Dentinho projeta Bento Vôlei “sem fronteiras”

Após duas décadas de carreira, Rafael Fantin, o Dentinho, deixou as quadras, mas não o voleibol. Assim como nos tempos de jogador, ele continua circulando no Ginásio Municipal, vestindo as cores do Bento Vôlei. A diferença é que o ex-ponteiro não se dirige mais ao vestiário, mas a uma sala com mesa, computador e telefone na sede do clube. Dentinho passou ao levantador Marlon a braçadeira de capitão da equipe para se dedicar exclusivamente à empreitada de diretor-executivo. Nesta entrevista ao SERRANOSSA, ele manifesta satisfação com a trajetória que construiu como jogador e entusiasmo no novo ciclo. Ainda que as responsabilidades sejam distintas como atleta ou dirigente, o propósito é o mesmo. Quando retornou ao clube, em 2013, Dentinho expressou voluntariedade para ajudar a tornar a sua cidade natal, um dia, reconhecida como a capital brasileira do vôlei. Como capitão do time, em duas temporadas, reconduziu o município ao seleto mapa dos dez que compõem a elite nacional. O desafio, agora, é levar o sonho adiante como dirigente.

SERRANOSSA – Foram 20 anos de carreira profissional, com passagens por clubes importantes do Brasil e da Itália. Ficou alguma frustração por algo não conquistado?

Dentinho – Tem muitas coisas que, se você pensar, poderia fazer diferente. Mas eu me sinto tranquilo por ter feito o possível em todos os momentos da minha carreira, disso eu tenho plena certeza. Sempre fui intenso e dei o meu máximo. Talvez, no dia seguinte, eu tenha imaginado que poderia ser diferente, mas aí foi por uma questão de opção que havia no momento. Eu tenho a tranquilidade de que ter feito o meu melhor em tudo. Logicamente, se for olhar, ficam alguns resquícios de frustração, como nunca ter vestido a camisa da seleção brasileira, muito embora tenha sido o melhor atacante em 2005 (da Superliga). Não ter tido essa possibilidade é um pouco frustrante, assim como aqueles jogos que foram perdidos no detalhe, com uma bola que você atacou na diagonal, quando poderia ter atacado na paralela. Porém, naquele momento, eu estava fazendo o meu melhor, então, eu tenho uma tranquilidade muito grande de colocar um ponto final na minha trajetória e estar bem comigo mesmo. 

SN – Seu último jogo (derrota para o Cruzeiro na final da Superliga B) foi em casa, com o ginásio superlotado, amigos e familiares nas arquibancadas e a concretização da volta do voleibol de Bento entre os grandes do país. Foi o final de carreira pretendido?

Dentinho – Olha, naquele jogo, só faltou a vitória. O profissional, de qualquer esporte, faz parte de um contexto em que nem sempre fazer o melhor é sinônimo de vitória. Como contexto geral, sim, foi fechar uma carreira com chave de ouro, porque eu tinha um projeto de vida, de carreira, e ele passava por isso. A partida foi para o quinto set, com o ginásio cheio, tinha tudo para ser perfeito. Mas eu acredito que nem tudo que não é perfeito é errado. Acho que eu consegui encerrar a minha carreira dentro dos meus objetivos, isso fica bem claro para mim.

SN – Aos 37 anos, você deixa a quadra, mas não o esporte. Porque escolheu virar dirigente?

Dentinho – Acho que eu nunca vou conseguir deixar o vôlei, na verdade. Eu posso estar trabalhando em outra área, mas o voleibol é uma “droga”, que vai estar sempre dentro de mim. É uma tatuagem que eu não vou conseguir tirar jamais. O esporte me deu tudo o que eu tenho hoje, e eu acho que é por isso. Tive a oportunidade de fazer parte de um grupo que apostou na retomada do Bento Vôlei, os meus sonhos foram ao encontro dos objetivos dessas pessoas, então, não tem por que eu sair. Estou contente com o que eu estou fazendo, vejo que está dando resultado. Ainda há muito a aprender, mas eu vou continuar, apostar e focar nessa nova fase. 

SN – Apesar da identificação com o clube onde iniciou e encerrou a carreira, você não conquistou nenhum título de expressão com o Bento Vôlei. Este é o principal desafio, agora, como dirigente?

Dentinho – Como eu falei, nem toda perfeição significa um estado de plenitude. Eu passei por alguns times em que não tive conquistas, mas saí mais satisfeito do que em outros, nos quais conquistei títulos. O Bento Vôlei é um clube novo, no contexto. Ele tem que crescer muito ainda, precisa aprender bastante, amadurecer, e aí eu tenho certeza que os títulos virão. Eu sempre fui em busca de títulos, isso sempre me motivou, e continuarei fazendo isso. Logicamente que não depende apenas de mim; há uma série de outros fatores, como o time que a gente está montando, aquilo que estamos proporcionando para a equipe e uma diretoria madura a ponto de cobrar isso também. Eu acho que a gente está no caminho.

SN – Após uma carreira bem-sucedida dentro das quadras, como você ambiciona, agora, a trajetória como dirigente do Bento Vôlei?

Dentinho – Bom, agora, fora de quadra, é uma nova vida, uma nova profissão, de muito aprendizado. Sinceramente, são muitas coisas novas que estão acontecendo, e eu não tenho ainda uma opinião formada sobre qual será, de fato, o meu foco. No momento, eu estou fazendo essa questão de gestão, supervisão do Bento Vôlei e aprendendo muito com as pessoas que estão em volta. A minha ambição é continuar fazendo esse trabalho, desenvolvendo o voleibol na cidade, fazer com que o nome de Bento não tenha fronteiras, desenvolvendo desde o social até categorias de base e alto rendimento, tentando profissionalizar cada vez mais o marketing, comunicação, contato com os patrocinadores, relacionamento… Logicamente que, no decorrer do caminho, eu vou tendo enfoques um pouco mais abrangentes, também respeitando a necessidade do clube.

SN – Qual é o papel do Bento Vôlei na sua vida?

Dentinho – Eu sempre tive uma paixão muito grande pelo clube que me formou. Com algumas pessoas que passaram por aqui, talvez eu não tenha tido muita afinidade, mas eu tenho que agradecer até mesmo a elas. Com outras, a maioria, eu tive uma afinidade muito grande, e tenho muito a agradecer. Tudo o que eu tenho hoje, na minha carreira, eu devo a esse berço que tive. Quando eu estava em outros clubes e retornava para jogar contra o Bento Vôlei, eu sentia um pouco isso, de estar voltando para a minha casa, e sempre tive um aperto maior no coração em jogar aqui, ver pessoas que iniciaram comigo sendo meus adversários. É um sentimento de eterno agradecimento, não só pelo clube, mas pela cidade. 

 

É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

Instagram: @serranossa

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.

Enviar pelo WhatsApp:
Você pode gostar também