De volta a Bento, Lucas Bergamini avalia temporada na Europa

Em março deste ano, quando decidiu embarcar com destino à Europa para se tornar um jogador profissional e disputar o principal torneio do mundo de pádel, Lucas Bergamini, de 19 anos, não imaginava todas as conquistas e mudanças que ia celebrar em tão pouco tempo. Em apenas oito meses, o padelista bento-gonçalvense passou a treinar e jogar com os melhores atletas da história do pádel – inclusive enfrentando-os em jogos decisivos –, viu seu nome virar notícia em veículos especializados e ainda passou de 10 para 1.000 pontos no ranking mundial. Ele e sua dupla, Lucas Campagnolo, somam mais de 1.800 pontos. Em entrevista exclusiva ao SERRANOSSA, Bergamini conta o que viveu nestes últimos meses e quais são os objetivos e projetos para o futuro. Confira os principais trechos. 

SERRANOSSA – Você saiu de Bento com o objetivo de permanecer três meses na Europa, mas ficou oito e surpreendeu a todos pelos resultados. Como tudo aconteceu?
Lucas Bergamini –
Aconteceu tudo muito rápido. Logo depois que eu e meu irmão [Juliano] vencemos o Fabrice Pastore Cup, em março deste ano, decidi que era a hora de ir para a Europa, aprender mais, me profissionalizar e estar entre os melhores do mundo. Na mesma semana que cheguei, já disputei a primeira etapa do World Padel Tour (WPT). No nosso primeiro jogo, eu e o Lucas Campagnolo enfrentamos uma dupla que estava fazendo oitavas de final no ano passado e que era a número 2 da pré-prévia. A gente venceu essa partida e fomos ganhando uma atrás da outra, em jogos duríssimos. Vencemos na garra, com muito sofrimento – e é esse espírito que jogamos sempre – e chegamos ao quadro principal do torneio no primeiro campeonato que disputamos. Foi um “boom” para a gente. Eu não esperava um resultado assim, porque os atletas são muito fortes. 

 SN – Com esse resultado, vocês acabaram chamando a atenção no torneio?
Bergamini –
Com certeza. Uma dupla de brasileiros, na estreia, entrar no quadro foi surpreendente. Depois jogamos a etapa de Miami, e chegamos na final da prévia. Depois jogamos na Challenger e alcançamos as oitavas de final. Foi uma sequência surpreendente de resultados. 

 SN – Depois disso, você trocou de dupla e os resultados não foram os mesmos?
Bergamini –
Sim. O Lucas Campagnolo, antes de ir à Europa, tinha assumido um compromisso de jogar com Martin Di Nenno, que não pôde ir para a Europa naquele momento. Então, quando ele chegou, foram jogar juntos. Neste espaço de tempo eu tive algumas trocas de dupla. É difícil encontrar um jogador para poucas partidas, geralmente é acertado para a temporada toda. Joguei com meu irmão uma etapa, com o brasileiro Lucas Cunha outra, e em alguns torneios, com o Antonio Fernandez, o Pincho. 


 

 SN – E foi ao lado do Pincho que vocês chegaram as quartas de final do WPT, na etapa de Mijas, em Málaga. Este foi um dos momentos mais marcantes para você?
Bergamini –
Com certeza. Ganhamos os três jogos da pré-prévia, os dois da prévia, entramos no quadro, vencemos as oitavas de final, superando a forte dupla Maxi Grabiel e Agustin Gomez Silingo, e chegamos às quartas para enfrentar Cristian Gutierrez e Franco Stupaczuk, que, inclusive, foram campeões desta etapa. A gente sabia que era uma dupla muito forte e experiente, mas entramos no jogo com muita garra. O estádio estava lotado, era muita gente assistindo. E quando a dupla vem de baixo, a torcida acaba apoiando. E a cada ponto que a gente fazia, o público vibrava muito. Neste jogo, eu fiz jogadas que nunca tinha feito na minha vida. Foi um dia iluminado. Foi inesquecível. Depois desse torneio, nossos resultados não foram muito bons e o Lucas Campagnolo também não estava obtendo bons resultados com a dupla dele. Por este motivo, conversamos e resolvemos voltar a jogar juntos. As vitórias voltaram e alcançamos sete vezes o quadro principal. 

SN – Como você avalia essa temporada? 
Bergamini –
É uma mudança total de vida. Eu morava em Bento, treinava, dava aula de pádel, fazia faculdade e jogava alguns torneios. Quando fui para a Espanha, minha vida se tornou só pádel. Treinava de manhã, de tarde, nos finais de semana disputava torneios. Eu me via treinando com os melhores treinadores e jogadores do mundo. O Lamperti, que é uma lenda no esporte, tornou-se nosso amigo, por exemplo. Treinamos com a dupla número um do mundo, o Pablo Lima e o Fernando Belasteguin. Teve momentos ainda mais inesquecíveis, quando, por exemplo, começaram a pedir autógrafo para mim no final do jogo. Teve um menino que me acompanhou em Mijas em todos os jogos e ele me disse que eu era o ídolo dele. E mesmo estando vivendo tudo isso, parece que minha ficha ainda não caiu. Tem muita gente que vai para a Espanha para buscar o sonho de ser jogador profissional de pádel, mas que não consegue chegar aonde a gente já chegou. É tudo um grande sonho sendo realizado. 

 SN – E quais são seus projetos para a próxima temporada?
Bergamini –
Agora quero descansar, me recuperar desta temporada, que foi muito desgastante. Para se ter ideia, a gente disputou mais de 25 torneios em oito meses e eu costumava jogar 15 durante todo o ano. Em fevereiro ou março devo voltar à Espanha. Eu e o Lucas Campagnolo vamos seguir juntos na próxima temporada. Nosso objetivo principal é somar pontos para entrar no quadro principal do WPT. Sabemos que é difícil, mas vamos nos empenhar para alcançar. 

Texto: Raquel Konrad