E as lembranças, como apagar?

Uma mensagem chata e insistente começou a surgir na tela do meu computador no mês passado: “Felipe, sua caixa de e-mail está quase cheia”. Por semanas essa mensagem me perseguia, cada vez com um novo número demonstrando que “meu espaço” estava acabando. Logo tais avisos começaram a surgir também no meu celular. Bastava eu acessar o e-mail e lá estava: “Felipe, sua caixa de e-mail está quase cheia”.

Nesta semana, eu então tomei coragem para, primeiro, pensar como faria tal limpeza. A lógica me deu uma ideia: apague os mais antigos. Assim, pesquisei e encontrei os e-mails mais antigos e teoricamente sem utilidade e foi quando percebi: minha procrastinação e insistência em não limpar tais mensagens não eram mera preguiça, mas também uma resistência a apagar o passado.

Logo de cara, um lindo e-mail de uma ex-namorada, palavras carinhosas, fotos nossas e um breve relato de um final de semana juntos, um final de semana que eu havia esquecido, mas meu mundo virtual não. Logo surgiu outro, e outro, então eu – que ali deveria estar apagando mensagens – estava selecionando o que apagar.

Na minha frente, uma coleção de momentos, palavras carinhosas, declarações e até pedidos de desculpa. Mais do que e-mails de propaganda, compras de passagens aéreas, negociações para vender algo, ali, entre esses arquivos, estava um pedaço da minha vida, um pedaço de outras pessoas que o tempo fez se perder, mas que não permitiu se apagar totalmente.

Quem são essas pessoas, hoje, para mim? Garotas que foram tão importantes, pessoas que ajudaram a moldar minhas escolhas, meu caráter, meu futuro. Como será que estão? Felizes com um grande amor? Receosas diante dos anos que passam e fazem crescer também algum vazio?

Entre essas mensagens também umas fotos de família, minha mãe e seu penteado diferente, meu pai e sua jovialidade que o convívio não permite vermos estar se perdendo.

Não, não é simplesmente apertar um botão e excluir. Ali, nesse canto obscuro e esquecido de um e-mail, moram histórias que nunca serão contadas. Como o meu reencontro com Fernanda, uma namorada que tive em 2013 e com a qual, um dia, em uma simples caminhada e discussão nunca mais falei. Ali estava o e-mail dela, um ano depois daquele fatídico dia em que nos separamos, uma mensagem perguntando como eu estava, se meus sonhos tinham se realizado. Eu me lembrei de nunca ter respondido aquele sinal de paz dela, das pessoas queridas que deixei sem resposta, do meu orgulho sendo mais forte do que meu perdão, das promessas que não cumpri e das que não foram cumpridas pelos outros.

Você pode se achar imune a esse efeito, mas um dia a mensagem “sua caixa está quase cheia” vai chegar para você também. Um dia você precisará abrir as gavetas do seu quarto, as pastas no seu computador, a caixinha onde guarda algumas fotos. Um dia você vai precisar limpar algo e encontrará ali um sinal de que o tempo está passando muito rápido e levando pessoas com ele, pessoas que você um dia acreditou que estariam para sempre na sua vida.

Um dia precisará limpar algo dentro de você e então perceberá que é impossível apagar tais momentos, pois eles são uma prova de erros e alegrias; dores e reencontros; medos e realizações.

E o mais engraçado disso é que a gente espera um dia estar pronto para deixar coisas para trás, mas, quanto mais o tempo passa, mais difícil ficar visitar o passado e simplesmente apagar.

É assim que percebemos o quanto esse passado é vivo e que, ao fim, nós também pertencemos, em parte, àquelas pessoas com as quais escrevemos nossa história.

Não são os e-mails que enchem, nem os computadores, nem os celulares ou as gavetas… somos nós. Nós que, com o tempo, nos enchemos de recordações e medos… medo de esquecer daqueles momentos e de sermos esquecidos junto ao tempo.