Dia do Motorista: irmãos de sangue e de boleia
Para ser motorista de caminhão, não basta simplesmente estar habilitado. A profissão requer resistência física e emocional para aguentar as longas horas (que, na maioria das vezes, se tornam dias) de viagem, com os perigos que podem ser encontrados na estrada e a distância do lar. A liberdade que esse trabalho proporciona, porém, acaba encantando seus profissionais.
“Ser caminhoneiro está no sangue”, garante o bento-gonçalvense Olívio Bucco. Criado ao lado de quatro irmãos na localidade de Passo Velho, ele deixou a agricultura na propriedade da família para ser motorista em 1990. “Enquanto trabalhava na colônia, a gente se imaginava dirigindo”, lembra.
Na família, não era o único a sentir esse chamado ao volante. Antes dele, seu irmão mais velho, Orivan, começou a trabalhar na estrada. “Plantávamos mamão e, no fim dos anos 80, começou a aparecer uma peste. A terra da família não tinha trabalho para todos os cinco filhos, então optei pela profissão que não necessitava de estudo na época”, conta.
Cada um é proprietário do veículo que dirige: Orivan fazendo entregas para a Isabela apenas dentro do Estado, e Olívio transportando para a empresa Vinhedos em trajetos até Vitória (ES) ou Salvador (BA). Ambos, no entanto, compartilham do sentimento de receio quanto à insegurança nas rodovias. “Vi muitas transformações nas estradas ao longo dos anos. Na época dos pedágios, era tranquilo de trafegar de dia e à noite. Agora está muito ruim, a BR-470 nunca esteve pior”, avalia Orivan.
Essa situação das vias faz com que Olívio considere a possibilidade de deixar o serviço. Já foi assaltado duas vezes, aprendeu a lidar com os golpes de bandidos e a enfrentar os empecilhos do trabalho. “Às vezes, não temos onde parar para dormir ou tomar banho, alguns postos barram quem não é cliente”, cita o motorista. Entre as dificuldades enfrentadas na profissão, os irmãos apontam ainda a pouca valorização da classe, a falta de leis que os protejam, o preconceito que sofrem pelos outros motoristas, a necessidade de maior conhecimento em tecnologia, a burocracia para manter o veículo e, nos últimos meses, o preço do diesel.
A distância da família é outra barreira compartilhada pelos motoristas. Ambos casados, Orivan tem um filho de 18 anos de idade e Olívio duas filhas, de 22 e 19. “Quando paro em algum lugar e vejo famílias, principalmente com criança, o pensamento vem direto para cá”, conta Olívio. Antes de frequentarem a escola, suas filhas e esposa muitas vezes o acompanhavam nas viagens.
Apesar de tudo, as alegrias proporcionadas em todos os anos de estrada superam os pontos negativos para os dois caminhoneiros. Eles concordam que só a profissão traz liberdade, desprende de rotina e dá chance de conhecer novos lugares. “Quando era mais novo, achava que o mundo acabava em Porto Alegre. Ainda bem que descobri que não”, conclui Olívio, bem-humorado.
Dia de São Cristóvão
O Dia do Motorista é celebrado em 25 de julho em função da homenagem ao seu santo padroeiro, São Cristóvão.
Reportagem: Priscila Pilletti
É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.
Siga o SERRANOSSA!
Twitter: @SERRANOSSA
Facebook: Grupo SERRANOSSA
O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.