Delegado Leônidas Costa Reis se despede de Bento

Depois de 12 anos atuando como titular da 1ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, o delegado Leônidas Costa Reis despediu-se do município e desde a última terça-feira, dia 13, está à frente da delegacia de Carlos Barbosa. A mudança aconteceu de forma repentina, mas atendendo a um antigo pedido do próprio delegado que, por motivos pessoais, preferiu voltar à cidade onde atuou pela primeira vez como delegado. A delegada Cristiane Pasche, até então plantonista na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), assumiu a função.

Em entrevista concedida ao SERRANOSSA, ele realizou um balanço dos 12 anos atuando como delegado em Bento Gonçalves. Entre as mais de cem prisões efetuadas, referentes ao tráfico de drogas, ele destacou duas operações. As iniciativas não resultaram em apreensão significativa de entorpecentes, mas trouxeram resultados positivos em função do número de pessoas presas e da repercussão delas na sociedade. A reforma da delegacia também foi lembrada por Reis. Em tom de brincadeira, ele comentou que algumas pessoas comemorarão sua saída, mas diversas outras sentirão sua falta. Confira a entrevista.

Jornal SERRANOSSA: Quando o senhor recebeu a informação sobre a mudança?

Delegado Leônidas Reis: A mudança foi oficializada na segunda-feira, dia 5. Como foi repentina, não tive tempo de concluir algumas investigações que estavam em andamento, mas saio com a sensação de dever cumprido. Foram 12 anos de muito trabalho, com doação total ao serviço. Não tinha horário para sair e virei quantas noites foram necessárias para resolver um caso. Entrego a delegacia toda reformada, com móveis novos e mais funcionários. Continuarei vindo à cidade para comparecer em audiências referentes a operações e apreensões que realizei. 

SERRANOSSA: Como estava a situação do tráfico de drogas em Bento, quando o senhor assumiu a 1ªDP?

Reis: O uso mais expressivo era de maconha e cocaína. Crack era muito pouco. Com tempo, o perfil foi mudando e surgiu uma legião de usuários de crack. Essa droga causa muito mais problemas à polícia. Isso por que os usuários não conseguem controlar o uso e o abuso, o que gera inúmeros outros fatos, como furtos e agressões, inclusive aos próprios familiares, em busca de dinheiro para compra e manutenção do vício. Viemos enfrentando essa mudança no perfil durante os últimos anos, e fazendo um trabalho de auxílio às famílias dos dependentes para tratamento, mas não deixamos de descuidar do lado da repressão ao tráfico. Hoje o uso do crack vem crescendo, assim como o de cocaína, que nunca diminuiu, mas andava ofuscada pelo crack.

SERRANOSSA: Como é feita a investigação?

Reis: Muitas das informações que recebemos são dos próprios usuários que falam sobre a atuação dos pontos de droga e como funciona a venda antes de iniciarem um tratamento. Além disso, aos poucos fomos conhecendo a forma de atuação de cada traficante local, o que facilitou muito as operações e, consequentemente, as prisões. As investigações minunciosas possibilitaram que fosse preso o patrão, o dono da droga, e não apenas o vendedor, como acontece quando é feita apenas a abordagem, sem uma investigação sobre como funciona o ponto de droga, quem atua, a mando de quem e quem é o chefe. Em alguns casos foram prisões repetidas e de membros da mesma família. O diferencial dos últimos tempos foram as condenações. Isso animou. As prisões em flagrante não foram casuais, mas frutos de uma investigação prévia, com coleta de dados. Dessa forma, o inquérito fica mais embasado e garante um convencimento maior e uma condenação mais pesada. O grande sucesso nas operações é resultado do apoio de diversos órgãos, como a Brigada Militar e outras delegacias da cidade e de outros municípios, com os quais foram realizados diversas operações em conjunto e com êxito.

SERRANOSSA: Quais foram as operações mais significativas nesses 12 anos?

Reis: Posso destacar duas operações que não tiveram grandes apreensões de entorpecentes, mas que foram excelentes em função da quantidade de policiais civis e militares envolvidos e da dinâmica empregada: a ocupação do bairro Eucaliptos e um trabalho específico feito no Vila Nova. A ocupação, no dia 12 de outubro do ano passado, envolveu 56 policiais militares e 12 civis, além de três delegados. Foram apreendidas armas, drogas e uma quantia em dinheiro. Dez pessoas foram encaminhadas à Delegacia de Polícia. A operação no bairro Vila Nova ocorreu no dia 3 de março deste ano e prendeu três pessoas que foram flagradas por filmagens da Polícia Civil e da Brigada Militar comercializando drogas no local. Ambas foram muito aplaudidas pela comunidade e só foram possíveis graças às informações recebidas dos moradores e usuários. 

SERRANOSSA: Como o senhor lidou com o número reduzido de funcionários?

Reis: A união de esforços foi essencial. Apesar da falta de funcionários na 1ª DP, sempre pude contar com a Brigada Militar. Nunca aconteceu de solicitar um apoio e não ser atendido prontamente. Os policiais não apenas eram deslocados para operações conjuntas, como nos prestavam um apoio importante repassando informações que chegavam através do 190. Isso sempre foi muito importante porque muitas pessoas tinham informações valiosas, mas não sabiam como chegar até a Polícia Civil. Então, acabavam entrando em contato com a BM. 

SERRANOSSA: Algum objetivo não foi alcançado?

Reis: Algumas operações que estavam em andamento não foram concluídas em tempo, uma vez que a mudança foi repentina. Gostaria de ter tido tempo de realizá-las. Talvez a minha saída seja festejada pela bandidagem, mas certamente as pessoas que colaboram e se acostumaram a ter contato comigo ficarão ressentidas com a minha transferência.

SERRANOSSA: O senhor gostaria de realizar algum agradecimento especial?

Reis: Quero agradecer o apoio de todos, especialmente CIC, Consepro, Brigada Militar, 6º Batalhão de Comunicações (6º BCom), Judiciário e Ministério Público, entre outros órgãos da cidade que sempre prestigiaram muito a 1ªDP e mantiveram esse vínculo.

Opinião dos amigos

“Estou trabalhando em Bento desde setembro de 2009, oportunidade em que conheci o delegado Leônidas. A partir daí, foram inúmeras as operações que realizamos em conjunto, prisões de delinquentes e apreensão de materiais ilícitos ou de procedência ilícita. O êxito das ações deu-se graças à investigação profícua do delegado e sua equipe, assim também como a fundamentação para que o judiciário expedisse os mandados de busca e apreensão, propiciando alcançar os resultados desejados. O sucesso do trabalho realizado pelo delegado é decorrência de muito conhecimento adquirido, dedicação e comprometimento, cujo resultado se traduz em excelência de serviço prestado na atividade de polícia, coisa rara nos dias atuais e que por certo sentiremos muita falta.” Capitão Reni Onírio Zdruikoski, do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º Bpat). 

“Trata-se de um profissional abnegado e extremamente dedicado no exercício da atividade policial. No período em que acompanhei o trabalho do doutor Leônidas, testemunhei seu incansável e incondicional esforço para combater o crime nesta cidade, com atuação destacada no combate ao tráfico ilícito de entorpecentes. Ele foi e continuará servindo de exemplo como profissional e como cidadão, honrando os quadros da Polícia Civil Gaúcha.” Sávio Vaz Fagundes, promotor de Justiça. 

Reportagem: Katiane Cardoso

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