Dentinho projeta vôlei em Bento e fim de carreira

Em 2013, o Bento Vôlei pôs fim a uma sequência de quatro temporadas sem participação em campeonatos adultos e, de cara, chegou ao vice-campeonato gaúcho, com a maior média de público da competição. Na sequência, retornou ao cenário nacional com a participação na Superliga B. A chama do voleibol, portanto, voltou a ser acesa, mas um dos responsáveis diretos por esse renascimento do clube almeja muito mais. Rafael Fantin, o Dentinho, já rechaçou propostas para atuar em equipes da primeira divisão e vem trabalhando em dobro com o sonho de ver, um dia, a cidade representar para o vôlei o que Carlos Barbosa representa para o futsal.

Nessa entrevista ao SERRANOSSA, o coordenador do clube e capitão do time também revela os desafios da dupla função e como planeja a aposentadoria.

SERRANOSSA – Na quadra, você é um jogador “raçudo”, que cobra muito dos colegas. Fora das quatro linhas, como é o Dentinho dirigente?

Quando se trata de esporte, é tudo mais rápido, a cobrança, a tonalidade de voz, a forma de agir dentro da quadra tem que ser um pouco mais rápida. Fora, sinceramente eu estou aprendendo, essa agressividade da quadra eu tento administrar. É um aprendizado diário com a diretoria, pego um pouco de cada um e vou tentando achar a melhor fórmula.

SERRANOSSA – Pensou, em algum momento, desistir da função burocrática?

Não, dificuldade eu sei que vou passar. Já passei, estou passando e vou voltar a passar em outros momentos. Mas desistir não faz parte do meu diálogo.

SERRANOSSA – Ao longo da carreira, você nunca escondeu a vontade de voltar um dia ao clube que o formou e ajudá-lo de alguma forma, o que acabou ocorrendo dentro e fora de quadra. Objetivo cumprido?

Não, bem pelo contrário, ainda falta muito. Acho que demos o primeiro passo, a semente está plantada e agora o trabalho é fazer crescer e cuidar dela. O primeiro objetivo, que eu nunca escondi, era voltar a Bento em atividade e recolocar o Bento Vôlei no lugar de onde nunca deveria ter saído. Mas dentre todas as metas, essa talvez seja a mais fácil. O mais difícil vai ser a manutenção dos patrocínios, a busca por novos apoiadores, toda essa parte burocrática e administrativa.

SERRANOSSA – Já planeja a aposentadoria como jogador?

Olha, tudo depende. Sinceramente, é um acúmulo de cargos difícil de conciliar, como atleta, como parte administrativa. O atleta tem uma demanda de descanso, físico e mental, que às vezes acaba atrapalhando a minha atividade como coordenador. Tem que ter uma cobrança como coordenador, outra como atleta, e às vezes essas situações se misturam.  Penso que, em um determinado momento, não sei se isso vai demorar ou se vai ser próximo, vou ter que decidir se continuo como atleta ou se entro de cabeça, 100%, como coordenador, supervisor, enfim.

SERRANOSSA – Que importância tem para você voltar a disputar uma Superliga pelo Bento Vôlei?

Olha, o valor de estar jogando hoje no Bento Vôlei, pra mim, é o mesmo se estivesse disputando uma Superliga ou um título. Se tivesse que encerrar hoje a minha carreira, eu estaria muito satisfeito de ter vestido de novo a camisa do Bento.

SERRANOSSA – É o encerramento de carreira que você projetava?

Eu sempre quis encerrar a minha carreira aqui em Bento, isso não é novidade para ninguém. A forma como vai acontecer, Deus vai trilhar. Sinceramente, estou muito satisfeito de estar aqui, muito contente de fazer parte dessa família Bento Vôlei, então, se tivesse que acabar tudo hoje, estaria muito satisfeito.

SERRANOSSA – Você se sente em condições de continuar jogando em alto nível por pelo menos mais uma temporada?

Como eu falei antes, a exigência de atleta é muito forte, muito intensa. Eu já decidi que nesses próximos dias vou diminuir muito minha carga como coordenador em prol das necessidades do time adulto. Preciso descansar, preciso estar mais focado dentro da quadra, isso eu já venho fazendo há alguns dias, mas daqui pra frente terá que ser mais ainda. Se tiver que jogar uma Superliga de novo, com certeza não vou poder juntar essas duas funções, por conta disso tudo. Vou precisar descansar, estar mais focado, a exigência vai ser maior, com certeza vai ser impossível fazer essa dupla função. Mas respondendo à sua pergunta, acredito que ainda tenho gás pra jogar mais uma Superliga tranquilamente.

SERRANOSSA – Como dirigente e jogador, então, essa é a única e última temporada?

Tudo é avaliado, não dá pra dizer que seja a única e a última, por que estou gostando de fazer. O que eu quero dizer é que é maçante, sabe. Então, dependendo da nossa situação para jogar uma Superliga, ou a gente traz um coordenador e eu me dedico apenas como atleta, ou traz um atleta para minha função e eu assuma como coordenador, porque fazer essas duas funções realmente é bastante puxado. Não é impossível, mas é bastante puxado.

SERRANOSSA – O Bento Vôlei é nacionalmente conhecido como clube formador, tem uma comunidade apaixonada pelo esporte e caminha naturalmente para voltar, cedo ou tarde, à elite do voleibol brasileiro. Onde mais pode chegar?

Olha, lá fora eu passei por poucos lugares onde a paixão pelo vôlei é como aqui em Bento. Então, gostaria que Bento fosse reconhecida mundialmente como a capital do vôlei, como é Carlos Barbosa para o futsal. O meu objetivo é levar Bento muito mais longe. Isso passa por uma soma de situações, uma gestão competente, uma ideologia arrojada, resultados logicamente serão precisos. É uma sequência de fatores que pode levar a cidade a ser a capital do vôlei. 

SERRANOSSA – Tem alguma cidade com essa alcunha no Brasil?

Não tem nenhuma cidade que é assim, tem algumas que gostam, que se identificam, Contagem (MG) tem o time do Sada, campeão mundial, mas é uma cidade que se tu for perguntar, talvez nem saibam que o vôlei é de lá…

SERRANOSSA – Em Bento há uma simbiose entre comunidade e clube… 

Justamente, é isso que a gente tem que aprender a valorizar. Muitos não sabem o valor disso tudo. Às vezes a gente fala que o Bento Vôlei atende 800 crianças no projeto social, mais 200 crianças na base, diretamente tem mais de mil pessoas envolvidas com o vôlei, sem tirar um real do bolso! Ou seja, ninguém paga pra jogar vôlei, e muitos se surpreendem: ‘Ah, é tudo isso?’ Pois é, é tudo isso. O Bento Vôlei é grande, só precisamos tentar fazer com que as pessoas vejam isso como diferente, que valorizem. Porque vamos dar valor a uma coisa de outra cidade se a gente pode valorizar o que é daqui?

SERRANOSSA – Você sente que falta essa valorização?

Eu sinto que às vezes a gente acaba valorizando outras coisas e não dá o valor necessário ao que tem aqui. Acho que temos que começar a valorizar um pouco mais o que é da casa, assim como o clube fez com os atletas de base, trouxemos de volta atletas que estavam fora, apostamos nos pratas da casa. Eu acho que falta um pouco disso, principalmente das pessoas que podem investir.  

 

Reportagem: João Paulo Mileski

 

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