Crise na prefeitura: negligência eleitoral?

Se as acusações feitas pelo ex-secretário Olívio Barcelos de Menezes à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades nas contas do município forem verdadeiras, o caos na prefeitura de Bento Gonçalves pode ter relação direta com a tentativa de Roberto Lunelli (PT) de se reeleger como prefeito. Segundo o depoimento, o mandatário sabia que o dinheiro poderia acabar e teria sido alertado sobre necessidade de “apertar o cinto”. O ex-secretário teria, inclusive, feito indicações que possibilitariam a economia de recursos. Para não prejudicar o processo eleitoral, conforme acusa Menezes, as medidas não foram tomadas pelo prefeito.

No depoimento mais longo prestado à CPI, com quase duas horas e meia de duração, Menezes acusou o prefeito de tê-lo usado como “boi de piranha”, para ter em quem jogar a culpa pelo insucesso nas urnas. “A derrota lamentavelmente deixou o prefeito bastante desequilibrado”, avaliou. Apesar disso, o ex-secretário assume sua parcela de culpa por ter confiado em quem não deveria. O depoimento aconteceu na última segunda-feira, dia 3.

Menezes nega envolvimento

O ex-secretário foi apontado pela maioria dos depoentes como o responsável pelo desequilíbrio financeiro e que teria agido em conjunto com a contadora exonerada Luana Della Valle Marcon. Ele nega envolvimento em qualquer esquema de desvio e alega ter sido apontado como culpado apenas em função do desequilíbrio emocional do prefeito após a derrota nas urnas. As acusações em torno dele também indicavam que ele teria apresentado relatórios falsos aos demais secretários e aos vereadores e que teria maquiado o orçamento. Sobre essas acusações, ele rebate: “se há dados falsos, quero que provem”. 

Início dos cortes 

“O afã do governo em fazer já vinha nos causando preocupação e cuidados”, declarou. Na primeira semana de setembro, Menezes teria tomado a decisão de suspender pagamento de todos fornecedores. “Se não tivesse feito isso, não teríamos conseguido pagar a folha de setembro por falta de recursos livres”, ponderou. Segundo ele, os fornecedores foram alertados sobre necessidade de sérias reduções a partir de outubro.  Menezes explica que os cortes necessários para equilíbrio das contas não seriam obrigatoriamente em número de pessoal, mas na redução de custos, como horas extras.

Desde 2010

Menezes iniciou seu trabalho no município em 2010, quando assumiu o cargo de diretor de compras. Ele veio para Bento após visita do vice-prefeito Gentil Santalucia a Veranópolis para conhecer como funcionava o sistema de registro de preços. Sua vinda tinha o objetivo de implementar o sistema lá adotado. Assumiu o cargo de secretário de Finanças em fevereiro de 2011, onde permaneceu até outubro deste ano, quando foi exonerado.

E se Lunelli fosse reeleito?

Desde que o escândalo veio à tona, surgiu uma dúvida sobre como a crise seria tratada caso Lunelli tivesse sido reeleito. Na visão de Menezes, o prefeito se cercou de “maus conselheiros” o que o levou a tomar medidas equivocadas, incluindo a sua exoneração na semana seguinte às eleições. Segundo o ex-secretário, após a constatação dos desvios, no final de agosto, ele iniciou um planejamento para reduzir gastos e elaborou um roteiro a fim de poder honrar todas as dívidas até o final do ano.

Com a sua saída, o processo foi interrompido e uma nova força-tarefa foi montada dentro das Finanças. “Sendo vitorioso nas urnas, ele poderia ter tomado medidas diferentes”, avaliou. Com seu afastamento, o trabalho para reerguer as contas municipais recomeçou do zero, o que pode ter agravado a situação do município. Na visão de Olívio, as pessoas nomeadas por Lunelli para atuar na força-tarefa desconheciam a realidade da situação financeira. Ele  não citou nomes, mas fica claro que fazia uma referência à procuradora-geral do município e atual secretária interina de Finanças, Simone Azevedo Dias. Em outros momentos durante seu depoimento, Menezes também criticou Simone por alguns pareceres jurídicos dados a projetos que geraram custos sem que a disponibilidade financeira fosse verificada. Para a procuradora, as declarações do ex-secretário confessariam a culpa dele (confira aqui).

Reportagem: Carina Furlanetto


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