Desesperança

Extermínio, crueldade, destruição, corrupção. A lista de males é grande em se tratando do homem, desde que ele se denominou homem. No exercício fundamental de nos tornarmos sociáveis, o nosso pior lado nos acompanhou. Desesperança? Sempre tivemos. Prova disso são os milhares de anos registrados em livros, os quais descrevem o homem na constante luta contra si mesmo.

Bem, se não é de hoje a desesperança, qual seria a diferença em relação àquela de cem ou de mil anos atrás? Eis para mim o grande problema da comparação. Essa ferramenta tão fundamental que nós, seres humanos, desenvolvemos para nos ajudar a sobreviver é marcada por uma grande questão quase sempre imperceptível: saudosismo.

Tenhamos como exemplo o velho falando sobre o jovem, lastimando a deterioração das relações, a falta de convívio em comunidades, a morte dos princípios éticos e morais das gerações posteriores a esses “velhos”. Como definir o que é real nessas comparações e o que é apenas saudosista, nostálgico?

Veja bem: essa questão sobre a desesperança é de fundamental importância, por isso a necessidade de não confundirmos saudosismo – amor ao nosso próprio passado – com uma visão realmente clara sobre nosso presente em comparação com o passado em si.

Por que essa importância? Ora, quando você ou as pessoas que lhe cercam passam a necessitar de psiquiatras, quando você e outros milhões passam a ser movidos por Ritalina e Rivotril, quando ansiedade e depressão se tornam doenças “normais”, isso se liga inteiramente ao momento de…? Desesperança.

Determinar o ser humano em seu meio, perceber a forma com que ele lida com o mundo é a parte fundamental para a sociedade. Afinal, somos todos indiretamente sócios. Por vezes, a forma como as pessoas à nossa volta reagem é a forma como nós reagiremos. Quando falamos de desesperança, falamos da doença de existir sem sentir o propósito, da tristeza profunda, indescritível, injustificável. Novamente, quando vivemos uma epidemia de tristeza – a qual surge como sintoma para inúmeros outros males, logo precisamos entender de onde surge a desesperança.

Atrevo-me então a dizer que essa falta de esperança “atual” seja uma das maiores que já acometeu nossa espécie. Por que penso isso? Eis que surge o perigo do saudosismo: talvez eu apenas sinta isso por ser essa a única época que conheço, afinal, se vivi outras vidas, não lembro. Minha conclusão, então, não pode ser baseada na emoção, ela precisa ter algum fundamento. Quais seriam esses?

Vou diretamente para o que julgo mais importante: a facilidade da informação não gerando solução. Veja bem, antigamente, era mais fácil se perdoar a ignorância. Diziam muitos dos sábios que o mundo é cheio de gente medíocre e que elas são salvas por umas poucas que tiveram/têm acesso a mestres e, consequentemente, à informação. Mas, se no mundo atual a maioria de nós tem acesso à informação, como podemos lidar com o fato de parecermos cada vez mais alienados e burros? 

Se seguirmos cometendo os mesmos erros, tendo pela primeira vez a oportunidade de saná-los, é fácil concluir, então, que, em essência, o ser humano é burramente mau. Daí a maior desesperança, a falta de fé, a queda do mito de que o ser humano nasce bom ou mesmo que tenha cura.

Não precisamos ser gênios para saber onde dará essa estrada. Loucura, depressão, medicação cada vez mais forte para a tristeza constante. Tudo fruto dessa desesperança, do ser humano de frente ao espelho finalmente percebendo quem de verdade ele é.

E, para cada pessoa que aceita a mediocridade de não pensar, o mundo adoece mais um pouco, perde-se um soldado na luta contra a desesperança.

Após dito tudo isso, pergunto: você realmente pensa?