Dos 37 assassinatos cometidos em 2021, apenas quatro foram elucidados pela Polícia Civil

17 seguem em investigação pela 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP), 15 pela 2ª Delegacia de Polícia (2ªDP) e 01 pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM)

Bento Gonçalves chega ao fim de 2021 com a marca de 37 assassinatos registrados durante o ano – um aumento de 48% em relação a 2020. Para a comparação, entretanto, deve-se levar em consideração a pandemia da COVID-19, que restringiu a circulação da população e levou à redução de diversos índices, inclusive os de criminalidade. O total de 37 mortes violentas ainda é consideravelmente menor do que os registrados em 2019 e 2018, quando o município registrou 52 assassinatos em cada um dos anos. Para reprimir esses crimes violentos, foram realizadas diversas operações pela Polícia Civil e Brigada Militar ao longo do ano, com base no programa RS Seguro, do governo do Estado.

Mas além da força tarefa policial para coibir os homicídios, outra parte fundamental é a investigação e a punição dos responsáveis. Neste ano, quatro dos 37 assassinatos foram elucidados pela Polícia Civil – cerca de 10% do total. No município, as investigações se dividem entre a 1ª e a 2ª Delegacia de Polícia de Bento e a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Dos 37 homicídios, 18 ficaram a cargo da 1ª DP, 17 da 2ª DP e 02 da DEAM (feminicídios).

A 1ª DP é responsável por investigar todo o tipo de crime ocorrido em bairros da região Norte e Oeste do município (como São Roque, Centro e Tancredo Neves). Já a 2ª DP se encarrega das investigações relativas aos demais bairros (como Fenavinho, Municipal e Santa Helena). O município ainda conta com a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que atende crimes contra mulheres, crianças e adolescentes.

1ª DP

Sobre os 18 casos remetidos à 1ª DP, o delegado titular Renato Nobre Bias informa que apenas um dos homicídios consumados foi elucidado até o momento. O caso foi do jovem Rafael Scarton, de 19 anos, que foi morto com golpes de faca no dia 24/01, durante uma briga na rua Arlindo Franklin Barbosa, no bairro São Roque. Conforme o delegado, dois homens foram indiciados pelo assassinato. “Temos bastante dificuldade de obter informações por parte das vítimas e de possíveis testemunhas pelo fato de grande parte dos casos estarem relacionados ao tráfico de drogas. As pessoas não querem se envolver e se expor por receio”, comenta. Outra dificuldade apontada pelo delegado nas investigações diz respeito ao pouco efetivo da Polícia Civil. Em outubro, durante coletiva de imprensa, o delegado regional Cleber dos Santos Lima informou que está previsto para 2022 um incremento “de força de trabalho” para a região da Serra Gaúcha.

Ainda em relação às investigações na 1ª DP, Bias informou que outros dois inquéritos relativos a tentativas de homicídio também foram encaminhados ao Judiciário – no total, 16 desses crimes haviam sido remetidos à 1ª DP até as primeiras semanas de dezembro.

2ª DP

Dos 17 homicídios remetidos para a 2ª Delegacia de Bento, dois foram elucidados. Conforme o delegado titular, Rodrigo Morale, um dos casos remetidos ao Judiciário foi o do assassinato de Arleides Paulo de Ramos Nascimento, de 45 anos, cometido no dia 01/08 no bairro Pomarosa. No dia do fato alguns amigos estavam no quintal de uma residência quando dois homens chegaram atirando, atingindo a vítima. Na ocasião uma mulher e dois homens também foram atingidos por um disparo de arma de fogo, enquanto uma terceira pessoa teria saído ilesa. Dessa forma, os dois autores identificados pela Polícia Civil foram indiciados por homicídio doloso e por quatro tentativas de homicídio. Ainda segundo Morale, os acusados receberam prisão preventiva, sendo um deles preso no dia 06/08 e, o segundo, segue foragido.

Outro homicídio elucidado pela 2ª DP foi o de Orildo Maciel Machado, de 31 anos, esfaqueado no dia 31/07 após uma discussão em um bar no bairro Municipal. O homem chegou a ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. O autor das facadas se apresentou na Delegacia de Polícia no dia 02/08, acompanhado de seu advogado. Durante seu interrogatório permaneceu em silêncio. De acordo com o delegado, o autor foi indiciado por homicídio doloso e também foi preso preventivamente.

DEAM

Durante o ano, dois assassinatos de mulheres foram registrados em Bento Gonçalves. O primeiro deles foi da vítima Clessiane Castagnetti, de 28 anos, encontrada morta no dia 10/05 em um matagal no fim da rua Ettore Giovanni Perizzolo, entre os bairros Progresso e Humaitá. Clessiane era natural de Bento Gonçalves e não tinha registro de antecedentes policiais. Na ocasião, a polícia havia revelado indícios de que a vítima tenha sofrido enforcamento, por meio de um cadarço que foi encontrado amarrado em seu pescoço. Conforme a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Deise Salton Ruschel Brancher, esse homicídio – enquadrado como feminicídio – segue em investigação.

O segundo assassinato, também enquadrado como feminicídio, foi o da jovem Joana Fabris Deon, de 19 anos. Ela foi morta por disparo de arma de fogo no dia 17/07, no bairro Ouro Verde. Conforme a delegada, o suposto namorado da vítima, Paulo Eduardo Scaravonatto, também de 19 anos, foi indiciado como autor do crime. Ainda em julho, a delegada Deise informou que, durante depoimento, o homem alegou que o disparo teria acontecido acidentalmente, enquanto Joana manuseava a arma. “No entanto, os elementos de prova que apuramos no permitem concluir que o rapaz teve participação ativa para o resultado da morte”, afirmou Deise. Na ocasião, o jovem foi preso preventivamente.

Após a elucidação do caso, o inquérito foi remetido ao Poder Judiciário.