Deputados pedem cassação de Luciana Genro por falas consideradas “antissemitas e xenofóbicas”

Na sessão ordinária de terça-feira, 10/10, a deputada gaúcha defendeu o povo palestino dos ataques provocados pela guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que ocorre desde o dia 07 de outubro e já matou milhares de pessoas, incluindo três brasileiros

Foto: Guerreiro/ALRS

O deputado estadual gaúcho Felipe Camozzato (NOVO) afirmou na manhã desta sexta-feira, 13/10, pelas redes sociais, que entrou com uma representação por quebra de decoro parlamentar, na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), contra a deputada Luciana Genro (PSOL). Os deputados Guilherme Pasin (Progressistas), Adriana Lara (PL), Rodrigo Lorenzoni (PL), Professor Cláudio Branchieri (Podemos) e Capitão Martin (Republicanos) também assinam o documento.

No vídeo, Camazzoto afirma Luciana Genro fez declarações preconceituosas ao se manifestar sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que ocorre desde o último sábado, 07 de outubro, e já vitimou milhares de pessoas, sendo israelenses, palestinos e de demais nacionalidades, incluindo três brasileiros.

“Isso é muito grave, além de ser um claro caso de antissemitismo e xenofobia, também versa em flagrantes desrespeitos ao decoro parlamentar e àquilo que prega o regimento e o código de conduta de parlamentares”, afirmou o deputado do NOVO.

“Além disso, através de suas declarações, ela chega a insinuar que o Estado de Israel comete crimes de nazismo contra o povo palestino e também grupos como o Hamas. Essas declarações elas são ainda mais graves quando a gente compara com o que a propaganda nazista efetivamente utilizava, tratando o povo judeu como um povo manipulador, comprador de políticos e mesmo um agente do mercado financeiro global, ou que influenciava teses e também comandava a sociedade. Vale lembrar que por declarações muito mais amenas do que essas, já tivemos parlamentares, no Brasil, cassados ou respondendo na Justiça por suas afirmações”, complementou o deputado.

O que Luciana disse?

Na sessão da ALRS do dia 10 de outubro, diversos deputados se manifestaram sobre os conflitos. Deputados de direita, como Camozzato e Lorenzoni, condenaram os atos terroristas do Hamas.

Em seu pronunciamento, Luciana Genro, que é a presidente do PSOL gaúcho, afirmou que o contexto histórico da região deveria ser levado em conta. “Eu estou disposta sim a reconhecer que o que aconteceu foi um atentado terrorista, desde que os senhores também reconheçam que o Estado de Israel é o Estado terrorista. É um Estado que se criou a partir de um ato terrorista e esse ato terrorista aconteceu, exatamente, há 75 anos, quando mais de 750 mil palestinos foram expulsos das suas terras e de dentro das suas casas. Mulheres, crianças, bebês, foram expulsos de dentro das suas casas, onde viviam tranquilamente nas suas terras, a partir de uma decisão da Grã-Bretanha de oferecer um lar para o povo judeu ali, sem consultar os palestinos. E não venham dizer que eu sou contra os judeus porque eu sou de uma família judia e os meus parentes morreram em Auschwitz [um dos maiores campos de concentração de judeus mantido pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial]. Eu tenho parentes que morreram em Auschwitz. Então não me venham com conversa de discriminação”, afirmou a deputada.

Luciana ainda criticou os colegas deputados que ocuparam a tribuna e defenderam apenas o povo de Israel. “É ignorância ou má fé de quem vem aqui falar em direitos humanos para os israelenses e se esquece dos direitos humanos dos palestinos?”, complementou. Luciana ainda destacou que “não adianta vir aqui dizer que é a favor dos palestinos e contra o Hamas. Eu também sou contra o Hamas. Eu não tenho nada a ver com o Hamas, nenhuma afinidade ideológica com o Hamas. E, aliás, se alguém disser que eu sou a favor do Hamas, eu vou processar.”

