E vai continuar chovendo…

El Niño. Anote esse nome. Ele será responsável por um inverno atípico – menos frio e muito mais chuvoso – e com certeza vai interferir na sua vida nos próximos três meses, a exemplo do que tem ocorrido desde a madrugada do último dia 23. E as consequências vão além de ruas esburacadas, trânsito mais lento que o normal e inconvenientes causados pelos guarda-chuvas: vai afetar a sua casa. Se você tem secadora de roupas, prepare o bolso, afinal você vai usá-la muito e a conta de energia elétrica está 23,08% mais cara a partir deste mês. Se você tem lareira em casa, prepare o varal para secar roupa em frente a ela. Mas se você depende de “São Pedro” para os serviços domésticos que envolvem lavagem e secagem de roupas, prepare a sua criatividade. O clima não vai ficar muito diferente do que você viu na última semana – em Bento choveu 125mm entre os dias 23 e 30 de junho. Segundo a Embrapa, o normal para todo o mês é 157mm.

“As pessoas sempre olham para trás e tentam adivinhar o futuro. No entanto, o frio intenso do último inverno no Hemisfério Norte e o nosso último verão extremamente quente, em nada representarão o inverno que logo mais começará no Hemisfério Sul. Estamos com um evento fraco de El Niño em formação e isso será o suficiente para mexer com as condições do nosso inverno”, diz um boletim meteorológico do Climatempo. A previsão é de menos frio, com massas polares raras e muito mais umidade e chuva – o pior cenário é para agosto quando haverá muitos dias com tempo severo na região Sul. As condições melhoram a partir da segunda quinzena de setembro, quando a chuva diminui no Sul e se espalha para outras regiões. 


Caos no asfalto

Já é normal: basta chover alguns dias seguidos e a camada asfáltica das rodovias que circundam Bento Gonçalves começa a ruir. Os problemas estruturais, que geralmente afetam mais as vias com maior circulação de veículos pesados, como a RSC-470, desta vez atingem quase que a totalidade dos trechos. Entre Bento Gonçalves e Garibaldi, crateras se abriram e, nas “Curvas da morte”, entre os quilômetros 217 e 219, parte de uma das encostas desmoronou. O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) diz que a estabilização depende do clima e que obrigará a interdição total da via e o desvio do fluxo, ainda sem data para acontecer. Ainda segundo o Daer, o local apresenta risco de desmoronamentos maiores devido à obstrução dos dispositivos de drenagem. “A 2ª Superintendência Regional esteve no local e sinalizou o trajeto para evitar que os condutores fiquem muito próximos da encosta. Recomenda-se que evitem esse trecho da rodovia devido aos riscos de desmoronamentos em função da quantidade de chuva superior às médias normais. Tão logo as condições climáticas permitam, uma Equipe Operacional do Daer vai trabalhar na desobstrução da sarjeta, removendo o material que se encontra depositado sobre a pista”, diz um comunicado. 

A situação também é ruim na ERS-444, no trecho que corta o Vale dos Vinhedos, onde houve descascamento da pista em diversos pontos. Já na ERS-431 (em direção a Guaporé), os trechos não asfaltados estão ainda mais complicados do que o normal. A quantidade de buracos é tão grande que é praticamente impossível desviar. Motoristas como Jorge Matielo, que passa todos os dias pelo local, afirma que a estrada está pior do que nunca. “Isso é uma vergonha! Não aguentamos mais”, desabafou.


Agricultura

O clima muito úmido não deve provocar prejuízos diretos à agricultura. Até agosto, as videiras seguem em época de repouso vegetativo. Nesse período, as plantas precisam de muitas horas de frio (abaixo de 7,2°C) para uma perfeita brotação através da maturação das gemas e da diminuição de insetos e da quantidade de fungos patógenos que restaram da safra anterior. Segundo o secretário municipal da Agricultura de Bento Gonçalves, Thompsson Benhur Didoné, a principal preocupação com a chuva constante é em relação ao solo. “Culturas que perdem as folhas não sofrem tanto com as consequências da chuva nesta época. Entretanto, nosso relevo é acidentado e isso obriga os agricultores a trabalharem com uma boa cobertura de solo para evitar a erosão, que leva uma camada fértil. Isso inclui plantio de aveia ou grama, sobretudo debaixo dos parreirais, ou até mesmo vegetação nativa, como alternativa para quem não fez a cobertura na época indicada (março ou abril)”, orienta.

Entre as culturas que estão em fase de colheita ou de crescimento de frutos, como os citros, a preocupação é maior. Isso porque, além do mau tempo dificultar o processo de colheita, é necessário cuidado para evitar uma maior incidência de doenças fúngicas. Em Bento Gonçalves hoje existem cerca de 150 hectares desse tipo de plantação, a maior parte localizada na costa do Rio das Antas.


Surfe na Serra

Sempre que o nível do Rio das Antas sobe consideravelmente, a ponte de acesso a Cotiporã fica submersa. Desta vez, o volume de água foi tanto que a estrutura desapareceu e ondas chegaram a se formar. Prato cheio para aventureiros de plantão, como Fabiano Sperotto. Ele literalmente “surfou” sobre a ponte em um caiaque e até simulou uma brincadeira dentro de uma barrica de madeira ao lado dos amigos Ronaldo Garbin, Marco Sandrin Teta e Cassiano Tomazzini, com apoio e fotografia de Lucas Brunelli e Cassiane Garbin. “Ao menos a ‘ponte da vergonha’ serve para algo, foi uma onda sensacional”, escreveu em seu perfil nas redes sociais. 

Reportagem: Greice Scotton, Jonathan Zanotto e Raquel Konrad


É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.