Dez anos depois, uma dor sem fim
No próximo dia 26, um dos mistérios mais emblemáticos da história policial de Bento Gonçalves completa dez anos. Nesse dia, em 2003, Kléber Giazzon, então com 17 anos de idade, saiu de casa e nunca mais voltou. A dor que a família enfrenta ainda é grande, mas é na fé e na esperança de que ele esteja em algum lugar em segurança que a mãe, a irmã e o pai reúnem forças para continuar a viver.
Kléber foi visto pela última vez por uma vizinha. Por volta das 14h daquele 26 de fevereiro de 2003, ele deixou sua casa, no bairro São Roque, e seguiu a pé em direção ao centro da cidade. “Eu tinha entregado a ele R$ 100 para comprar roupas no centro e ele nunca mais voltou. Não sabemos o que fazer, nem a quem pedir ajuda. Já faz tantos anos… Todos os dias eu rezo e peço a Deus que me mostre onde ele está”, relata Marilene Giazzon, mãe do rapaz, ainda bastante abalada. Na sala, a bíblia e diversos porta-retratos trazem a foto do garoto.
Os familiares lembram de um jovem caseiro, que não permanecia longos períodos fora de casa e, nas raras vezes em que acontecia, fazia questão de avisar onde estava e o horário de retorno. “Ele era um bom aluno, estava cursando o último ano do Ensino Médio, não tinha problema com ninguém. Procuramos nas coisas dele e não encontramos nada suspeito, nenhum bilhete que pudesse indicar que ele tenha fugido”, conta Marilene, entre lágrimas. Em seu desabafo, ela explica que não consegue entender por que ele desapareceu. “Não sei o que pode ter acontecido. Nunca esperei uma coisa dessas. Não desejo isso a ninguém, é um sofrimento que não tem fim. O tempo ameniza, mas não faz com que suma”, lamenta.
O quarto ocupado pelo rapaz permanece do mesmo jeito que ele deixou ao sair de casa naquele dia. “Não consigo perder a esperança de que ele esteja vivo. Porque, se fosse ao contrário, Deus já teria me mostrado que ele está morto. Isso é a pior coisa que pode acontecer. De repente a pessoa desaparece e não se sabe o porquê ou mesmo como isso aconteceu. Não se tem mais notícia”, conta. A fé é o que não deixa a esperança dos familiares morrer. “Houve épocas em que eu não dormia, só ficava pensando no meu filho, se ele estava bem ou sofrendo. É muito complicado aguentar tudo isso. Mas, como dizem, Deus só dá a cruz a quem consegue carregar. Minha devoção à Nossa Senhora do Caravaggio e o apoio da minha família é que têm me ajudado a aguentar isso há tanto tempo”, emociona-se.
Os Giazzon ainda moram na mesma residência e contam que, na época do desaparecimento, até o cachorro da família parou de comer. Ele tinha mais de 15 anos de idade e era bastante apegado a Kléber. Os momentos em família também perderam um pouco do brilho depois do que aconteceu. “Costumávamos fazer churrasco aos domingos para nos reunirmos. Agora, não há mais alegria”, desabafa a mãe, com a voz embargada.
Buscas
As buscas começaram logo após o desaparecimento do jovem e o registro do fato na Delegacia de Polícia. “Espalhamos cartazes por toda a cidade e ainda contamos com o apoio de amigos e familiares para divulgar em outros municípios gaúchos, além de Santa Catarina e no Paraná. A foto do meu filho foi mostrada em dois programas de televisão em rede nacional”, relembra a mãe.
A irmã de Kléber, Fabiana, conta que os colegas de escola e vizinhos também ajudaram nas buscas ao jovem, paralelamente à investigação feita pela Polícia Civil. “Conversamos com os colegas e nenhum deles soube dizer nada. Todos afirmavam que ele era um bom rapaz, calmo, tranquilo e que nunca se envolvia em brigas. Quando chegava uma nova pista, os vizinhos também ajudavam a procurar. Ligamos em todos os hospitais da região para verificar se tinham algum paciente com as características dele e saíamos nos finais de semana à procura do Kléber”, relata Fabiana.
Nos primeiros dias após o desaparecimento, os familiares receberam diversas ligações informando que o jovem havia sido visto em diversos lugares, mas nunca encontraram nenhuma pista verdadeira. “Na época, uma vidente informou que ele estaria no Rio das Antas. O Corpo de Bombeiros realizou buscas pelo local e não encontrou nada”, conta Marilene. Aos poucos as ligações foram diminuindo, até não acontecerem mais.
Atualmente, Fabiana utiliza a internet para divulgar fotos do irmão em buscas de pistas que possam auxiliar na localização. “Se alguém souber onde ele está, o que foi que aconteceu, que procure a polícia. Acredito que ele tenha ido com alguém, sozinho ele não faria isso”, conta a mãe. Ela ainda agradece a todas as pessoas que a auxiliaram nestes últimos anos e espera que alguém possa ajudar a esclarecer o que aconteceu. Os familiares contam que Kléber não possuía nenhum sinal de nascença, mas o que pode ajudar na sua identificação é uma cicatriz grande que possui no joelho, em função de uma queda de bicicleta quando criança.
Contato
Pistas que possam auxiliar nas buscas pelos desaparecidos podem ser repassadas à 1ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves (1ª DP), através dos telefones 3452 2500 ou 197 (gratuito). Não é necessário se identificar.
Outros casos
João Macir de Lima – Desaparecido desde 6 de junho de 2008
Na época, Lima tinha 47 anos de idade e, segundo familiares, foi visto pela última vez quando saiu de casa rumo ao trabalho. A investigação está a cargo dos agentes da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP). Diversas informações e pistas foram averiguadas, entretanto, nenhuma delas foi capaz de levar a polícia ao paradeiro de Lima.
Miriam Raquel dos Santos – Desaparecida desde 22 de dezembro de 2011
A dona de casa de 32 anos está desaparecida desde 2011. Miriam estava grávida e havia saído de casa, no bairro Progresso, em direção ao Centro, para buscar exames. Ela possui duas tatuagens, uma na perna, com o desenho infantil “Pikachu” e uma letra M, em um dos braços. A investigação está a cargo da 1ª DP.
Diecson Teixeira – Desaparecido desde 6 de fevereiro de 2012
O sumiço do jovem de 25 anos foi percebido somente no dia 9, quando o gerente da empresa da qual Diecson era empregado informou que ele não havia comparecido ao trabalho. A principal hipótese é que ele tenha desaparecido três dias antes. Buscas foram realizadas, mas sem resultados. A investigação está a cargo da 1ª DP.
Reportagem: Katiane Cardoso
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