Um dos pontos criticados por Camozzato e que, segundo ele, teria motivado a representação entregue à Comissão de Ética, foi quando a deputada do PSOL afirmou que a comunidade judaica tem privilégios que beneficiam diversos setores da sociedade, incluindo os políticos.

“Vamos lutar pela paz, mas a paz não será construída simplesmente com discursos de repúdio a este ou àquele ato, ou de solidariedade a esta ou àquela vítima. A paz só pode ser construída a partir de um posicionamento claro de direito dos palestinos a ter o seu próprio Estado, a voltar para as suas casas, aqueles que foram expulsos e vivem refugiados em condições sub-humanas. É o único caminho da paz. O resto é demagogia. Sim, muitos estão se aproveitando dessa situação para fazer demagogia com a comunidade judaica, que é uma comunidade poderosa, muito mais poderosa do que a comunidade palestina no Brasil, especialmente aqui no Rio Grande do Sul, que tem meios de comunicação, que tem construtoras, que tem empresas, que tem dinheiro, que financia notas pagas para defender os seus interesses. E muitos aqui estão servindo a estes interesses, não aos interesses da paz, mas aos interesses políticos”, disse firme, mesmo que ao fundo alguns deputados gritassem palavras de ordem.

A deputada trouxe consigo diversas informações históricas sobre o conflito, destacando que o governo israelense se recusa a desenvolver um acordo de paz e que oprime o povo palestino numa espécie de apartheid (regime de separação racial ocorrido na África do Sul entre 1948 e 1994 – o apartheid privilegiava a elite branca do país e excluía os negros dos espaços públicos, da educação e postos de trabalho). Luciana ainda disse que os deputados ali presentes, que se manifestavam apenas a favor de Israel, “chancelavam o genocídio do povo palestino”.

“A única possibilidade de paz naquela região é se alinhando a luta palestina, o que não significa se alinhar ao Hamas ou defender os seus atos, mas também não significa justificar a brutal repressão e o genocídio que Israel está promovendo agora, neste instante, contra o povo palestino por causa dos atos do Hamas. Porque a população civil palestina está pagando essa conta e vocês, com este discurso que fazem aqui, estão chancelando essa mortandade, esse genocídio do povo palestino que ocorre há décadas e se intensifica agora. Gostem ou não, essa é a realidade. Vocês estão chancelando o genocídio do povo palestino”, finalizou.

Via assessoria, Luciana Genro se manifestou sobre o pedido entregue à Comissão de Ética da ALRS:

Com indignação recebi a notícia, pela imprensa, de que 6 deputados da extrema direita ingressaram com uma representação contra mim na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa.

A representação não se sustenta em pé, e inclusive configura crime de calúnia, ao afirmar que eu manifesto qualquer tipo de endosso ao antissemitismo, à xefonofobia e ao racismo. O objetivo dessa representação é intimidar qualquer manifestação de apoio ao povo palestino e fazer demagogia política com as bases da extrema direita, utilizando os métodos já conhecidos da mentira, da manipulação e do oportunismo político.

Essa representação absurda da direita não encontra nenhum respaldo jurídico e responde a interesses políticos poderosos com o objetivo de silenciar as vozes que se levantam em apoio à causa palestina.

Representantes de mandatos que votam sempre contra os direitos dos trabalhadores, que destruíram a carreira dos servidores públicos e que travam uma guerra ideológica contra todas as pautas progressistas em defesa dos trabalhadores, das mulheres, da população LGBTI+, da juventude e da negritude agora se voltam contra a deputada mais votada do estado numa tentativa de ganhar projeção política para suas bandeiras reacionárias.

Vamos tomar todas as medidas jurídicas, políticas e no âmbito da mobilização social cabíveis para combater essa tentativa absurda de silenciar a nossa voz.

Luciana Genro

Deputada estadual, presidente do PSOL-RS

Confira a sessão ordinária do dia 10 de outubro: