Edvim Comiotto: reaprendendo a viver

Dia 10 de janeiro de 2006 ficará marcado para sempre na memória de Edvim Comiotto e seus familiares. Nesse dia, por volta das 22h30, quando conversava com a então namorada, ao lado do seu automóvel Gol, estacionado na rua Maximiliano Sonza, no bairro Progresso, foi abordado por três homens. “Eles logo anunciaram o assalto, me bateram e me derrubaram no chão. Foi então que deram três tiros em minha direção. Dois passaram, mas um me acertou e paralisou as minhas pernas”, relembra. A bala ficou alojada no meio dos pulmões. “Fiz tratamento para que criasse uma cartilagem ao redor dela, quando estava internado na UTI, para evitar que ela se movimentasse. Com esse tratamento foi descartada a cirurgia”, conta.

Comiotto relata que levou cerca de nove meses para se acostumar à condição de cadeirante. “Comecei a sair e percebi que existem pessoas em situação pior que a minha. Não parei mais. Depois disso, foi como ter nascido de novo. Vou para todos os lugares, desde que tenha acesso para deficientes”, enfatiza. Apesar de algumas pessoas terem preconceito, o que mais o deixa chateado é a falta de conscientização dos motoristas e a fiscalização por parte dos agentes de trânsito. “Tenho meu carro, adaptado, e é quase impossível estacionar em uma vaga destinada a deficiente físico no centro. Sempre tem um veículo sem a identificação e é muito difícil presenciar um agente no local, para multar”, desabafa.

Outro fator que o entristece é a indisponibilidade das pessoas em ajudar alguém que possua deficiência física. “Dificilmente quando se precisa subir no meio-fio ou entrar em um estabelecimento comercial cuja entrada tenha degraus, por exemplo, as pessoas ajudam só quando se pede um auxílio. Sempre que precisei, os que me ajudaram foram pessoas de mais idade”, relata.

Tratamento

Logo após ter ficado paraplégico, Edvim iniciou as sessões de fisioterapia em Bento Gonçalves e durante um tempo, realizava duas vezes por semana, em Porto Alegre. Atualmente realiza todos os exercícios em sua residência. “Aprendi a fazer alguns exercícios de fisioterapia no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, na última vez que fui. Lá os médicos me explicaram que talvez eu possa novamente andar, mas isso depende do avanço das pesquisa com células-tronco e embrionárias”, explica.

Com os tratamentos que realiza em Brasília, Edvim está voltando a ter um pouco de sensibilidade na parte inferior do corpo. “Sinto um pouco do frio, calor e do vento, mas ainda não tenho força para ficar em pé. Se eu colocar as talas nas pernas e com auxílio de um andador eu consigo ficar em pé, mas canso bastante”, conta.

Universidade

Em março um novo futuro começa a ser traçado na vida de Comiotto. Ele irá ingressar na faculdade de Direito. “Antes do incidente não pretendia fazer faculdade. Estava sem estudar há algum tempo. Escolhi Direito justamente para poder defender e reivindicar melhorias, para pessoas que estão na mesma situação que eu”, destaca.

Autores do crime

O trio que assaltou e atirou contra Comiotto, havia baleado Marcelo Meazzi, cerca de 30 minutos antes. Segundo depoimentos dos autores (dois adolescentes e um maior de idade) à Polícia, a intenção era roubar um automóvel. Eles haviam saído do bairro Ouro Verde e cometeram o primeiro crime no bairro São Francisco. Meazzi saía da garagem da casa do pai quando foi abordado pelo trio. Ele correu e foi baleado nas costas. Chegou a permanecer internado, mas não resistiu aos ferimentos.

O trio voltava ao bairro Ouro Verde, quando avistou Edvim e a namorada no bairro Progresso. O veículo foi roubado depois de Edvim ser baleado. Poucas horas depois, o automóvel foi encontrado incendiado às margens da RSC-470. Os bandidos foram presos oito dias após os dois crimes. Os menores foram encaminhados ao Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Caxias do Sul, onde permaneceram até atingir a idade limite. O adulto foi conduzido ao Presídio Estadual de Bento Gonçalves e posteriormente à penitenciária de Caxias do Sul, de onde está foragido.

 

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