“Eles gostam de experimentar”, afirma especialista sobre o crescimento do empreendedorismo jovem
Segundo ela, o crescimento do empreendedorismo jovem tem a ver com o alto índice de desemprego, diferença entre gerações e a não adequação com trabalhos tradicionais
O mercado de trabalho do Brasil tem mudado consideravelmente nos últimos anos. Com uma taxa de desemprego de 11,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cada vez mais pessoas têm buscado alternativas para manter a renda e deixar as contas em dia. Isso vai ao encontro do crescimento exponencial de jovens empreendedores, que cada vez mais têm deixado de lado empregos e funções ‘tradicionais’ para se arriscar em novos nichos de mercado.
Segundo relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizado com apoio do Sebrae e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), 59% dos brasileiros desejam ter o próprio negócio. Sendo um sentimento ainda mais forte nos jovens.
De acordo com a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, o ‘fenômeno’ do empreendedorismo jovem pode ser visto por três ângulos. “Do ponto de vista econômico, o jovem vem sofrendo com o desemprego. Ou seja, a entrada do jovem no mercado formal de trabalho está cada vez mais se deteriorando, seja pelo baixo salário combinado com áreas não muito atrativas para jovens, seja pela falta de perspectiva de crescimento profissional”, afirma.
Outra questão é o fator geracional. Segundo Lodonha, essa geração multifunção está descobrindo novas formas de empreender e não tem mais interesse de ficar 20, 25, 30 anos na mesma empresa. “Não se adapta a trabalhos repetitivos, com horários determinados, cumprimento de metas, entre outros aspectos”, destaca. Para ela, a capacidade de seguir em frente na vida profissional é algo ainda mais forte. “O jovem gosta de experimentar, não tem apego, se perde o interesse por algo, desiste e procura outro trabalho”, avalia.
Esse foi o caso do jovem casal Bruna Dal Castel e Cristian Tillwitz, ambos com menos de 30 anos, que em abril de 2022 abriram a Dal Castel Celulares, uma loja de assistência técnica de celulares e venda de acessórios na cidade. Segundo eles, a ideia de abrir o negócio partiu do sentimento de não se encaixar em seus antigos empregos. “Sentíamos que dávamos mais do que recebíamos, e também pensamos em canalizar nossa dedicação e energias para o nosso lado, para um negócio próprio”, afirma Bruna. Ainda segundo ela, a independência e a flexibilização da rotina de trabalho os motiva para trabalhar, afinal, os resultados virão apenas de seus próprios esforços.
Para a empreendedora, a sua geração quer e busca por autonomia para comandar os negócios da forma que melhor entende, sem amarras a velhos costumes. “[Os jovens] sentem que têm bastante potencial para crescer mais, onde em uma empresa muitas vezes não proporcionam este crescimento desejado, ficando limitados”, pontua.
Autonomia e pensamento criativo foram os combustíveis necessários para que a designer de Moda Milene Couto de Lima, de 24 anos, desse um passo a mais. Unindo sua paixão pelo trabalho manual e a natureza, nasceu a Curi Ateliê, espaço que, por meio de algumas técnicas de tingimento natural, tem o objetivo de ajudar a divulgar formas mais ecológicas de produzir, consumir e usar a moda. De acordo com Milene, o mundo fashion é um campo que cada vez necessita de ideias que pensam na natureza antes do consumo. “O mercado da moda precisa muito de mais marcas inclusivas, sustentáveis, artesanais e artísticas”, destaca.
No campo empresarial, ela ainda se diz novata, mas com um pensamento consciente do caminho que deve trilhar nos negócios. Para a jovem estilista, sua geração quer, acima de tudo, liberdade. “Buscamos mais propósitos em nossas ações e montar um negócio com causas em que acreditamos melhora muito os trabalhos do dia a dia”, destaca. E a liberdade no trabalho, gerando resultados mais satisfatórios, é uma realidade. “Não é que eles [jovens] sejam irresponsáveis, na verdade, quando realizam trabalhos que gostam, eles se dedicam de forma integral e podem obter excelentes resultados financeiros”, afirma a coordenadora do Observatório do Trabalho.