Dia das Mães: um milagre de pouco mais de 700g

O dia 16 de agosto de 2014 marcou para sempre a vida da família Maia Santos: às 5h25, a primeira filha de Cláudia e Alcemar veio ao mundo, chorando a plenos pulmões. Mas nem de longe foi um parto normal. A gestação recém havia entrado na 25ª semana e o bebê foi considerado extremamente prematuro: Carolina nasceu com apenas 715g, 20 minutos depois do rompimento da bolsa. Mas não demorou muito para que ela mostrasse a que veio: era guerreira – e teimosa. Em seu primeiro Dias das Mães, Cláudia relembra os momentos da história de bravura e determinação que Carolina viveu (e ainda vive). “Passamos dez anos tentando engravidar e tivemos muitas complicações. Mas valeu muito a pena, hoje nossa filha é o nosso sonho realizado”, emociona-se.

Depois de uma gestação complicada em função de uma descoberta feita após engravidar – Cláudia foi diagnosticada com colo do útero curto – ela precisou ficar em repouso absoluto após o 4º mês. A previsão dos médicos era que Carolina nascesse com 30 semanas, mas a mãe entrou em trabalho de parto cinco semanas antes e o bebê veio ao mundo em agosto.

Foram 126 dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves. A mãe conta que, dia após dia, cada pequena vitória era comemorada como se fosse algo grandioso. “Os médicos nunca deram esperança, o que foi bom porque não criamos expectativas. Só nos orientavam a rezar. Sabíamos que era uma situação grave e que ela poderia não resistir. O medo era constante, mas a esperança também. Mãe de UTI fica obcecada com peso: qualquer 10g a mais é uma evolução”, relembra.

Hoje, aos oito meses, Carolina esbanja saúde: os 715g se transformaram em 6,2kg de pura fofura – e a mesma teimosia daqueles tempos de UTI. “A Carol tem um temperamento forte herdado da família [risos]. Ela só tem oito meses de vida – cinco meses na chamada idade corrigida [contados a partir da data em que ela deveria ter nascido] –, mas já sabe muito bem o que quer. Se não quiser colocar o sapato, não vai colocar”, exemplifica a mãe.

Essa “teimosia positiva” pôde ser percebida desde os primeiros momentos de vida. “Bebês prematuros costumam ser agitados, mas a Carol é mais inquieta ainda. Ela tinha 22 dias de vida quando arrancou os tubos de respiração. Cheguei à UTI e o médico disse que iria retirar o aparelho porque ela queria respirar sozinha, por mais estranho que isso pudesse parecer. E dito e feito: não voltou a ser entubada”, conta Cláudia, lembrando vários outros episódios semelhantes.

Carolina não apenas surpreendeu, como também conquistou os médicos. “Em quatro meses de internação, todas as notícias que recebi foram boas, mesmo nos primeiros dez dias, que foram os mais difíceis”, relembra. Isso porque ela nasceu com 715g, mas perdeu líquido e chegou a pesar 540g. “Ela já era muito pequena, não achei que pudesse ‘encolher’ mais. Foram os piores dias”, diz Cláudia, lembrando que fraldas tamanho RN tinham que ser dobradas de 2 a 3 vezes porque a parte que deveria ficar na cintura acabava cobrindo a região do peito.

Durante a internação de Carolina, Cláudia ia até seis vezes por dia ao hospital para tirar leite – a filha tomava 5ml de leite materno a cada duas horas. “Um dia, ligaram da UTI e eu pensei no pior. Corri para lá e tive uma surpresa. Era dia 8 de novembro, meu aniversário, e peguei a minha filha no colo e a amamentei pela primeira vez. Foi instintivo e inesquecível”, emociona-se.

Cláudia não sabe dizer de onde tirou forças para lidar com essa situação, mas garante que o apoio da família e a confiança na equipe médica fizeram toda a diferença. “Criamos laços de amizade com os profissionais da UTI. Elas merecem o nosso aplauso porque se dedicam muito e tratam os bebês como se fossem filhos deles. O apoio psicológico foi fundamental. Não foi fácil, eu chegava e ia embora chorando. Minha mãe acompanhava de perto, mesmo só podendo visitar a Carol uma vez por semana, durante 10 minutos. Ainda assim nunca deixou transparecer que estava insegura”, conta.

Acompanhamento constante

Receber alta da UTI é só o primeiro passo de uma longa jornada de acompanhamento constante. Hoje, Carolina é monitorada de perto por uma equipe multiprofissional – fisioterapeuta, fonoaudiólogo e pediatra – além de ter um calendário de vacinação diferenciado, com doses para aumentar a imunidade. “Ela não pode frequentar uma creche nem ter contato com outras crianças, ainda mais em épocas de frio, quando resfriados são comuns, pois tem baixa resistência por ter nascido de forma prematura. Dez dias depois que veio para casa, saímos com ela apenas um dia, para ir ao médico. Ela teve febre em seguida e a levamos para hospital. Havia contraído meningite e teve que voltar para a UTI. A imunidade dela estava tão baixa que qualquer vírus a atacava agressivamente. Por sorte a doença foi diagnosticada bem no início e conseguimos contornar”, conta Cláudia.

Incentivo a outras mães

Cláudia conta que a cada visita à UTI rezava olhando um mural com fotos de crianças prematuras que haviam resistido e hoje eram saudáveis. Embora Carolina ainda tenha um longo acompanhamento pela frente, ela faz questão de mostrar fotos e vídeos como forma de dar força para outras mães que enfrentem situações semelhantes. “Não desejo isso para ninguém, mas, se acontecer, quero que as outras mães saibam que não devem perder a esperança. A Carolina é um milagre que prova isso”, ressalta. As fotos e vídeos feitos semanalmente desde o nascimento foram disponibilizados para a médica para que possam ser mostrados a outros pais que também tiveram bebês prematuros.

Apoio fundamental

Além do agradecimento à equipe da UTI Neonatal e aos profissionais do Hospital Tacchini, Claudia e Alcemar salientam a importância do trabalho do Centro de Referência Materno Infantil (CRMI) e o apoio e profissionalismo dos pediatras Ivanir Zandoná e Elizabeth Meneguzzi.

Reportagem: Greice Scotton

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