Disparos acidentais: uma culpa sem explicação
Diariamente são registradas inúmeras ocorrências envolvendo acidentes com armas de fogo no país. O último balanço divulgado é de 2010 e aponta que, anualmente, mais de 500 jovens dão entrada em hospitais como vítimas de tiros acidentais. Nos últimos dois anos, Bento Gonçalves registrou quatro casos desse tipo. Em todas as ocorrências, as vítimas foram crianças ou adolescentes. Especialistas afirmam que a maioria morre dentro da própria casa, onde se recomenda não guardar armas de fogo.
São muitas as causas para esse tipo de acidente, mas entre as principais estão a falta de treinamento, o desconhecimento de regras básicas de segurança no manuseio e a situação de estresse no momento do uso de armas. O resultado é quase sempre a morte ou ferimento de inocentes ou do proprietário do revólver ou pistola.
Segundo o comandante da 1ª Companhia do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º Bpat), capitão Evandro José Flores, a prevenção desse tipo de tragédia é complicada. “O que nos preocupa são as armas que estão circulando e caem em mãos não preparadas para manuseá-las. No caso de disparos acidentais é complicado, porque não temos como fazer a prevenção. Quem possui arma legalizada, ao menos pela regra, passou por treinamento. O problema são as ilegais e são essas que nós queremos apreender”, pontua.
O capitão lembra que muitas vezes armas legalizadas acabam caindo na mão dos bandidos. “Temos vários exemplos de colecionadores que são assaltados e muitas armas mudam de mãos, passando a colaborar com o mundo do crime”, lembra. Flores faz questão de frisar que, na maioria dos casos registrados na região, além do descuido está a falta de habilidade em manusear o armamento.
Para a Polícia Civil, não existe uma caracterização para disparos acidentais, já que a autolesão não configura crime. “Nesses casos não existe um crime determinado, o que é utilizado para tipificar é o homicídio culposo, quando não há intenção de matar”, explica a delegada Deise Salton Brancher, que responde interinamente pela 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Bento Gonçalves. Já o titular da 2ª DP, Álvaro Luiz Pacheco Becker, conta que todos os casos registrados na cidade já foram encaminhados para o Fórum. “As investigações já foram concluídas. Na maioria desses casos é concedido o perdão judicial, para o autor ou vítima”, conta o delegado.
Perdão Judicial
É o instituto por meio do qual o juiz, mesmo reconhecendo a prática do crime, deixa de aplicar a pena em circunstâncias excepcionais previstas em lei e que tornam inconvenientes ou desnecessárias a imposição da sanção penal ao réu. O juiz poderá deixar de aplicar a pena em face do sofrimento pela perda de um ente querido, por exemplo.
Orientações
Guarde a arma de fogo desmuniciada e longe do alcance das crianças;
Não deixe a munição guardada perto do revólver;
Ao descarregar ou carregar uma arma, ela deverá estar apontada para o chão ou em direção segura;
Jamais engatilhe seu revólver ou pistola se você não for efetivar um disparo e mantenha o dedo longe do gatilho ao transportá-lo;
Não faça disparo em direção a superfícies planas e rígidas, pois o projétil pode ricochetear;
Não aponte sua arma para um alvo que não pretenda acertar, mesmo que de brincadeira.
Casos em Bento*
18 de fevereiro de 2012: um adolescente de 12 anos de idade morreu depois de ser baleado na cabeça dentro de uma residência na localidade Passo Velho, próximo à Prainha da Amizade, às margens do Rio das Antas. Ele estava brincando com um amigo quando eles encontraram uma espingarda calibre 36, que pertencia ao padrasto de um dos garotos, que acabou sendo disparada. No momento do acidente, eles estavam sozinhos na moradia.
13 de setembro de 2012: uma criança de 11 anos morreu após ser atingida por um tiro na cabeça, no bairro Santa Marta. A vítima era colega de aula do morador da casa e teria ido ao local para realizar um trabalho. Ao revirar o sotão, o menino teria localizado um revólver calibre 38 e, ao alcançá-lo para o amigo, a arma disparou acidentalmente e o atingiu na cabeça.
5 de dezembro de 2013: um adolescente de 14 anos morreu após ser atingido por disparo acidental de espingarda de pressão. O fato aconteceu na rua Lajeadense, bairro Municipal. Segundo registro na Polícia Civil, um homem de 30 anos relatou que entrou na residência do jovem e acertou a cabeça dele acidentalmente.
6 de dezembro de 2013: uma menina de 11 anos de idade morreu após ser atingida por um disparo acidental. O fato aconteceu por volta das 21h30 na entrada da guarita da Corsan), na rua Herny Hugo Dreher, bairro Planalto, onde o padrasto da menina trabalhava como segurança. A autora do disparo foi a irmã da vítima, de 13 anos. Segundo a Brigada Militar, quando o padrasto deixou a guarita para atender a um telefonema, ela abriu a gaveta onde ele guardava a arma utilizada no trabalho e acidentalmente disparou, atingindo a vítima na cabeça. As duas haviam ido com a mãe até a guarita para levar o jantar para o vigia.
*Casos registrados entre os anos de 2012 e 2014. Compilação de dados a partir de informações e ocorrências da Brigada Militar, Polícia Civil, Samu e Corpo de Bombeiros.
Reportagem: Jonathan Zanotto
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