Docente da UCS, em seu doutorado, pesquisa sobre gastos com morbidade e mortalidade associados ao uso de medicamentos


 

Você já imaginou o custo que temos ao tomar um medicamento mal prescrito? Qual o custo da piora de uma doença por não tomarmos medicamentos corretos? Qual o custo de uma automedicação que, além do que pode causar em nosso organismo, gera a necessidade de novas medicações? O que isto representa, em gastos públicos – e pessoais – na área da saúde? Na busca por respostas a essas questões, o professor de Farmacologia dos cursos de Farmácia, Medicina e Enfermagem da Universidade de Caxias do Sul, Gabriel Rodrigues Martins de Freitas, realizou pesquisa para o seu doutorado – concluído recentemente – em Ciências Farmacêuticas pela UFRGS.

Com o título “Ensaios sobre os custos da morbidade e mortalidade associada ao uso de medicamentos no Brasil”, sua tese teve como objetivo obter uma estimativa, para o caso do Brasil, sobre os gastos com morbidade e mortalidade associados ao uso de medicamentos utilizando modelos farmacoeconômicos teórico e empírico. E, ainda, estimar o impacto econômico de uma doença para o Sistema Único de Saúde ou de sua prevenção. A pesquisa também buscou mensurar custos para tratar pacientes que chegam à emergência com algum tipo de morbidade relacionada a medicamentos, na perspectiva de um hospital universitário.

Orientado pela professora Dra. Isabela Heineck, com coorientação do professor Dr. Giacomo Balbinoto, a pesquisa foi realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre com pacientes que apresentavam algum problema ocasionado por um medicamento. O doutorando também realizou uma estimativa nacional dos custos e os relacionou com dados do Sistema Único da Saúde. Segundo ele, “o custo médio para tratar cada um desses pacientes é de aproximadamente R$ 2.200 na emergência. Reações adversas a medicamentos, falta de adesão à farmacoterapia e problemas resultantes da administração de doses incorretas foram as causas mais prevalentes das morbidades.”

De acordo com esta estimativa, as morbidades e mortalidades relacionadas ao uso de medicamentos (MRM) seriam responsáveis por um uso considerável de recursos, podendo chegar a 23% do orçamento público anual total destinado à saúde no Brasil: o professor estima que, anualmente, mais de 60 bilhões são gastos com morbidade relacionada a medicamentos. “Para cada real gasto com medicamentos, pelo Ministério da Saúde no Brasil, cinco reais seriam gastos para resolver as MRM. Da mesma forma foi verificado que mais da metade dos casos seriam evitáveis”, explica.

O paciente, ao procurar um médico, dificilmente sai do consultório sem a prescrição de um medicamento. E esta situação pode gerar quatro circunstâncias: o tratamento é realizado e cura-se a doença; pode-se curar a doença inicial, mas desenvolver-se uma nova; pode haver falha terapêutica e a enfermidade inicial não ser curada; ou, ainda, pode acontecer a falha terapêutica e o desenvolvimento de um novo problema. Nessas últimas, pode haver consequências como a cura sem necessidade de intervenção, passando por tratamentos adicionais e internações, até a morte.

Freitas conclui que “as MRM são, de fato, um problema de ordem econômica-orçamentária, clínica e humanística para os usuários de medicamentos e para o sistema de saúde brasileiro, e que é imperiosa a criação de políticas públicas e ações capazes de evitar os danos gerados pelo uso não racional de medicamentos, garantir a segurança dos pacientes, bem como uma melhor alocação de recursos em saúde”.