Eles escolheram Bento para viver

A contagem populacional feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010 revelou que 45,21% dos moradores de Bento Gonçalves não são naturais do município. Só entre 2008 e 2009 houve um crescimento de 8.585 residentes, uma média de 4.292 novos habitantes por ano ou 178 a cada mês. Os dados impressionam, mas não surpreendem quem vive aqui. Afinal, é comum encontrar pessoas “de fora” vivendo na cidade. O SERRANOSSA conversou com três migrantes, de diferentes lugares do Brasil, para relatar suas vivências e falar dos motivos que levaram a escolher Bento Gonçalves para viver.

“Percebi que Bento era bacana para estudar e trabalhar”

Quando Vinicius Carvalho, hoje com 33 anos, chegou em Bento, há 14 anos, não imaginava que aqui abriria sua própria empresa e constituiria uma nova família. Natural de São Paulo, Carvalho morava em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, ao lado de seu pai. Resolveu passar uma temporada com sua mãe, que já vivia em Bento há três anos, e nunca mais voltou. “Percebi que a cidade era bacana para trabalhar e estudar”, revela. Hoje ele tem sua própria empresa, a Attitude Positiva, agência que atende os principais segmentos da região.

Pai de Bernardo, de três anos, e marido de Karina Celant, o empresário coleciona amigos na cidade. Questionado sobre o que mais gosta, Carvalho é enfático: “O clima. Costumo dizer para os meus amigos do Rio que Bento é um dos poucos lugares do Brasil em que temos as quatro estações bem definidas e isso é um privilégio”. Entre o que precisa melhorar, ele cita o trânsito. “Acompanhei todo esse crescimento de veículos nas ruas e percebi que nosso trânsito parou no tempo. Embora não faltem esforços dos governantes municipais, as mudanças não têm surtido efeito. Um transporte público de qualidade poderia amenizar essa situação”, sugere.

No aniversário de Bento ele só tem a agradecer. “Sou um homem de sorte por ter o privilégio de morar nessa cidade tão promissora e acolhedora. Parabenizo a cidade pela sua linda história e progresso”.

“Gosto da sensação de segurança e tranquilidade daqui”

O sotaque não engana. Karinny Pereira Matias, de 29 anos, não é daqui, nem é gaúcha. Ela chegou em Bento há sete anos, quando saiu de Olinda, Pernambuco, para acompanhar o marido, militar de carreira, transferido para atuar no 6° Bcom. Logo no início, Karinny, que é fotógrafa, revela que a relação com a comunidade local foi frustrante. “Foi um choque cultural muito grande. As diferenças de comportamento, trato pessoal e valores são imensas. Foi muito difícil a adaptação, mas atualmente já sei lidar com as diferentes situações e pessoas”, conta.

O que ela mais gosta em Bento é a sensação de segurança e tranquilidade que a cidade passa. “Aqui também é muito limpo, arborizado e valorizo também as oportunidades profissionais que nos são apresentadas. É ideal para trabalhar e prosperar”, cita. Karinny, no entanto, lamenta o que ela chama de “transporte público superprecário e caro”. “É um absurdo as pessoas conviverem com isso achando que é normal”.

De acordo com ela, a principal diferença entre Olinda e Bento é o trato pessoal. “Na minha terra, calor humano é tudo. As pessoas se amam, se gostam, se ajudam. Em Bento sinto que, ao contrário do que os bento-gonçalvenses dizem, a comunidade não é receptiva e por vezes é pouco educada com os novos moradores e com os turistas”, lamenta a fotógrafa que também critica a pouca oferta de atividades culturais. “Para mim, uma vida perfeita seria acordar e vir trabalhar em Bento, após regressar à Olinda, para repousar e desfrutar da companhia dos amigos e família”, confessa. 

“Por ser umacidade pequena,é mais fácilencontrar comos amigos”

André Peres Jr, 27 anos, é natural de Santos, São Paulo, e morou por muitos anos em Goiânia. Mas foi em Bento que “se encontrou”. Há quase nove anos ele desembarcou na cidade para cursar a faculdade de Enologia. Já formado e empregado, ele não quis voltar. “Sempre fui muito bem recebido pelos habitantes de Bento. Com o passar do tempo, fui construindo amizades fortes e hoje posso dizer que tenho uma família entre amigos”, confessa.

O que mais gosta na cidade é a facilidade para encontros com as pessoas. “O fato de ainda ser uma cidade pequena torna fácil o encontro entre amigos e os passeios. Além disso, é uma região maravilhosa. Hoje, se você andar cinco quilômetros fora da área urbana, para qualquer lado, estará em um local de belas paisagens”, comenta. O que André lamenta é a falta de planejamento na cidade. “Bento não pode crescer na velocidade que cresce sem um plano diretor rígido, que questione principalmente a mobilidade urbana. Hoje diversos bairros contam com um único acesso, sem alternativas em caso de trânsito intenso”, comenta.

O momento mais marcante dele em Bento está guardado na memória, inclusive a data. “No dia 1° de maio de 2011, um grupo de grandes amigos se juntou para fundar um clube que se tornaria minha segunda família na cidade: o São Cristóvão, que tem me proporcionado grandes alegrias e um sentimento de união que nunca tinha sentido antes, o que me fez criar um forte laço com esta cidade”, afirma André, que não pretende ir embora daqui. “Desejo, com todas as forças, que esta cidade continue com essa capacidade de abraçar as diversidades e que cada vez mais respeite aqueles que vieram e vem para transformá-la. Que esse espírito comunitário que já é presente em distritos e bairros mais antigos seja reproduzido pelos bairros mais novos, e que as pessoas que ali vivem consigam construir o seu futuro e o de seus vizinhos, amigos e toda a comunidade”, conclui.

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