise?
Corbelini –
Nestes momentos de crise o consumidor sempre deve adotar e adota uma postura defensiva e investigativa: pesquisar preços, comprar somente o necessário para o dia ou para a semana, evitar o desperdício ao máximo, fugir do endividamento bancário, não cair na tentação do crédito fácil e de longo prazo. Nem sempre isto é possível, porém é a regra a ser observada.

SERRANOSSA – A crise é o melhor momento para investir?
Corbelini –
Investir é necessário sempre. As empresas que não investem tornam-se obsoletas e morrem atropeladas pela concorrência. As pessoas físicas que não investirem, principalmente em formação e aperfeiçoamento profissional, serão ultrapassadas pelas que assim o fazem. Portanto, investir é um mandamento que deve ser observado e praticado em todos os dias de nossas vidas. Usa-se muito o jargão ‘investir na crise, para estar preparado assim que ela passar’. A crise só passa se nós investirmos: as pessoas físicas nelas mesmas, as pessoas jurídicas em sua modernização e profissionalização.